domingo, 28 de outubro de 2012

 
Internação Involuntária - Coerção com compaixão.
 
Todos os países democráticos e desenvolvidos permitem, sob algumas condições, que seus cidadãos sejam internados ou submetidos a tratamentos psiquiátricos com algum grau de coerção. Na Suécia, 30% de todas as internações são por medidas coercitivas. Os EUA talvez seja o pais com maior número desse tipo de tratamento. Com o desenvolvimento das chamadas “Drug Courts”, que são responsáveis por oferecerem tratamentos para os usuários de drogas como uma opção à prisão, criou-se um sistema bem organizado de estimulo não só para a busca, mas também para a retenção no tratamento, com centenas de milhares de pessoas já tratadas dessa forma. Vários estudos mostraram que essa abordagem obtem melhores resultados do que a busca voluntária de ajuda. O National Institute of Drug Abuse (NIDA) que é o órgão governamental responsável pelas pesquisas e pela influência nas políticas do país, recentemente lançou um consenso sobre esse assunto e um dos item claramente resume: “O tratamento para ser efetivo NÃO precisa ser voluntário”.
A própria Organização Mundial da Saúde em documento de 1996 chamado de “Leis sobre os cuidados em Saúde Mental: Dez princípios básicos”, reconhece que em algumas condições é possível alguma coerção: “No caso da pessoa com transtornos mentais estar incapaz de consentir sobre o seu tratamento, ..., deveríamos ter alguém responsável para decidir (parente, amigo ou um autoridade) qual seria a melhor alternativa”.
No Brasil todos os dias são feitas dezenas de internações coercitivas. Um bom número determinadas pela justiça, chamadas de “Compulsórias”, e um numero também substancial determinadas pelos médicos em parceria com as famílias, chamadas “Involuntárias”. A grande maioria das internações involuntárias ocorre no sistema privado de saúde. A experiência dos médicos, familiares e dos próprios pacientes é muito positiva. A maioria dessas internações transformam-se, após 2-3 semanas em voluntárias, e os pacientes terminam o tratamento harmonicamente com o médico e familiares. Raramente um paciente troca de médico devido a uma internação involuntária, pois acaba reconhecendo que a decisão foi feita com a melhor das intenções.
Um bom exemplo ocorre em São Paulo. No começo de 2012, por iniciativa do Governador Geraldo Alckmin, foram criados 30 leitos para grávidas usuárias de drogas, algumas delas internadas involuntariamente. Esse programa está funcionando muito bem, com muitas delas adolescentes, sendo tratadas de uma forma humana e profissional, e seus filhos protegidos.
Numa democracia o direito a vida deveria superar todos os outros direitos, e as internações involuntárias ou compulsórias, desde que feitas dentro da lei, pode ser uma excelente oportunidade para protegermos uma população vulnerável, especialmente os usuários de crack que perambulam pelas ruas e que colocam a sua vida e dos demais em risco.
Ronaldo Laranjeira
Professor Titular de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

 
Diretrizes para tratamento de dependentes químicos
Abead participa da formulação de diretrizes para tratamento de dependentes químicos durante CBP
Um simpósio realizado na tarde desta quarta-feira (10/10), no XXX Congresso Brasileiro de Psiquiatria, apresentou as diretrizes para tratamento de dependentes químicos, formuladas pela Associação Médica Brasileira, Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.

