sábado, 25 de fevereiro de 2012


A tragédia das drogas legalizadas

Recentemente o governo federal lançou um programa nacional de combate ao crack.
A droga já é considerada como epidemia e, portanto, necessita ser enfrentada como tal. São várias ações públicas que irão envolver mais de R$ 4 bilhões de investimentos. Afinal, 89% das cidades brasileiras enfrentam problemas com drogas.

Segundo o estudo sobre morte por drogas – legais e ilegais – do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, o uso de drogas matou 40.692 pessoas no Brasil entre 2006 e 2010. Uma média de 8 mil óbitos por ano. Mas o que chama atenção é o papel das drogas legalizadas. O álcool segue sendo o campeão na mortandade.
O levantamento é feito com base nos dados compilados pelo Datasus. Entre as drogas legais, a bebida tirou a vida de 34.573 pessoas – 84,9% dos casos informados por médicos em formulários que avisam o governo federal sobre a causa da morte nesse grupo da população. Em segundo lugar aparece o fumo, com 4.625 mortos (11,3%). A cocaína matou pelo menos 354 pessoas no período.
De acordo com a pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios, na comparação por gênero, há mais registros de morte de homens por álcool e fumo. Em cinco anos, 31.118 homens perderam a vida por causa da bebida. Outros 3.250 morreram em casos associados ao hábito de fumar. Por isso todas as legislações restringindo o fumo são bem vindas.
Na comparação por Estados, Minas Gerais lidera o número de mortes por álcool, com 0,82 mortes para cada 100 mil habitantes, seguido pelo Ceará, com 0,77 mortes/100 mil pessoas. Depois aparece Sergipe, com 0,73/100 mil e São Paulo com 0,53 mortes para cada 100 mil habitantes. Quando a causa da morte é o fumo, o campeão de mortes é o estado do Rio Grande do Sul. A taxa de óbitos pelo tabaco chega a 0,36 para cada 100 mil. A seguir aparecem Piauí e Rio Grande do Norte, ambos com 0,33/100 mil.
A duas principais drogas legalizadas – álcool e fumo –, juntas mataram 39.198 pessoas em cinco anos: 96% do total. Mas estes dados ainda são preliminares e podem aumentar. O preenchimento das fichas para informação não é simples e o sistema tem casos de mortes nos quais é informada no formulário mais de uma droga associada à morte.
O próprio Ministério da Saúde explica que os números de 2010 podem sofrer alterações. De acordo com o ministério, entre 2006 e 2009 foram notificados 31.951 óbitos com causa básica de consumo de álcool, fumo e substâncias psicoativas, como cocaína e alucinógenos. Os óbitos de 2011 só serão conhecidos no final deste ano.
O governo, como um todo, vem se dedicando a enfrentar o grave problema das drogas. São ações que exigem sintonia fina entre os ministérios afins, harmonia na execução destes programas e, sobretudo, um fortalecimento no policiamento de fronteiras. Esta é uma medida sem a qual estaremos andando em círculos. Quanto às drogas consideradas legais é preciso aumentar as campanhas condenando o uso das mesmas.

Pesquisa revela por que o álcool vicia.
Revista Exame
Pela primeira vez, estudo feito com seres humanos comprova que vício em álcool está ligado à liberação de endorfinas no cérebro.

Um estudo realizado pela Ernest Gallo Clinic e pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, esclareceu o mecanismo do vício em álcool. Pela primeira vez, ele comprovou em seres humanos que a liberação de endorfinas, substâncias que o cérebro produz responsáveis pelo prazer, é a principal causa do problema.

Os estudiosos identificaram ainda as regiões do cérebro onde a endorfina é liberada. Até hoje, as experiências só haviam mostrado os efeitos da bebida em animais, sem grande detalhamento. De acordo com a pesquisa, publicada no periódico Science Translational Medicine, as endorfinas são liberadas nas regiões cerebrais do núcleo accumbens, ligado ao prazer, e do córtex órbito-frontal, parte do córtex pré-frontal responsável por processos cognitivos e de tomada de decisão.
Os testes foram feitos em dois grupos, um com 13 alcóolatras e 12 bebedores ocasionais, que se submeteram a tomografias para verificar a atividade cerebral durante o consumo de álcool. Assim, eles perceberam que, além de dar prazer, a bebida é capaz de modificar o cérebro de quem bebe regularmente, proporcionando cada vez mais prazer e, por consequência, levando à dependência.
Os estudiosos chegaram a essa conclusão ao ver que, quanto maior a quantidade de endorfina liberada no núcleo accumbens, maior era a sensação de prazer em ambos os grupos. Mas, quanto mais liberada no córtex órbito-frontal, mais o grupo alcoólatra ficava embriagado, fato que não ocorreu no grupo de bebedores com menor frequência.
Essa novidade pode ajudar na criação de novos remédios para tratar o alcoolismo com mais eficácia do que a naltrexona, usada atualmente para combater o vício. Segundo os pesquisadores, o problema desse medicamento é que ele não bloqueia as substâncias prazerosas liberadas apenas pelo álcool e, por isso, muitos pacientes abandonam o tratamento por causa da sensação que o remédio causa. Ao descobrir onde a dependência começa, poderá ser mais fácil encontrar um fim para ela.



Mistura de Valium, Xanax e álcool matou Whitney, diz site

A causa da morte da cantora Whitney Houston teria sido a mistura dos remédios Valium e Xanax com álcool, segundo site "RadarOnline.com".
A polícia encontrou os dois medicamentos no quarto onde Whitney foi encontrada morta com o rosto embaixo d'água na banheira de uma suíte do hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, no dia 11.
"Whitney tinha tomado Valium, Xanax e álcool, que levou à morte. O legista está esperando os resultados finais de toxicologia para determinar qual dos três foi o principal fator de sua morte", afirmou uma fonte próxima do caso ao site.
"O legista vai examinar atentamente o álcool presente no sangue de Whitney no momento em que ela morreu também. Os sedativos e o álcool são quase certamente a causa da morte, e não afogamento. Seu coração parou de bater porque o seu sistema respiratório foi suprimido pelos medicamentos ansiolíticos, e combinado com a bebida, o que provavelmente aconteceu muito rapidamente."
Ainda segundo o site, os últimos dias da cantora foram marcados pela briga que ela se envolveu com uma mulher em uma boate em Hollywood. A cantora achou que a mulher estava dando em cima de seu namorado, Ray J.
A diva pop saiu da boate naquela noite despenteada, embriagada e com sangue escorrendo pela perna. Testemunhas disseram que Whitney estava bebendo muito na área VIP.




domingo, 19 de fevereiro de 2012


O que é codependência para quem a “sente na pele”


