O que é codependência
para quem a “sente na pele”
Por Karen Calado
Voluntária de Amor-Exigente de Rio Claro-SP
Defino a codependência como uma maneira doentia de
viver e amar, onde fazemos tudo errado com a melhor das intenções.
Na dependência química, a codependencia acaba se
apresentando meio que misturada com a rotina desordenada e problemática do
dependente. É como se fosse um espelho, um jogo de ação e reação.
Apesar de estarem intimamente ligadas e poderem ser
agentes de apoio na recuperação uma da outra, elas podem sim, acontecer
separadamente, em tempos diferentes.
Mas vale lembrar que a abstinência das drogas do nosso
dependente não nos livra automaticamente da codependencia.
Por tratar-se de comportamentos e sentimentos
cultivados por longos períodos, e é preciso tempo e perseverança para a recuperação.
É necessário também
que a transformação ocorra em nós. É necessário que a
mudança venha de dentro para fora.
O transtorno da codependência deve ser tratado com a
mesma seriedade que a dependência química, num processo de auto conhecimento,
rendição e aceitação.
Também como a dependência, a codependência é vivida em
fases.
Numa primeira fase, o codependente nega tudo aquilo que
todas as outras pessoas já perceberam. Acredita que seu desiquilíbrio emocional
é fruto de muito trabalho, que
sua falência financeira é decorrente do baixo salário,
que os acidentes frequentes são por causa da stress do dia a dia. Colocam-se
ainda na posição de super heróis, e negam suas fragilidades. Nessa fase é muito
comum encontrarmos codependentes acamados. Ou ainda se colocam na posição de
coitados, se sentindo injustiçados e não merecedor de paz e felicidade.
Enquanto o codependente está
na fase da negação, o dependente está avançando no
processo da sua adicção.
Se não for tratada, a codependência também é
progressiva e pode ser fatal. O codependente também precisa de tratamento para
o resto da vida, pois é no tratamento contínuo que vai acontecendo o progresso
da recuperação.
Um dia após o outro, o codependente necessita esvaziar
os fardos das dificuldades e enchê-los de coisas boas como autoestima, alegria
de viver.
No que se refere ao comportamento do co-dependente com
o dependente, ele costuma inicialmente, assim como faz com sua própria doença,
negar os fatos. Nega a
doença do ente querido e pode até fazer inimizades com
pessoas que tentarem lhe abrir os olhos.
Depois parte para a fase do desespero. Fica
enlouquecido. Geralmente é uma fase de muitas lágrimas, gritos e agressividade.
Passada a fase do desespero, o codependente tende a
entrar na fase da facilitação. Facilitam a vida do dependente ao máximo para
tentar diminuir os danos. Nem é
necessário dizer que nada disso irá funcionar. Muito
comum então é que os co-dependentes iniciem um processo de depressão. Uma
angustia muito profunda,
muitas emoções negativas, desejos de desaparecer , ou
desaparecer com o dependente.
O codependente vive nos extremos da apatia ou da
agressividade, por não saber como controlar seus sentimentos, como direcionar
de maneira acertiva suas ações.
Por isso, precisa aprender a controlar a impulsividade
e as emoções, agir de maneira racional, a caminhar no meio termo, na média das
emoções.
Para iniciar o processo de recuperação da codependência
é preciso tirar as máscaras e deixar de viver de disfarce, chorar nossas
angústias, falar dos nossos
medos, admitir que também somos doentes e que
precisamos de ajuda. É a fase da aceitação.
Somente agora é o momento do tratamento e inicio da
recuperação.Basicamente a codependencia requer os mesmos cuidados da
dependência. Para nos mantermos em
pé, é necessário aumentarmos os fatores de proteção e
diminuirmos os fatores de risco.
Ser codependente nos coloca numa posição extremamente
dolorosa, e como ninguém gosta de sentir dor, queremos um alívio imediato, um
cessar da dor num passe de mágica. Mas é necessário entender e aceitar que é um
processo longo e lento, onde se avança um degrau de cada vez, com perseverança,
paciência, força, fé e alegria.
Eu sou uma codependente em recuperação e posso afirmar
que o caminho não é fácil, mas é imensamente gratificante. A recuperação me faz
crescer a cada dia como
ser humano, me faz entender o quão era importante ter
vivido todas as dificuldades e agradecer a Deus por ter me escolhido para essa
posição. Agora sei que tudo que vivo
e vivi não tem um “porquê” , mas um “para que”!