domingo, 19 de fevereiro de 2012


Expectativa jamais, esperança para sempre.

Em meio à dor de conviver com a dependência química, as pessoas não conseguem abrir mão das expectativas, sem achar que perderam a esperança. Ou acham que perderam a esperança, quando na verdade, estão aprendendo a não nutrir expectativas. Afinal, quem é quem nesta história?

Quando passamos a conhecer a dependência química e a entender os seus mecanismos, somos orientados a não manter expectativas em relação à recuperação de nossos entes queridos.
Um dos lemas mais praticados nos grupos de ajuda expressa justamente essa realidade: “Só por hoje!”. Cada dia é uma luta, cada momento é uma superação. Anos de abstinência não
são garantia de cura, pois a doença está lá, dominada, adormecida, mas lá. Os gatilhos aparecem no dia a dia, as bebidas estão em todas as esquinas e as drogas, cada vez mais próximas e disponíveis. “Amigos” que compartilham dos momentos de uso estão sempre dispostos a “oferecer o que podem”, emoções mal trabalhadas impõem obstáculos na luta contra a compulsão.
Dependentes sofrem com suas recaídas após tempos de superação. Familiares revoltam-se, agridem, esbravejam, destroem castelos que construíram na areia. Porque?

Certamente por que alimentaram expectativas errôneas de que o ente querido estaria curado, livre da possibilidade de recaída. Alimentaram expectativas de que tudo seria para sempre, de
que tudo estava sob controle, de que nada mais voltaria a acontecer. Descuidaram de orar e vigiar, tanto os seus comportamentos codependentes e facilitadores, como as manipulações
e recaídas comportamentais de seus dependentes. Há aqueles familiares que ainda não experimentaram a recuperação de seus entes queridos e se enchem de expectativas
com suas promessas infundadas, com suas tentativas de mostrar empenho na recuperação quando, na verdade, só estão manipulando para obterem o que querem ou o que precisam.
Quando estes familiares percebem o que estava nas entrelinhas, enchem seus corações de dores e frustrações. Tudo isso se deve à expectativa. Afinal, como diz a frase do pensador
Dioclecio, “A decepção é filha da expectativa”.
Porém, no turbilhão de sentimentos que assola os familiares de dependentes, dois conceitos se confundem: expectativa e esperança.
José de Alencar imortalizou o pensamento: “O amor sem esperança não tem outro refúgio senão a morte.” O que seriam das mães de dependentes se não acreditassem que um dia
poderiam ver os filhos recuperados do mal tão pernicioso? E o que fariam as esposas que esperam pacientemente pela volta dos companheiros de uma comunidade terapêutica? O que
mobilizaria os profissionais da saúde que cuidam dos dependentes em clínicas, hospitais, comunidades e consultórios? Que força reuniria pessoas num grupo de ajuda se não fosse ela, a esperança de que dias melhores viriam?
O educador e escritor Eugênio Mussak afirma que a esperança é necessária para a manutenção da existência, é unguento que, se não cura a inflamação, pelo menos diminui a dor.
Portanto, ela sim é benéfica para aliviar as dores de quem vive em meio à problemática às drogas. Que possamos aprender a separar a expectativa da esperança, guardando no fundo de nosso coração, que abriga o amor, a certeza de que enquanto a vida, há esperança.

Por Karen Calado
Voluntária de Amor-Exigente de Rio Claro-SP

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