Por Karen Calado
Voluntária de Amor-Exigente de Rio Claro-SP

Defino a codependência como uma maneira doentia de viver e amar, onde fazemos tudo errado com a melhor das intenções.
Na dependência química, a codependencia acaba se apresentando meio que misturada com a rotina desordenada e problemática do dependente. É como se fosse um espelho, um jogo de ação e reação.
Apesar de estarem intimamente ligadas e poderem ser agentes de apoio na recuperação uma da outra, elas podem sim, acontecer separadamente, em tempos diferentes.
Mas vale lembrar que a abstinência das drogas do nosso dependente não nos livra automaticamente da codependencia.
Por tratar-se de comportamentos e sentimentos cultivados por longos períodos, e é preciso tempo e perseverança para a recuperação. É necessário também
que a transformação ocorra em nós. É necessário que a mudança venha de dentro para fora.
O transtorno da codependência deve ser tratado com a mesma seriedade que a dependência química, num processo de auto conhecimento, rendição e aceitação.
Também como a dependência, a codependência é vivida em fases.
Numa primeira fase, o codependente nega tudo aquilo que todas as outras pessoas já perceberam. Acredita que seu desiquilíbrio emocional é fruto de muito trabalho, que
sua falência financeira é decorrente do baixo salário, que os acidentes frequentes são por causa da stress do dia a dia. Colocam-se ainda na posição de super heróis, e negam suas fragilidades. Nessa fase é muito comum encontrarmos codependentes acamados. Ou ainda se colocam na posição de coitados, se sentindo injustiçados e não merecedor de paz e felicidade. Enquanto o codependente está
na fase da negação, o dependente está avançando no processo da sua adicção.
Se não for tratada, a codependência também é progressiva e pode ser fatal. O codependente também precisa de tratamento para o resto da vida, pois é no tratamento contínuo que vai acontecendo o progresso da recuperação.
Um dia após o outro, o codependente necessita esvaziar os fardos das dificuldades e enchê-los de coisas boas como autoestima, alegria de viver.
No que se refere ao comportamento do co-dependente com o dependente, ele costuma inicialmente, assim como faz com sua própria doença, negar os fatos. Nega a
doença do ente querido e pode até fazer inimizades com pessoas que tentarem lhe abrir os olhos.
Depois parte para a fase do desespero. Fica enlouquecido. Geralmente é uma fase de muitas lágrimas, gritos e agressividade.
Passada a fase do desespero, o codependente tende a entrar na fase da facilitação. Facilitam a vida do dependente ao máximo para tentar diminuir os danos. Nem é
necessário dizer que nada disso irá funcionar. Muito comum então é que os co-dependentes iniciem um processo de depressão. Uma angustia muito profunda,
muitas emoções negativas, desejos de desaparecer , ou desaparecer com o dependente.
O codependente vive nos extremos da apatia ou da agressividade, por não saber como controlar seus sentimentos, como direcionar de maneira acertiva suas ações.
Por isso, precisa aprender a controlar a impulsividade e as emoções, agir de maneira racional, a caminhar no meio termo, na média das emoções.
Para iniciar o processo de recuperação da codependência é preciso tirar as máscaras e deixar de viver de disfarce, chorar nossas angústias, falar dos nossos
medos, admitir que também somos doentes e que precisamos de ajuda. É a fase da aceitação.
Somente agora é o momento do tratamento e inicio da recuperação.Basicamente a codependencia requer os mesmos cuidados da dependência. Para nos mantermos em
pé, é necessário aumentarmos os fatores de proteção e diminuirmos os fatores de risco.
Ser codependente nos coloca numa posição extremamente dolorosa, e como ninguém gosta de sentir dor, queremos um alívio imediato, um cessar da dor num passe de mágica. Mas é necessário entender e aceitar que é um processo longo e lento, onde se avança um degrau de cada vez, com perseverança, paciência, força, fé e alegria.
Eu sou uma codependente em recuperação e posso afirmar que o caminho não é fácil, mas é imensamente gratificante. A recuperação me faz crescer a cada dia como
ser humano, me faz entender o quão era importante ter vivido todas as dificuldades e agradecer a Deus por ter me escolhido para essa posição. Agora sei que tudo que vivo
e vivi não tem um “porquê” , mas um “para que”!


Expectativa jamais, esperança para sempre.

Em meio à dor de conviver com a dependência química, as pessoas não conseguem abrir mão das expectativas, sem achar que perderam a esperança. Ou acham que perderam a esperança, quando na verdade, estão aprendendo a não nutrir expectativas. Afinal, quem é quem nesta história?

Quando passamos a conhecer a dependência química e a entender os seus mecanismos, somos orientados a não manter expectativas em relação à recuperação de nossos entes queridos.
Um dos lemas mais praticados nos grupos de ajuda expressa justamente essa realidade: “Só por hoje!”. Cada dia é uma luta, cada momento é uma superação. Anos de abstinência não
são garantia de cura, pois a doença está lá, dominada, adormecida, mas lá. Os gatilhos aparecem no dia a dia, as bebidas estão em todas as esquinas e as drogas, cada vez mais próximas e disponíveis. “Amigos” que compartilham dos momentos de uso estão sempre dispostos a “oferecer o que podem”, emoções mal trabalhadas impõem obstáculos na luta contra a compulsão.
Dependentes sofrem com suas recaídas após tempos de superação. Familiares revoltam-se, agridem, esbravejam, destroem castelos que construíram na areia. Porque?

Certamente por que alimentaram expectativas errôneas de que o ente querido estaria curado, livre da possibilidade de recaída. Alimentaram expectativas de que tudo seria para sempre, de
que tudo estava sob controle, de que nada mais voltaria a acontecer. Descuidaram de orar e vigiar, tanto os seus comportamentos codependentes e facilitadores, como as manipulações
e recaídas comportamentais de seus dependentes. Há aqueles familiares que ainda não experimentaram a recuperação de seus entes queridos e se enchem de expectativas
com suas promessas infundadas, com suas tentativas de mostrar empenho na recuperação quando, na verdade, só estão manipulando para obterem o que querem ou o que precisam.
Quando estes familiares percebem o que estava nas entrelinhas, enchem seus corações de dores e frustrações. Tudo isso se deve à expectativa. Afinal, como diz a frase do pensador
Dioclecio, “A decepção é filha da expectativa”.
Porém, no turbilhão de sentimentos que assola os familiares de dependentes, dois conceitos se confundem: expectativa e esperança.
José de Alencar imortalizou o pensamento: “O amor sem esperança não tem outro refúgio senão a morte.” O que seriam das mães de dependentes se não acreditassem que um dia
poderiam ver os filhos recuperados do mal tão pernicioso? E o que fariam as esposas que esperam pacientemente pela volta dos companheiros de uma comunidade terapêutica? O que
mobilizaria os profissionais da saúde que cuidam dos dependentes em clínicas, hospitais, comunidades e consultórios? Que força reuniria pessoas num grupo de ajuda se não fosse ela, a esperança de que dias melhores viriam?
O educador e escritor Eugênio Mussak afirma que a esperança é necessária para a manutenção da existência, é unguento que, se não cura a inflamação, pelo menos diminui a dor.
Portanto, ela sim é benéfica para aliviar as dores de quem vive em meio à problemática às drogas. Que possamos aprender a separar a expectativa da esperança, guardando no fundo de nosso coração, que abriga o amor, a certeza de que enquanto a vida, há esperança.