Quase trezentas pessoas estiveram presentes no evento, que é resultado do processo de revisão, iniciado em 2010, de todas as evidências científicas existentes relacionadas ao uso de álcool e outras drogas. A mesa foi dirigida pela cardiologista Nathalia Carvalho de Andrade, que trabalha no projeto Diretrizes, da AMB.
Crack/Cocaína
A pesquisadora Ana Cecília Marques apresentou as diretrizes para o tratamento de usuários de crack e/ou cocaína. Ela falou sobre o processo histórico do consumo de cocaína e de crack e afirmou que, atualmente, “o Brasil é o primeiro mercado consumidor de cocaína no mundo”.
Múltiplas substâncias
Em seguida, a professora Renata de Azevedo falou sobre o uso de múltiplas substâncias. De acordo com a pesquisadora, o uso de mais de uma droga é muito frequente, sendo que o álcool está presente na maioria das associações.
Renata Azevedo destacou que o uso combinado de drogas pode produzir apresentações clínicas atípicas e mais graves. Ela afirmou que, entre as razões para o uso de múltiplas drogas, está a necessidade do usuário de sentir um efeito mais intenso, para diminuir desconforto e também por questões de contexto – moda, acesso e grupo social.
Inalantes
Sobre inalantes, a coordenadora do Departamento de Dependência da AMB, Alessandra Diehl, afirmou que o uso da substância tem relação com baixo nível sócio-econômico e problemas sociais. Uma em cada cinco pessoas que experimentam inalantes desenvolve abuso ou dependência. Também segundo a pesquisadora, cerca de um ano após o primeiro uso, o indivíduo pode se tornar dependente. “É uma epidemia silenciosa, que tem sido negligenciada e esquecida, tanto do ponto de vista dos estudos científicos, quanto das ações governamentais”, afirmou.
Entre as dificuldades para o combate ao uso de inalantes está a facilidade de acesso, o baixo custo e o fato de não serem consideras substâncias ilegais. O uso é feito com mais frequência por meninos, geralmente com baixo desempenho escolar e oriundos de famílias desestruturadas.
Club Drugs
O psiquiatra especialista em dependência química Elton Pereira Rezende falou sobre as club drugs, substâncias químicas que foram usadas inicialmente por jovens na cultura rave e que, atualmente, são usadas em diferentes situações, com finalidades diversas – desde transrreligiosas até a busca por melhor desempenho sexual. Entre as mais usadas estão o LSD, a metanfetamina e o êxtase. O estudioso destacou que todas essas drogas tiveram um objetivo médico inicial.
Anfetaminas
O psiquiatra Félix Henrique Kessler apresentou o capítulo sobre anfetaminas. Os primeiros relatos de abusos da droga surgiram na década de 1930. Segundo o estudioso, hoje, entre 30 e 40 milhões de pessoas consomem anfetamina em todo o mundo e o uso vem aumentando em países em desenvolvimento, como o Brasil. Ele lembrou que o uso de anfetaminas para fins terapêuticos, no país, foi proibida ano passado.
Maconha
O tratamento de dependentes de maconha foi apresentado pelo pesquisador Hercílio Pereira. Relatório das Nações Unidas estimou para 2009 uma prevalência anual de usuários da maconha entre 125 e 203 milhões em todo o mundo, o que a torna a droga mais usada. No Brasil, um estudo de 2005 apontou prevalência de uso na vida de 8,8% da população brasileira. Segundo o pesquisador, 9% dos indivíduos que usam maconha vão preencher critérios de dependência ao longo da vida.
O uso da droga, de acordo com pesquisas, pode aumentar em 6 vezes o risco de esquizofrenia e em 2,1 vezes o desencadeamento de sintomas psicóticos, invalidando, para Hercílio Pereira, a tese de que a droga não faz mal, sendo passível de legalização.
 
Opiáceos e opióides
A psiquiatra Fernanda Lia de Paula Ramos falou sobre opiáceos e opióides. Segundo ela, os medicamentos são prescritos mais por médicos não psiquiatras, geralmente para casos de dor. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de opióide no mundo e têm grande prevalência de heroína. Já o Brasil é o maior consumidor de analgésicos opióides da América do Sul. Aqui, a prevalência de dependência está entre médicos, com 22,7%.
De 37 a 85% dos dependentes de opióides tem pelo menos um diagnóstico psiquiátrico.
Álcool
O capítulo sobre álcool foi relatado pelo pesquisador Marcos José Barreto Zaleski. Dados apontam que 48 % da população geral se declara abstêmica de álcool. O consumo de álcool é responsável por adoecer 12% da população brasileira. Entre os fatores de risco que levam ao início do consumo estão a propaganda, a pressão social, a predisposição genética, a curiosidade, o modelo familiar e a falta de políticas públicas. A bebida pode ser considera a primeira droga experimentada pelos jovens.


* Informações da Associação Brasileira de Psiquiatria

quarta-feira, 10 de outubro de 2012


Da maconha à esquizofrenia.

