terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


As casas dos chefes do tráfico
Damien Cave
CIDADE DO MÉXICO - As casas dos mexicanos de alto poder aquisitivo geralmente são cercadas por portões ou muros que resguardam a privacidade dos moradores e os protegem contra assaltos. E não há casas mais protegidas que as dos chefões do narcotráfico no país. Na imaginação pública, a "narquitetura" é marcada pelo excesso -em parte "The Real Housewives", em parte "Scarface".
Na vida real, porém, apenas parte disso se aplica. Sendo correspondente do "New York Times" no México, fiquei curioso em relação às pessoas que comandam as redes criminosas deste país. Onde vivem e como é sua vida doméstica?
Com a ajuda da agência federal de leilões do México, consegui entrar em várias residências confiscadas. O que encontrei foi um misto de estereótipos e elementos dissonantes. Havia sinais de jovens que ganhavam e gastavam muito dinheiro rapidamente, mas também havia indícios de vida familiar, perigo e tédio.
Em várias cidades mexicanas há mansões com cúpulas que lhes conferem um toque árabe. Alguns acadêmicos que estudam a cultura da criminalidade mexicana dizem que as cúpulas viraram um símbolo visual da atração duradoura exercida pelo tráfico: ele oferece um caminho para a ascensão econômica.
"No mundo do tráfico eles encontram tudo que não conseguem encontrar em outro lugar", disse José Manuel Valenzuela, professor de sociologia no Colégio da Fronteira Norte, em Tijuana. "Não é uma questão apenas de dinheiro. Trata-se, também, de conseguir poder."
Nos anos 1970 e 1980, até mesmo no início da década de 1990, construir como um rei causava impressão forte. Com o tempo, porém, os chefes do tráfico passaram a adotar um perfil mais discreto.
Na residência mais extravagante que vi na Cidade do México, antes ocupada por um importador de farmacêuticos acusado de conspirar com o cartel de Sinaloa, mesas barrocas se misturavam com sofás minimalistas de couro, tapetes orientais e uma cópia do quadro "Guernica", de Picasso.
Os traficantes jovens tendem a ter gostos mais cosmopolitas que seus antecessores. "Eles são orgulhosos e vaidosos", comentou o antropólogo Howard Campbell, da Universidade do Texas, em El Paso.
Em um imóvel bizarro na Cidade do México, cor-de-rosa, de três andares e com piscina cercada por paredes de vidro, havia escovas de dentes infantis em um dos banheiros.
Presume-se que todas pertenciam ao filho do empresário sino-mexicano Zhenli Ye Gon, preso em 2007 acusado de importar substâncias proibidas usadas na produção de metanfetamina.
Ele se declara inocente, apesar de as autoridades terem encontrado armas e mais de US$ 200 milhões escondidos na casa.
O professor Valenzuela disse que os filhos constituem uma parte importante da vida dos chefes do tráfico, porque os pais querem ver seu legado ser levado adiante por outras gerações de suas famílias.
"Eles não são monstros nem aliens de outro planeta", disse Valenzuela. "Muitos dos valores sociais deles são iguais aos de todo o mundo."
Pode ser. Mas o mundo do tráfico mexicano vem se tornando muito mais sanguinário. Mais de 47 mil pessoas foram mortas nos últimos cinco anos, no país.


Nenhum comentário:

Postar um comentário