Por Karen Calado
Voluntária de Amor-Exigente de Rio Claro-SP

sábado, 11 de fevereiro de 2012



Alguma droga tem de ser feita na Cracolândia
Artigo escrito na revista Época São Paulo, de fevereiro
Precisa fazer alguma coisa, repete o paulistano sempre que se depara com o aglomerado de miseráveis na Cracolândia. A região começou a ser tomada no início dos anos 1990, quando usuários de drogas se refugiaram ali para escapar de grupos de extermínio que atuavam na periferia. O que nenhum de nós sabe bem é o quê, afinal, tem de ser feito para resolver um problema que só vem aumentando e expondo a fragilidade do serviço público e da própria sociedade.
Por coincidência ou não, o clamor do paulistano aumentou de volume à medida que o tráfego de carros passou a ser bloqueado pelo tráfico. Nossa neurose do trânsito parece ter servido de estopim para autorizar o ataque aos “noias”, atropelando as regras internacionais de enfrentamento ao crack. Ou teria sido nossa fissura imobiliária em construir um novo bairro, já batizado de Nova Luz? Sem respostas, nos dividimos entre aplausos e vaias à operação da Polícia Militar que, como se estivesse diante de um lixão de pessoas a céu aberto, tenta limpar a área com balas de borracha.
A operação Centro Legal foi deflagrada às pressas pela PM, com uma sequência de trapalhadas em desarticulação com as áreas social e de saúde e que esbarra na falta de infraestrutura para atender os emigrados da droga. Fatores que o secretário de Segurança Pública do Estado, Antonio Ferreira Pinto, prefere chamar de “desencontro”. A propósito, não se espante com o fato de o porta-voz do combate ao crack ser da segurança, e não da saúde. Os interessados em cuidar da doença parecem ter sido coagidos a aceitar a invasão policial. O secretário municipal de Saúde, Januário Montone, discorda da minha percepção, mas admite que, agora, será preciso resgatar a confiança dos usuários.
O vínculo entre equipes de saúde e dependentes vinha sendo construído ao longo dos últimos dois anos, período no qual 4.350 viciados foram encaminhados a serviços de atendimento e cerca de 2 mil, internados o número é duas vezes maior, na média mensal, do que o de drogados que buscaram ajuda em janeiro, sob a operação policial. Nem mesmo as internações podem ser comemoradas. No Brasil, seis em cada 10 dependentes tratados voltam à droga, diz pesquisa da Unifesp. Senti essa frustração ao conviver com um rapaz de 24 anos que, sem nunca ter ido à Cracolândia, pediu socorro ao ser ameaçado de morte. Recebeu o apoio necessário, viveu seis meses numa clínica particular, seguiu à risca o tratamento baseado nos 12 passos dos Narcóticos Anônimos, teve orientação psicológica, médica e espiritual, retornou à família e, mesmo assim, não resistiu à tentação da reincidência.
São Paulo precisa, sim, fazer alguma coisa. E teria outras opções que não con- vocar suas tropas para espantar os “zumbis”. Poderia ser inteligente e aceitar a colaboração oferecida, em 2009, pelo centro de acolhimento de San Patrignano, em Rimini (Itália), que mantém 1,6 mil jovens e recupera sete em cada 10 atendidos. Poderia ser audaciosa e reproduzir a experiência de Frankfurt (Alemanha), que, desde 1994, mantém narcossalas: espaços onde o consumo é controlado e onde são oferecidas assistência médica e psicológica permanentes, internação voluntária e política de empregos. Em 10 anos, a cidade derrubou à metade o número de viciados. Mas São Paulo prefere ser reacionária e investir em uma política que, em lugar de construir a Nova Luz, corre o risco de criar novas cracolândias. Torçamos para que isso não aconteça.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


Judiciário não é Legislativo

MPF tenta proibir propaganda de bebida alcoólica
Por Jomar Martins
O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul recorreu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região contra sentença que julgou improcedente a Ação Civil Pública que busca restringir a propaganda de bebidas alcoólicas no país. A ação, assinada pelos procuradores da República Ana Paula Medeiros e Paulo Gilberto Leivas, pede que a União e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apliquem restrições à publicidade de todas as bebidas com teor alcoólico inferior a 13 graus GL, como cervejas, vinhos, entre outras.
A ação foi ajuizada em 2009, com o objetivo de obrigar a União e a Anvisa a aplicarem todas as restrições previstas na Lei 9.294/96 não só às bebidas com teor alcoólico superior a 13 graus Gay Lussac (13GL). O MPF argumenta que, levando em conta critérios sócio-científicos, qualquer bebida com teor alcoólico igual ou superior a 0,5 grau Gay Lussac também deve ser considerada alcoólica.
Os procuradores alegam que os órgãos responsáveis não cumprem as disposições do artigo 220, parágrafo terceiro, inciso II, da Constituição Federal: compete à lei federal estabelecer meios que garantam à pessoa e à família defender-se da propaganda de produtos que possam ser nocivos à saúde. Tecem comentários sobre a relação da livre propaganda com os malefícios do álcool para a sociedade. Ao final, elencam uma série de restrições que pretendem ver implementadas à propaganda desse tipo de bebidas. O pedido de antecipação de tutela foi indeferido.
A União apresentou contestação. No mérito, afirmou que a regulamentação está submetida ao princípio da legalidade. A Anvisa também sustentou que cumpre e regula a publicidade de bebidas alcoólicas dentro dos preceitos legais.
A juíza federal substituta Helena Furtado da Fonseca, analisando o mérito da Ação Civil Pública, disse que não há como decidir diferente do magistrado que indeferiu a tutela antecipada, pois este se baseou no entendimento do STF, ao julgar a ADI 1.755-5. Por isso, adotou os fundamentos de ambas as decisões como razões de decidir.
Em síntese, a ADI relatada pelo ministro Nelson Jobim na sessão do dia 15 de outubro de 1998 diz que "a subtração da norma do corpo da lei implica em atuar este tribunal como legislador positivo, o que lhe é vedado".
A juíza citou a Lei 9.294/96, editada em cumprimento ao parágrafo 4º do artigo 220 da Constituição da República, sobre a qual se fundamenta o pedido do parquet federal. O artigo 1° desta lei diz: O uso e a propaganda de produtos fumígeros, derivados ou não do tabaco, de bebidas alcoólicas, de medicamentos e terapias e de defensivos agrícolas estão sujeitos às restrições e condições estabelecidas por esta Lei, nos termos do parágrafo 4° do artigo 220 da Constituição Federal. O seu parágrafo único explica que "consideram-se bebidas alcoólicas, para efeitos desta Lei, as bebidas potáveis com teor alcoólico superior a treze graus Gay Lussac".
Assim, reforçou a julgadora, cabe à lei, e não ao Poder Judiciário, como pretende o MPF, definir o que é bebida alcoólica. Observou, também, que não há omissão do Poder Legislativo, uma vez que a Lei 9.294/96 restringiu a propaganda comercial de bebidas alcoólicas. E o Poder Legislativo tem poderes para tanto.
"A despeito de toda a documentação científica, impende-se concluir que compelir o Poder Público a efetuar tal classificação importaria em malferir o princípio da separação de poderes, sobre o qual se assenta a República Federativa do Brasil. Estaria o Poder Judiciário usurpando a função legislativa, atribuída precipuamente, pela Magna Carta, ao Congresso Nacional", concluiu a juíza.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