Cada vez mais, o impacto do consumo da maconha na saúde pública vem ganhando atenção por parte dos pesquisadores e autoridades. Até hoje seu uso é visto por muitos como recreativo, o que é perigoso. Deve-se ter muita cautela ao discutir o consumo dessa planta, que provoca danos psicológicos como a progressão potencial para outras drogas, dependência, prejuízos no processamento de informações, transtornos de ansiedade e psicose.
Delírio, alucinações, depressão e perda da capacidade de raciocínio são os sintomas mais comuns da esquizofrenia, muito semelhante às sensações proporcionadas pelo uso da maconha. Tida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) como um transtorno psíquico severo, a doença caracteriza-se principalmente pela alteração no contato com a realidade (psicose) e se manifesta habitualmente na faixa etária entre 15 e 35 anos. E, de acordo com estudos da OMS, atinge 1% da população mundial.
Cerca de 7% da população brasileira já experimentou maconha na vida, o que representa aproximadamente oito milhões de pessoas, segundo Dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas feito pela unidade de pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo. Pessoas com predisposição genética para a esquizofrenia são mais suscetíveis à influência da maconha. Seu consumo é capaz de intensificar os sintomas psicóticos desse transtorno, intensifica o reaparecimento de crises e piorar a evolução da doença.
O uso precoce de maconha, especialmente durante a adolescência, é um fator de risco de quadros psicóticos. A dose e a duração do uso podem aumentar o risco de transtornos mentais. Entre estes o pânico, a depressão maior e quadros esquizofreniformes. É preciso precaução quando se considera a maconha menos perigosa do que outras drogas, ainda mais quando os efeitos relacionados ao seu consumo, tais como a psicose, vêm sendo diagnosticados cada vez mais entre seus usuários.

Dra. Larriany Giglio - Médica psiquiatra especialista em dependência química da Clínica Novo Mundo.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012


A danada pinga – dependência é prazer ou compulsão?

Danilel Martins de Barros
Quem conversa com dependentes químicos freqüentemente ouve a seguinte explicação para sua incapacidade de conter o impulso de usar a droga: “É um demônio que toma conta de mim, parece que eu não sou eu. Isso é coisa do capeta”.
Se desde os primórdios da história os homens põe a culpa pelas suas bobagens no além – a Ilíada registra que Agamenon seqüestra a amante de Aquiles e depois diz que o fez por ter sido possuído por espíritos, isso ocorre porque há situações em que se experimenta uma verdadeira perda de controle. O nível de desconexão entre as intenções e os atos se torna tão intenso que tem-se a sensação de que alguma força externa está no comando.
O caso das drogas é característico. Inicialmente usadas por trazerem sensações de prazer, progressivamente esse bem estar se perde, e em mais ou menos tempo a pessoa se vê compelida a usar a droga não mas para se sentir bem, mas apenas para deixar de se sentir mal. Mais curioso ainda é o caso de alguns psicotrópicos sintéticos que não dão prazer algum, mas levam os sujeitos a  repetir seu uso de forma contínua, tornando-se dependentes.
O querer e o gostar, tem-se descoberto, são coisas diferentes, não só do ponto de vista psicológico, mas em suas próprias raízes cerebrais. Há muito se sabe que o neurotransmissor dopamina é liberado em atividades prazerosas, levando as pessoas a repetirem-nas alimentação, sexo e até mesmo solução de problemas trazem um sensação boa, e tendem a ser repetidas. Nem é necessário explicar que o ganho evolutivo por trás disso é evidente, pois nossos antepassados que gostavam mais de comer, de se reproduzir e de resolver os desafios da sobrevivência deixaram mais descendentes. Mais recentemente, contudo, cientistas vêm mostrando que a dopamina não marca o prazer em si, mas a importância daquele comportamento, levando a pessoa a repeti-lo. Por isso, drogas que levam à liberação artificial da dopamina geram a compulsão por seu uso – independente da sensação que produzam. Inversamente, experimentos com ratos revelaram que mesmo com bloqueio artificial da ação da dopamina eles conseguem ter prazer em substâncias (como os cientistas sabem que eles gostaram do que provaram? Contando o número de vezes que eles lambiam os beiços, um marcador de prazer que está presente até mesmo em nós, humanos).
Essa compulsão sem prazer, desmascarada agora pelos cientistas, já fora descrita por C. S. Lewis, coincidentemente (ou não) no livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, no qual narra as lições de um demônio experiente a seu jovem sobrinho. Numa das referências que faz ao prazer, o velho diabo ensina que a forma de atazanar os humanos é gerar “Um aumento considerável no desejo pela obtenção cada vez menor do prazer relacionado é a fórmula! Isto dá mais resultado, e é portanto o melhor estilo a adotarmos. Conseguir a alma do homem dando a ele NADA em troca é o que realmente aquece o coração de Nosso Pai Lá de Baixo”.
A neurociência vem mostrar que o desespero dos dependentes químicos pode até não ser “coisa do demo”. Mas ouvindo o relato deles e lendo essa descrição do C. S. Lewis, temos de convir que a armadilha da dependência parece, por assim dizer, diabólica.