Preço da maconha no Rio contraria economia e não sobe



Lei da oferta e da procura não vigora no mercado de drogas da zona sul do Rio, apesar de polícia ter tomado as últimas duas favelas sem UPP da área
Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro
A ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal pela polícia, em novembro de 2011, não afetou o preço da maconha comprada no "asfalto" da zona sul. Era dessas duas comunidades que vinha a maior parte da droga comprada por consumidores de classe média da área nobre do Rio.
Rocinha e Vidigal, até então dominadas pelo tráfico, remanesciam até novembro como as duas únicas comunidades sob controle do crime desde o início do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O Vidigal recebeu uma UPP este mês; a da Rocinha está prevista para março.
Curiosamente, porém, o mercado parece ignorar e contrariar uma dos mais conhecidos conceitos da economia, a lei da oferta e da procura. Com menos oferta disponível e de fácil acesso e a mesma demanda, seria natural imaginar que o preço da droga dispararia. Não foi o que ocorreu, como o iG apurou, com usuários frequentes, policiais e especialistas no tema.
"Não teve diferença, nenhuma alteração de preço. Não houve aumento nem impacto da ocupação da Rocinha", afirmou um consumidor habitual de maconha, que pediu para não ser identificado.
O "peso" de 25 gramas de erva prensada, medida padrão da venda de maconha, sai, em média, por R$ 150 - em alguns lugares, varia de R$ 100, R$ 130 a até R$ 200, dependendo da qualidade. Também é vendida a droga em tabletes de 50 gramas.
Diferentemente do morro, onde a maconha é vendida em quantidades pequenas para consumo imediato – em sacos plásticos a R$ 1, R$ 2, R$ 5, R$ 10 e R$ 15 –, na "pista" os compradores optam por adquirir quantidades maiores, que garantem mais tempo de consumo e diminuem as ocasiões e riscos de uma "dura" da polícia.
"Delivery" de droga é prioridade da Polícia Civil
O comércio ilegal no "asfalto" tem diversas modalidades, mas a predominante é a do "delivery", em que o comprador encomenda a droga ao vendedor por telefone e é combinado o ponto de encontro para a entrega. Pontos de aglomeração de gente, como o Baixo Gávea e a Lapa, por exemplo, também muitas vezes funcionam para aqueles que não tem o contato de traficantes "delivery".
Para a delegada da Polícia Civil Valéria de Aragão Sádio, que assumiu recentemente a chefia da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), esse tipo de tráfico "é uma prioridade". "É muito importante (combater). Com as UPPs, o tráfico tende a ir para o asfalto. Vamos precisar atuar mais na área de inteligência. Vou bater em cima disso e de drogas sintéticas", disse Valéria, que conta com uma equipe de 58 policiais.
Na opinião de um usuário entrevistado, se a polícia de fato priorizar o vendedor do "asfalto", isso se refletirá em um aumento no preço. Ele contou ter um amigo que continua a comprar a droga diretamente na Rocinha, mesmo dois meses após a ocupação. "Ainda há o tráfico local, obviamente discreto. O preço é um terço do que se paga na rua. Quem não conhecia antes (da ocupação) talvez não encontre a droga lá, mas quem já era antigo comprador já tem os caminhos, não perde o fio da meada."
A maior parte dos fornecedores da "pista" compra a droga em favelas, de acordo com um experiente investigador que atuou em inúmeras operações de repressão a traficantes do "asfalto".
Esses criminosos são, em geral, homens de classe média, entre 20 e 40 anos, moram sozinhos e tem carro ou moto, usados para o transporte do seu produto ilegal. Em sua tese de mestrado na UFRJ, "Fazendo o doze na pista: um estudo do mercado ilegal de drogas na classe média", a pesquisadora Carolina Grillo conta que esses vendedores atuam desarmados e baseados em suas relações pessoais.
Frequentemente começam na atividade ilegal porque tem "contexto" – contato – com um traficante e veem a oportunidade de lucrar com o intermédio para conhecidos.
Sem o controle territorial de favela e a proteção das armas, porém, esses traficantes são mais vulneráveis às investidas policiais. "Se grampear o telefone dele, está 'morto'. Tem de dar essa sorte. Tem cara que envereda por isso e entrega 'bagulho' o dia inteiro", contou o inspetor. Segundo ele, muitas vezes quem delata o telefone do comerciante é o pai de algum cliente, inconformado com o vício do filho.
Maconha do asfalto é de melhor qualidade
Na opinião de um policial civil, as UPPs dificultaram o negócio da droga nas favelas, uma vez que a presença da PM nas comunidades obriga os traficantes a agir de forma muito mais discreta, para evitar o flagrante.
Antes, os criminosos não se preocupavam em se esconder e circulavam livremente com armas e drogas. As "bocas de fumo" ficavam em lugares visíveis e de fácil acesso, como espécie de lojas, justamente para atrair os consumidores eventuais.
Como a Secretaria de Segurança admite, as UPPs não acabaram com a venda de drogas, mas eliminaram o tráfico ostensivamente armado.
Evidentemente, porém, as apreensões de drogas na Rocinha – ao menos 138kg de maconha, 196kg de cocaína, e 60kg de pasta base – e de armas – 176, sendo 73 fuzis – e a presença ostensiva e permanente da PM nessas áreas desencoraja criminosos a agir, reduzindo assim substancialmente a droga nos morros.
Para Carolina Grillo, o consumidor de varejo nas favelas, em quantidade menor, não é o mesmo dos traficantes de classe média.
Em sua opinião, "os clientes dissuadidos de ir à favela (pela presença de UPPs) tenderiam a recrutar mais 'aviões' para subir até a boca por eles, como mototáxis, guardadores de carro, prostitutas, ou migrar para os chamados 'esticas' de boca de fumo, em bares do asfalto, e pontos mais ou menos identificáveis que funcionam na 'pista'".


Um mês na cracolândia.


Folha de S. Paulo – Editorial
Um mês após o início das operações da Polícia Militar na região da cracolândia, no centro de São Paulo, o mínimo a dizer é que o fundamental ainda está por ser feito. Seu resultado mais visível foi espalhar para bairros vizinhos parte dos dependentes do crack.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, do início da ação até 2 de fevereiro realizaram-se 186 internações de usuários de drogas para tratamento. A estatística não apresenta variação tão grande se comparada a períodos anteriores, tendo em vista o porte da operação.
De julho de 2009 até agora, foram 3.000 os internados. Equivalem à média de pouco menos de uma centena de internações mensais.
De todos os lados, o processo em curso na cracolândia prestou-se à exploração política. Setores de oposição ao governo do Estado e à Prefeitura de São Paulo insistiram na tecla de que prevaleceu uma visão "higienista" do problema.
O cronograma da operação, iniciada antes mesmo da inauguração prevista de um centro para acolhimento dos dependentes, sem dúvida deu algum fundamento a tais críticas. Entretanto, o difícil trabalho de abordagem dos drogados para tratamento não teve, segundo as mesmas estatísticas acima, todos os percalços previstos pelos opositores da operação.
Episódios de violência policial contribuíram para aumentar a voltagem das críticas; mas tudo indica que, sob vigilância constante da opinião pública, esse rumo pode ser -e vem sendo- corrigido.
Prefeitura e governo estadual engajaram-se, de todo modo, numa aposta política de alto risco. Existe na população, como revelou pesquisa Datafolha, a expectativa de uma solução rápida para o problema, de extrema complexidade. Daí os anúncios de que "a cracolândia não existe mais", como o da Secretaria de Justiça do Estado, que só resultam em descrédito.
A ambiguidade da investida se faz notar na mencionada pesquisa de opinião pública. Mesmo apoiando, por larga maioria, a atuação da polícia no local, a população acredita que os dependentes irão apenas espalhar-se pela cidade.
Seja como for, as preocupações com o problema do crack deixaram de confinar-se a um grupo reduzido de cidadãos. Passaram ao debate público e amplo -com direta relevância nas eleições municipais.
Que seja este um estímulo, ao menos, para que programas sociais e de atendimento de longo prazo sejam postos em prática, paralelamente a uma efetiva presença policial onde se fizer necessária.


1/3 dos suspeitos de tráfico moram na rua.


Levantamento sobre a origem de 136 prisões na região da cracolândia indica que 41 pessoas não tinham residência fixa
Falta de endereço dificulta obtenção do benefício de a pessoa responder ao processo na Justiça em liberdade
Folha de S. Paulo – Cotidiano - ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
Marcos José de Oliveira Lima, 31, foi preso sob suspeita de tráfico de drogas na região conhecida como cracolândia. Estava com 2,3 gramas de crack e R$ 61.
Mesmo sendo réu primário e estando com pouca droga, é quase certo que não vai conseguir responder ao seu processo em liberdade por não ter um documento exigido pela maioria dos magistrados para esse tipo de concessão: comprovante de residência.
Lima é morador de rua.
Assim como ele, outras 40 pessoas presas por equipes do Denarc (departamento de narcóticos) na operação na cracolândia se declararam moradores de rua.
Isso significa que, praticamente, um a cada três presos não tem comprovante de residência e deve permanecer preso durante todo o processo. Os números do Denarc são das 136 prisões feitas até a última quinta-feira, das 196 prisões realizadas até então.
Para o delegado Wagner Giudice, diretor do Denarc, o perfil do dependente em crack é problemático porque muitos traficam para sustentar o vício. "Eles abandonam o vínculo familiar e vão morar na rua por conta da droga. Para subsistir, acabam traficando. Acabam vivendo do microtráfico."
Para o delegado, não há dúvidas sobre o crime atribuído a Lima. "Ele é um vendedor de droga de fato. A gente filma, acompanha. Não é que ele vende uma vez só. Ele vende continuamente", disse. 
DEVER LEGAL
A Polícia Militar não informou quantos dos seus presos eram moradores de rua. Segundo o comandante Álvaro Camilo, a PM precisa cumprir o dever legal de prender, independentemente da condição social. "Quando ele está traficando, ele está prejudicando outras pessoas. Pode ser pouco, ou muito, está prejudicando alguém."

Para a defensora pública Virginia Catelan, o número de moradores de rua presos na cracolândia e a falta de endereço fixo dificulta em muito a obtenção de benefícios com os magistrados. Mesmo não tendo previsão legal, esse tipo de exigência é quase unânime na Justiça. 
À noite, traficantes e usuários de drogas persistem na cracolândia
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

Um mês atrás era comum ouvir quatro frases gritadas na cracolândia: "Quem tem cinco pra rachar? Quem me vende um real? Eu tenho bloco! Ó a loira na reta!" 
No fim de semana passado, contrariando a expectativa da Polícia Militar e do governo paulista, essas frases ainda eram ditas por traficantes e usuários que insistem em ficar na cracolândia do centro de São Paulo. 
Antes de mais nada, é necessário traduzir cada frase dita pelo grupo. As gírias significam respectivamente: "Quem tem R$ 5 para dividir a compra de uma pedra de crack comigo, que custa R$ 10? Quem deixa eu dar um trago em seu cachimbo por R$ 1? Eu tenho pedra de crack para vender! Olha o carro da polícia se aproximando!". 
Na noite de sábado e na madrugada de ontem, a Folha acompanhou a movimentação de policiais, dependentes químicos e traficantes nas principais ruas da cracolândia. Por cerca de seis horas, presenciou diversas vezes a venda de crack e o consumo por pessoas de várias idades, inclusive idosos e jovens. 
Diferentemente do que ocorreu no início da operação policial, não houve violência por parte dos PMs.
Dessa vez, não usaram bombas de efeitos moral e balas de borracha, conforme constatado pela Folha no dia 7 de janeiro. O uso desses artefatos foi proibido pelo governo paulista. A polícia dispersou usuários ligando sirenes e os afastando com carros subindo em calçadas. 

O jogo era de empurra-empurra. Enquanto a polícia seguia por uma rua, a turba ia para outra. "Temos de fumar andando", disse um viciado.
Colaboraram APU GOMES e FELIX LIMA 

Em dia de sol, famílias começam a voltar para as ruas da região
RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A analista Cleide de Aguiar, 56, mora há sete anos em frente à praça Princesa Isabel (centro de SP) e a menos de cinco minutos do trabalho.
Tinha tudo para ser uma paulistana a menos a usar carro. Com medo dos dependentes de crack, sempre preferiu o veículo à caminhada.
Situação semelhante vivia Maria da Conceição, 41. Ela criou dois filhos e agora um neto em um prédio da rua Helvétia. Devido à precariedade do entorno, dizia-se obrigada a pegar ônibus para se divertir no parque Buenos Aires (avenida Angélica). 
PRAÇA, À NOITE
Exemplos de quem não saía na cracolândia não faltam. Mas isso começa a mudar na região que tem mais de 400 mil moradores. "Agora, até a noite vou à praça com meu marido. Está cheio de crianças", diz Cleide.