O Brasil no pódio das drogas ilícitas.

A realidade brasileira, no que tange ao consumo de drogas ilícitas, é muito, muito preocupante, uma vez que, ao contrário do que ocorre no mundo, cresce assustadoramente o número de usuários. Somos, hoje, o primeiro maior consumidor de crack e o segundo em cocaína do Planeta.
Cumpre esclarecer, de início, que a cocaína se constitui num estimulante do sistema nervoso central, extraída das folhas da planta Erythroxylon coca1, que pode ser consumida sob a forma de cloridrato de cocaína - um sal hidrossolúvel - de uso aspirado ou injetado. Há, ainda, as apresentações alcalinas, voláteis a baixas temperaturas, que podem ser fumadas em “cachimbos”. É o caso do crack, da merla e da pasta básica da cocaína.
O crack, por sua vez, é tido como uma forma potente de uso da cocaína, por inalação do vapor expedido com a queima de pedras, manufaturadas a partir do cozimento da pasta de cocaína combinada com bicarbonato de sódio que, ao ser queimado, produz um ruído em forma de estado, daí derivando seu nome.
De acordo com apurações realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), constatou-se essa triste realidade de que o Brasil detém no mercado mundial - o primeiro lugar no consumo de crack e a segunda posição no consumo de cocaína. Os dados foram levantados por um grupo de estudos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e informados no mês de setembro de 2012. Foram ouvidos aproximadamente 4,6 mil pessoas com faixa etária superior a 14 anos em 149 municípios do país.
Conforme aponta o relatório, 4% da população adulta brasileira, correspondendo a seis milhões de pessoas, já experimentaram cocaína alguma vez na vida. Entre os adolescentes, jovens de 14 a 18 anos, 44 mil admitiram já ter feito uso da droga, o equivalente a 3% desse público.
Ainda consoante a esse estudo, 27% dos usuários dos dois tipos de cocaína (em pó - de uso nasal, e em pedra – fumada) consumiram a droga todos os dias ou, ao menos, duas vezes por semana, no ano passado. Quase metade (48%) foi identificada como dependente químico, mas apenas 30% deles disseram ter a intenção de interromper o uso.
Outro ponto preocupante abordado no relatório foi a idade de iniciação, o qual aponta que quase a metade (45%) experimentou cocaína antes dos 18 anos de idade. Além da iniciação precoce, o acesso à droga também é facilitado, pois 78% deles consideraram fácil encontrar o produto.
A pesquisa também comparou o consumo de cocaína nas regiões brasileiras em 2011. No Sudeste está concentrado o maior número de usuário de drogas, 46% deles. No Nordeste estão 27%, no Norte 10%, no Centro Oeste 10% e, no Sul, 7%.
No que tange ao crack, tida como droga de pobres, porque custa pouco, ele vem sendo consumido, cada vez mais, por pessoas da classe média. A constatação é do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), entidade ligada à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Droga de altíssimo poder destrutivo, ocasiona danos graves aos usuários.
Esse elevadíssimo consumo de drogas está retratado no cristalino avanço da violência e da criminalidade no país, objeto de muitos estudos e enfrentamentos por meio de políticas públicas, preventivas e repressivas, do que são exemplos as operações especiais voltadas a desordenar a rede de narcotráfico e àquelas de enfrentamento do tráfico do crack em áreas de maior vulnerabilidade. A evidência, os assustadores números retratados na recente pesquisa demonstram a necessidade de maior dedicação ao tema.
Lizete Andreis Sebben - Desembargadora TJRS



Álcool, uma droga democrática.

 Ontem foi o Lobby das Indústrias de cigarros que tinham um grande poder – hoje é o das indústrias de bebidas alcoólicas. Estão fazendo exatamente a mesma coisa, afinal muitos são os interessados.
Fumar faz mal? Sim, evidente! Para o tabagista.
Hoje, consumir o álcool, estando em uma roda de amigos e lindas mulheres, é sinônimo de ter uma saudável vida social. Isso é o que esse mesmo Governo e Lobistas transmitem e conseguem alimentar na grande maioria da população.
Quando as conseqüências desastrosas do vício de beber, seja diretamente através do alcoolismo ou mesmo violência no trânsito pesar nos cofres da União, lotar ainda mais hospitais e causar mais caos no ineficiente Sistema de Saúde, esse mesmo Governo irá fazer sérias restrições à bebida, mas alegando que se preocupa com a saúde de seu povo. E iremos acreditar. Demagogias e falta de respeito com o cidadão.
E pior: a maioria da população só se conscientiza do problema quando a bebida bate a porta de sua casa, destruindo a família.
Tanto o álcool quanto a droga são devastadores, que atingem não só quem a usa, mas também as pessoas que estão ao redor do usuário e que se preocupam com ele.
Outro exemplo de incoerência: Por ser um jogo de interesses que envolvem muito dinheiro, estão associadas a eventos esportivos, como a Copa do Mundo em 2014.
Esporte e álcool? Onde está a coerência disso tudo?
Eduardo Andreassi Jornalista/Fotojornalista/Fotógrafo