Não muito longe dali, na rua dos Andradas, já é possível encontrar até quem não mora na região, mas já se sente seguro para se sentar à mesa do bar e ouvir um samba.
"Quando saí de casa, não me imaginava ouvindo samba na cracolândia", diverte-se Acácia Coialo, 52, que vive em Santos (litoral de SP) e veio à capital paulista visitar a Pinacoteca do Estado.
Para alguns moradores, porém, essa sensação de segurança pode ser passageira. "Realmente mais pessoas transitam por aqui. Mas tenho receio de que essa operação seja só para 'inglês ver' e político aparecer na mídia", diz Carivaldino Soares, 74.
Até sexta-feira, a operação na cracolândia havia realizado 245 prisões e 194 internações -números superiores à média mensal dos últimos dois anos.



As casas dos chefes do tráfico
Damien Cave
CIDADE DO MÉXICO - As casas dos mexicanos de alto poder aquisitivo geralmente são cercadas por portões ou muros que resguardam a privacidade dos moradores e os protegem contra assaltos. E não há casas mais protegidas que as dos chefões do narcotráfico no país. Na imaginação pública, a "narquitetura" é marcada pelo excesso -em parte "The Real Housewives", em parte "Scarface".
Na vida real, porém, apenas parte disso se aplica. Sendo correspondente do "New York Times" no México, fiquei curioso em relação às pessoas que comandam as redes criminosas deste país. Onde vivem e como é sua vida doméstica?
Com a ajuda da agência federal de leilões do México, consegui entrar em várias residências confiscadas. O que encontrei foi um misto de estereótipos e elementos dissonantes. Havia sinais de jovens que ganhavam e gastavam muito dinheiro rapidamente, mas também havia indícios de vida familiar, perigo e tédio.
Em várias cidades mexicanas há mansões com cúpulas que lhes conferem um toque árabe. Alguns acadêmicos que estudam a cultura da criminalidade mexicana dizem que as cúpulas viraram um símbolo visual da atração duradoura exercida pelo tráfico: ele oferece um caminho para a ascensão econômica.
"No mundo do tráfico eles encontram tudo que não conseguem encontrar em outro lugar", disse José Manuel Valenzuela, professor de sociologia no Colégio da Fronteira Norte, em Tijuana. "Não é uma questão apenas de dinheiro. Trata-se, também, de conseguir poder."
Nos anos 1970 e 1980, até mesmo no início da década de 1990, construir como um rei causava impressão forte. Com o tempo, porém, os chefes do tráfico passaram a adotar um perfil mais discreto.
Na residência mais extravagante que vi na Cidade do México, antes ocupada por um importador de farmacêuticos acusado de conspirar com o cartel de Sinaloa, mesas barrocas se misturavam com sofás minimalistas de couro, tapetes orientais e uma cópia do quadro "Guernica", de Picasso.
Os traficantes jovens tendem a ter gostos mais cosmopolitas que seus antecessores. "Eles são orgulhosos e vaidosos", comentou o antropólogo Howard Campbell, da Universidade do Texas, em El Paso.
Em um imóvel bizarro na Cidade do México, cor-de-rosa, de três andares e com piscina cercada por paredes de vidro, havia escovas de dentes infantis em um dos banheiros.
Presume-se que todas pertenciam ao filho do empresário sino-mexicano Zhenli Ye Gon, preso em 2007 acusado de importar substâncias proibidas usadas na produção de metanfetamina.
Ele se declara inocente, apesar de as autoridades terem encontrado armas e mais de US$ 200 milhões escondidos na casa.
O professor Valenzuela disse que os filhos constituem uma parte importante da vida dos chefes do tráfico, porque os pais querem ver seu legado ser levado adiante por outras gerações de suas famílias.
"Eles não são monstros nem aliens de outro planeta", disse Valenzuela. "Muitos dos valores sociais deles são iguais aos de todo o mundo."
Pode ser. Mas o mundo do tráfico mexicano vem se tornando muito mais sanguinário. Mais de 47 mil pessoas foram mortas nos últimos cinco anos, no país.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


Estudo reforça a idéia de que benefícios da bebida alcoólica, embora existam, não são para todos.


Revista Veja

Levantamento com mais de 40 pesquisas concluiu que o álcool deve ser consumido moderadamente e só por pessoas livres de certos problemas de saúde
Os autores do estudo levantaram dados de outras 44 pesquisas que calcularam a relação entre riscos à saúde do coração e consumo de álcool. Ao todo, esses levantamentos reuniram dados de 957.684 participantes e registraram 38.627 casos ou mortes por cardiopatia isquêmica.
Os pesquisadores observaram que, embora em todas as pesquisas o consumo moderado de álcool tenha protegido alguns indivíduos de cardiopatia isquêmica, nem todas as pessoas mostraram resultados positivos. Os efeitos da bebida tiveram grande variação nos estudos, principalmente naqueles que associaram proteção ao coração com ingestão de uma ou duas doses diárias de bebida alcoólica. Gênero, padrões de consumo e efeitos na saúde foram alguns dos pontos que divergiram nas análises.
Para os autores do estudo, a relação entre consumo de álcool e proteção ao coração não deve ser estabelecida de maneira isolada, ou seja, sem considerar outros aspectos da saúde do indivíduo. Isso porque, enquanto a bebida se mostrou positiva para prevenir a cardiopatia isquêmica, ela também pode ser prejudicial a outras, mesmo em pequenas quantidades, segundo a pesquisa.
Curva em J- Além disso, o levantamento canadense observou, em todos os 44 estudos, que o consumo de álcool obedece muitas vezes à chamada “curva em J”. Ou seja, em relação à cardiopatia isquêmica, beber moderadamente pode melhorar a saúde em comparação aos abstêmios, mas a ingestão exagerada de álcool, além de não surtir efeitos positivos ao organismo, é extremamente prejudicial.
Os autores do estudo concluíram que, antes de um indivíduo consumir bebida alcoólica para beneficiar sua saúde, ele deve consultar um médico que considere suas características e fatores de risco, como predisposição familiar para certas doenças. "Mais evidências sobre a relação entre benefícios à saúde e álcool são necessárias para que o público em geral e os médicos conheçam as quantidades seguras da bebida", afirma o estudo.
ÁLCOOL E SAÚDE
A relação entre consumo de álcool e doenças cardiovasculares em seres humanos pode ser representada por uma 'curva em J', segundo análise estatística: quem bebe pequenas quantidades de álcool por dia (duas doses para homens e uma para mulheres) costuma ter riscos menores de ter um infarto do coração ou um derrame cerebral do que abstêmios; mas quem bebe muito aumenta as chances de ter esses problemas. O "J" significa essa curva em uma representação gráfica. A perna menor da letra representa o risco dos abstêmios. Sua queda na curva da letra representa o risco dos bebedores moderados, e sua ascensão acentuada na perna grande da letra, o risco dos que bebem muito.

Não é para você
Apesar de a bebida alcoólica, com moderação, proporcionar benefícios para a saúde, ela não é indicada para todos. Existem pessoas que não devem ingerir quantidade alguma de álcool, já que os prejuízos são muito maiores do que as vantagens. Sinal vermelho para quem tem os seguintes problemas:
Doença hepática alcoólica: é a inflamação no fígado causada pelo uso crônico do álcool. Principal metabolizador do álcool no organismo, o fígado é lesionado com a ingestão de bebidas alcoólicas.
Cirrose hepática: o álcool destrói as células do fígado e é o responsável por causar cirrose, quadro de destruição avançada do órgão. Pessoas com esse problema já têm o fígado prejudicado e a ingestão só induziria a piora dele.
Triglicérides aumentado: o triglicérides é uma gordura tão prejudicial quanto o colesterol, já que forma placas que entopem as artérias, podendo causar infarto e derrame cerebral. O álcool aumenta essa taxa. Portanto, quem já tiver a condição deve manter-se longe das bebidas alcoólicas.
Pancreatite: a doença é um processo inflamatório do pâncreas, que é o órgão responsável por produzir insulina e também enzimas necessárias para a digestão. O consumo exagerado de álcool é uma das causas dessa doença, e sua ingestão pode provocar muita dor, danificar o processo de digestão e os níveis de insulina, principal problema do diabetes.
Úlcera: é uma ferida no estômago. Portanto, qualquer irritante gástrico, como o álcool, irá piorar o problema e aumentar a dor.
Insuficiência cardíaca: por ser tóxico, o álcool piora a atividade do músculo cardíaco. Quem já sofre desse problema deve evitar bebidas alcoólicas para que a atividade de circulação do sangue não piore.
Arritmia cardíaca: de modo geral, ele afeta o ritmo dos batimentos cardíacos. A bebida alcoólica induz e piora a arritmia.                 

Redobre a atenção

Há também aqueles que devem ter muito cuidado ao beber, mesmo que pouco.Tudo depende do grau da doença, do tipo de remédio e do organismo de cada um.
Problemas psiquiátricos: o álcool muda o comportamento das pessoas e pode alterar o efeito da medicação. É arriscada, portanto, a ingestão de bebida alcoólica por aqueles que já têm esse tipo de problema.
Gastrite: é uma fase anterior à úlcera e quem sofre desse problema deve tomar cuidado com a quantidade de bebida alcoólica ingerida. Como pode ser curada e controlada, é permitido o consumo álcool moderado, mas sempre com autorização de um médico.
Diabetes: Todos os diabéticos devem ficar atentos ao consumo de álcool. A quantidade permitida dessa ingestão depende do grau do problema, dos remédios e do organismo da pessoa. Recomenda-se, se for beber, optar por fazê-lo antes ou durante as refeições para evitar a hipoglicemia.


Ação na Cracolândia impulsiona tráfico ambulante.

Rodrigo Durão Coelho
A ação policial na região da Cracolândia em São Paulo, que completa um mês nesta sexta-feira, pulverizou a compra e venda de drogas por diferentes regiões da cidade, e está ajudando a consolidar a substituição do modelo tradicional de bocas de fumo por um sistema ambulante de tráfico.
Na Rua Gusmões, no bairro de Campos Elíseos, no Centro, cerca de 200 pessoas se aglomeram, em diferentes momentos do dia, no meio da rua e nas calçadas, muitas à espera da próxima passagem do "pedreiro", gíria dada ao vendedor de pedras de crack.
Brasil, drogas

"Antes, era mais tranquilo porque o pessoal ficava fumando crack sentado (na Cracolândia). Agora, temos que ficar andando o dia inteiro, fumando na frente de todo mundo", disse à BBC Brasil um dependente que caminhava com o grupo "nômade".
Comerciantes locais contrataram seguranças para expulsar grupos que se formam ocasionalmente na frente de suas lojas e evitar a criação de novos pontos fixos de compra e venda.
"Não quero que eles fiquem muito confortáveis aqui", disse um segurança que atua no local. "Eles não reagem com violência. Saem, mas voltam", acrescentou.
Esse novo sistema de organização do tráfico e do consumo, mais móvel, está se mostrando um desafio para grupos que tentam recuperar dependentes como a ONG evangélica Esperança Viva, que atuava há anos na Cracolândia.
"Antes, era mais fácil encontrá-los. Agora, ficou mais difícil. Temos que ir para onde vão. Muitas vezes, achamos que estarão em um ponto, mas não estão", disse Herbert dos Santos Pinho Tavares, integrante da ONG.
Na Rua Guaianazes, também em Campos Elíseos, em plena luz do dia, uma multidão, muitos enrolados em cobertores, sujos e maltrapilhos, caminhava, na última terça-feira, devagar, aparentemente sem rumo certo.
"Parecem zumbis do clipe do Michael Jackson (Thriller)", disse o integrante de uma ONG.
Logística do tráfico
Para a secretária de Justiça de São Paulo, Eloísa Arruda, a operação foi importante para "quebrar a logística do tráfico". O governo afirma que, até 2 de fevereiro, haviam sido apreendidos mais de 63 kg de drogas na região, sendo que 3,7 kg de crack.
"Essa baixa quantidade de crack apreendida mostra que a ação talvez tenha alterado a boca (ponto de venda ilegal de drogas), que já estava decadente, mas o tráfico lucrativo é móvel, se desloca com o público. Não me parece que a quantidade tenha diminuído", disse à BBC Brasil Daniela Skromov de Albuquerque do núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
"A impressão é de que os consumidores foram varridos e o tráfico, deslocado para áreas diferentes do centro expandido", acrescentou.
Para Herbert Dos Santos Pinho Tavares, "a quantidade de drogas disponíveis para os usuários não mudou. Os dependentes foram espalhados para outras partes e os traficantes também."
A secretaria de Justiça do Estado nega que a dispersão dos usuários e traficantes tenha gerado outras Cracolândias menores.
"Isso não é verdade. Sabemos que existem pequenas formações que alguns chamam de ‘mini-Cracolândias’. Nós sabemos que elas existem na cidade e nossa disposição é enfrentá-las", disse Eloísa Arruda à BBC Brasil.
"Não é (certo) dizer que saíram todos da Cracolândia e foram para outras regiões. Uma boa parte dos que lá estavam procuraram serviços sociais", completou.
No entanto, a defensora pública Daniela Skromov diz não acreditar que a ação seja bem-sucedida já que "esse pessoal não vai deixar de consumir".
"É, no fundo, iludir a população no sentido de que o combate ao tráfico está sendo feito. Ele está sendo feito equivocadamente porque não se está priorizando a polícia de inteligência, para se descobrir os grandes traficantes."
"No longo prazo, acho que não vai funcionar. O cerco policial funciona para que as pessoas não usem (drogas) ali. Mas até quando a polícia vai ocupar aquela área?"
Herbert concorda. "A droga existe, os usuários existem e eles estão soltos por toda São Paulo."