Brasil: maior mercado consumidor de cocaína da América do Sul.

Jus.com - Luiz Flávio Goes / Mariana Cury Bunduky
 Em seu “Relatório sobre segurança cidadã nas Américas em 2012”, lançado em julho de 2012, a OEA (Organização dos Estados Americanos), dentre outras conclusões, apontou que, com um total de 900 mil usuários, o Brasil representa o maior mercado consumidor de cocaína da América do Sul.
É compreensível a expansão do tráfico de drogas e da criminalidade organizada, visto que o mundo inteiro, incluindo-se o Brasil, constitui hoje e sempre constituiu terreno fértil para sua larga e cada vez mais sofisticada atuação. Conforme notícia baseada no relatório e veiculada pelo jornal O Globo, além de rota internacional, o Brasil também oferece produtos químicos para a indústria do refino da coca. E se não fosse o Brasil, outro país iria oferecer os mesmos produtos.
Diante desse cenário, a discussão quanto à descriminalização ou regulação do uso de drogas no país toma proporções ainda mais controvertidas e efusivas. Porém, incontestável é que a política de repressão e de guerra às drogas não funcionou no Brasil e em nenhum lugar do mundo. Trata-se de uma guerra perdida. Onde há mercado, há oferta de produto. Repressão penal à droga significa contrariar uma regra básica do mercado: lei da oferta e da procura.
De acordo com os levantamentos do Instituto Avante Brasil, baseados nos números do DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional, o tráfico de drogas é o crime mais encarcerador do país. Isso porque, do total de 514.582 presos existentes no país em dezembro de 2011, 125.744 (ou 24%) respondem por tráfico (nacional ou internacional) de drogas.
Se considerado apenas o tráfico nacional, o número não deixa de ser chocante, totalizando 119.538 encarcerados (ou 23%). Nos últimos seis anos, as prisões por tráfico cresceram 282% no país, de maneira que o delito tomou o lugar do roubo qualificado (crime responsável pelo maior número de prisões em 2005) e assumiu a primeira colocação em 2011.
Frise-se que a nova Lei de Drogas e Entorpecentes data de 2006, e não foi capaz de diminuir o número de prisões, nem tampouco, conter o tráfico por meios punitivos. O que ocorreu foi exatamente o oposto!
Dessa forma, para aqueles que entendem que a falha reside na falta de repressão, demonstra-se que quase um quarto da população carcerária brasileira ali se encontra por causa de entorpecentes, o que não evitou que o mercado consumidor de cocaína no país se tornasse o pioneiro dentre os países sul-americanos. Preso um, há dez na fila para ocupar o seu lugar.
A violência e a criminalidade geradas pela droga devem ser evitadas com medidas preventivas de conscientização. A política repressiva naufragou, apesar dos bilhões de dólares gastos pelos EUA. Enquanto o tratamento dado à problemática como um todo se limitar à esfera da segurança e da punição, sem levar em conta as causas da procura e da dependência das drogas, este será um embate sem fim, com resultados cada vez mais catastróficos. A guerra contra as drogas é uma guerra perdida, por tudo que se viu nos últimos 40 anos. O problema das drogas é muito mais sério do que o populismo penal midiático propaga. Mais uma guerra infinita não dirigida à solução do problema.





quarta-feira, 3 de outubro de 2012


Droga não tem partido.
Parece até que os problemas relacionados ao uso e abuso de drogas não são de maior importância! Embora pesquisas anteriores ao período eleitoral tivessem apontado a questão como uma das que maior interesse os eleitores teriam em ver discutida, continuamos a perceber que pouco se fala e menos ainda se faz. As ações que existem tendem a ser dispersas e descontínuas. O governo federal já lançou três planos de enfrentamento ao crack, com grande alarde e com a sinalização de muitos recursos envolvidos, mas na prática pouco acontece. Ninguém se entende nas esferas palacianas e o sentimento é de que falta governança, falta designar o real articulador que fará o plano sair do papel e se concretizar em política continuada e conseqüente. A dívida com a sociedade é grande e antiga, no que tange aos tratamentos para os casos mais graves e despertam a angústia, especialmente dos familiares.
As comunidades terapêuticas aguardam ansiosamente por uma clareza na sua tipificação e conseqüente recebimento de recursos; coisa que já acontece no estado de São Paulo por ação do governo e da Prefeitura paulistana. No nosso estado temos notícia de 11 mil vagas disponibilizadas, mas sem que tenhamos clareza da qualidade do tratamento ofertada; é essencial seguir critérios mínimos que permitam assegurar boa eficácia com respeito humano e com garantia de acompanhamento no sentido de prevenir recaídas. Lembrando que a família sempre deve ser incluída na atenção, pois, às vezes, ela está mais adoentada do que o dependente.
O estado de São Paulo, além de criar um órgão executivo na Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania para articular o que já existe e propor novos caminhos, tem dado continuidade a várias ações, tanto no terreno do tratamento como em outras facetas das políticas sobre drogas e busca dar respostas a esta demanda clara e significativa da população. Precisamos avançar!
Luiz Alberto Chaves de Oliveira é coordenador estadual de políticas sobre drogas da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.


Publicidade de energético poderá ser igualada à de cigarro e álcool.
Agência Câmara de Notícias
Um projeto em tramitação na Câmara estabelece regras para propaganda de bebidas à base de cafeína, guaraná e outros estimulantes, conhecidas popularmente como energéticos. A proposta (PL 4152/12), do deputado Marcos Rogério (PDT-RO), altera a Constituição e a Lei Antifumo (9.294/96), equiparando as condições de publicidade de energéticos ao que é praticado em relação aos cigarros e bebidas alcoólicas.
O autor justifica a proposta explicando que, ao contrário do que a publicidade dos energéticos faz acreditar, esses produtos não são isentos de efeitos colaterais. “Pelo contrário, o consumo imoderado de bebidas energéticas pode trazer sérios problemas à saúde e até mesmo ser a causa de sérios acidentes automobilísticos, devido à sua comprovada atuação deletéria nos reflexos e na coordenação motora”, diz o autor.
Ele ressalta ainda que, entre 2006 e 2010, o consumo de bebidas energéticas no Brasil cresceu em 325%,  um ritmo dez vezes superior à média dos demais tipos de bebidas. Como parâmetro de comparação, o deputado cita o desempenho da venda de sucos, em segundo lugar no ranking, que no mesmo período cresceu 53%.
Caso o projeto seja aprovado, a publicidade de energéticos somente poderá ser veiculada no rádio e na televisão entre as 20h e as 6h. Os rótulos deverão trazer advertências sobre os malefícios do produto, além do alerta: “Evite dirigir sob o efeito deste produto”.
Tramitação
O projeto tramita em conjunto com os PLs 6869/10 e 4846/94, que serão analisados por uma comissão especial e pelo Plenário.
Íntegra da proposta:
- PL-4152/2012


Estudo aponta sintomas associados a recaídas no uso de maconha.
Alterações no humor, problemas de sono e perda de apetite são sinais. Cientistas australianos avaliaram 49 usuários em período de abstinência.
 Cientistas australianos avaliaram 49 usuários de maconha durante um período de abstinência e identificaram que alguns sintomas físicos estão mais ligados a chances de recaída do que outros. Os resultados estão publicados nesta quarta-feira (26) na revista científica "PLoS ONE".

Segundo os autores da Universidade de Nova Gales do Sul, pessoas com sinais como tensão, ansiedade, depressão, alterações de humor, perda de apetite e problemas no sono são mais propensas a voltar a fumar após um tempo sem a droga.
Já outras manifestações físicas, como ondas de calor, fadiga e suor noturno, não foram tão relacionadas às recaídas.

O pesquisador David Allsop e colegas avaliaram os prejuízos nas atividades diárias após duas semanas de interrupção no uso da planta do gênero Cannabis sativa.

A equipe também analisou o grau de reutilização um mês depois. Os voluntários que apresentaram um maior comprometimento funcional decorrente da abstinência acabaram fumando mais maconha no mês seguinte à tentativa de parar.

Segundo os cientistas, o trabalho pode ajudar na busca por novas estratégias de tratamento para as pessoas que querem deixar de fumar maconha e sofrem com a abstinência.