Álcool é a droga que mais mata.
Anderson Gonçalves
A cada ano, cerca de 8 mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes. É nesse segmento que o Paraná se destaca negativamente, sendo o estado detentor da quarta maior média de óbitos nesse período.
Para elaborar o estudo, a CNM coletou dados do Sistema de In formações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, que reúne e consolida os óbitos no território brasileiro conforme os locais da ocorrência e de residência do indivíduo. De acordo com o levantamento, as 40.692 pessoas morreram no Brasil vítimas do uso de substâncias como álcool, fumo e cocaína. E os dados podem estar subestimados, conforme a própria confederação, devido à complexidade de registros no SIM e pelo fato de não serem contabilizadas mortes causadas indiretamente pelo uso de drogas, como acidentes de trânsito e doenças crônicas. No estudo foram contabilizadas mortes em decorrência de envenenamento (intoxicação), transtornos mentais e comportamentais
Consequências

Drogas ilícitas são minoria dos casos
Quando se fala em drogas, substâncias ilícitas, como cocaína e crack, costumam ser as mais lembradas. Segundo o levantamento da CNM, contudo, elas são responsáveis por uma parcela mínima das mortes causadas diretamente pelo seu consumo. Juntos, o álcool e o fumo, drogas vendidas e consumidas legalmente, representam 96% dos mais de 40 mil óbitos contabilizados nos últimos anos.
Ao todo, 4,6 mil pessoas morreram em consequência direta do cigarro, sendo 242 delas no Paraná. Um número que não é tão preocupante quanto o álcool, visto que o índice de mortes verificado no estado é de 0,020, o qual lhe garante a 11ª colocação. Adultos e idosos (entre 40 e 80 anos de idade) do sexo masculino estão entre as principais vítimas do tabaco no país. “Uma constatação como essa pode contribuir significativamente para uma avaliação quanto ao acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), no caso de ações de apoio ao tabagista”, diz o estudo da CNM.
Em terceiro lugar nas causas de morte estão outras substâncias psicoativas. Foram 480 óbitos, dos quais 57 no Paraná. Ainda aparece a cocaína, responsável por 354 mortes, sendo 23 no estado. (AG)
Mortes indiretas elevariam os números
Se o número de 40 mil mortes em cinco anos já é considerado preocupante, é preciso lembrar que ele representa apenas uma parcela dos óbitos em consequências do uso de drogas no Brasil. O estudo levou em consideração somente as mortes em que o consumo de substâncias psicoativas foi apontado como causa direta. Ou seja, existe um contingente ainda maior de óbitos não contabilizados que podem entrar nessa relação.
Com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, foram selecionadas as ocorrências a partir do que indicavam os atestados de óbito. Dessa forma, não foram contabilizadas as mortes decorrentes de doenças crônicas ou acidentes de trânsito. “Dos casos de câncer de pulmão, 95% são decorrentes do fumo. Grande parte dos acidentes com morte é causada por motoristas embriagados. O número de mortes relacionadas a drogas é extremamente superior aos dados formais”, observa o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Para o médico Élio Mauer, o álcool se constitui na mais perigosa das drogas porque, além de ser legalizada, pode dar origem a uma série de outros problemas. “Além das mortes por acidentes de trânsito, temos as doenças decorrentes do uso contínuo , como as hepáticas, que podem matar”, diz. A depressão muitas vezes também está associada ao consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas. (AG)
Grande parte das mortes contabilizadas no estudo, 34,5 mil, ocorreram em decorrência do uso de álcool. Somente no Paraná, foram 2.338 vítimas. É o estado com o quarto maior índice em proporção à população, ficando atrás somente de Minas Gerais, Ceará e Sergipe. Dois municípios paranaenses aparecem na r elação das dez maiores médias do país. São José das Palmeiras, na Região Sudoeste, é o sétimo com um índice de 0,304, enquanto Antônio Olinto, no Centro-Sul, vem a seguir, com 0,294.
Consequências
Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, os números contidos no estudo são alarmantes. “Estamos mostrando esses dados para estimular a reflexão da sociedade, a fim de que ela tenha uma dimensão do problema e se organize para tentar ao menos amenizá-lo”, afirma. As prefeituras, instituições que a CNM representa, são apontadas por ele como as mais afetadas por esse problema. “O doente crônico de drogas demanda muito de assistência, que cabe ao município prestar. Ou seja, é mais uma bomba que cai no colo das prefeituras”.
Gerente da Unidade Inter me diária de Crise e Apoio à Vida e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o médico Élio Mauer acredita que tais números são um reflexo da falta de ações preventivas. “Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se houvesse a consciência de que o álcool leva a uma série de problemas. E não é preciso morrer para perceber os efeitos nocivos da droga”, diz, citando como exemplo os usuários que habitam as chamadas cracolândias. “Aquelas pessoas não estão mortas, mas será que estão realmente vivas?”, questiona.
Na opinião do psiquiatra Da goberto Re quião, os dependentes químicos encontram-se de sas sistidos no Brasil, o que leva a um al to nú mero de óbitos pe lo uso de drogas. A im plantação dos Centros de Atendimento Psicos social (CAPS), destinados a receber esses pacientes, se mostrou ineficiente, segundo Requião “Quando temos uma estrutura pública sem capacidade para atender minimamente o número de usuários existente, o resultado é essa quantidade as sus tadora de mortes.”
Redução exige trabalho em conjunto
A redução na quantidade de mortes ligadas ao consumo de drogas passa necessariamente por um trabalho conjunto de diferentes segmentos, que vão desde o poder público até as próprias famílias. Essa é a opinião do presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, que, a partir da divulgação do estudo, pretende cobrar das autoridades atitudes mais sólidas no combate e prevenção ao uso de substâncias psicoativas. “Se não houver uma ação integrada, jamais conseguiremos reduzir esses números”, diz.
Para o dirigente, entre as medidas que deveriam ser adotadas estão maiores investimentos no tratamento de dependentes e ações preventivas nas escolas. “Mas como fazer prevenção se o governo federal, que é o maior arrecadador de impostos, diz que não tem mais dinheiro para aplicar em saúde?”, questiona Ziulkoski.
O psiquiatra Dagoberto Re quião classifica o problema das drogas no Brasil como algo “quase insolúvel”. Além de investir no tratamento de dependentes químicos, incrementar as ações de repressão ao tráfico nas fronteiras é para ele a medida fundamental. “A sociedade precisa se conscientizar da gravidade da questão e cobrar providências. Esse é um problema que não pode ser enfrentado de forma segmentada, exige uma conjunção de forças”.