terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Caçadores de recompensa.
 

   
 
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O livre-arbítrio é uma das principais metas do homem quando este pondera sobre os limites do seu comportamento. A liberdade é a conquista maior de todas as gerações. Abolição da escravidão, movimento feminista contra a opressão de gênero, liberdade de escolha, movimentos operários que se seguiram à Revolução industrial, cujas pautas eram por um fim à exploração do trabalho. Um filho que sai de casa porque não suporta mais os pais determinarem seu horário. As campanhas atuais da mídia contra o bullying nas escolas. São incontáveis as atitudes que tomamos para defendermos o ideal de liberdade. Em qualquer sociedade que se preze, antiga ou moderna, os transgressores são presos, e a prisão permanece sendo encarada como uma das punições mais severas e apropriadas. Ela atinge um dos nossos bens mais importantes: o direito de ir e vir.

De certa forma dependemos da própria estrutura neurobiológica para sermos livres, ou melhor, para “desfrutarmos” essa liberdade. Se não entendemos como pensamos, como podemos confiar no nosso pensamento? Já que um cérebro estuda o cérebro de terceiros, e nunca a si próprio em tempo real, será possível conceber um conhecimento como “universal”, se o próprio instrumento utilizado para produzi-lo não for totalmente compreendido?
Somos livres ou a busca pelo prazer nos aprisiona?
Busca-se o prazer acima de tudo, mais até que a liberdade de expressão, ou você não se sente desconfortável quando a opinião de alguém é “invasiva” a seu respeito? O problema é quando o prazer se transforma em vício, capaz de interferir profundamente na capacidade de decisão e julgamento do indivíduo. Deixa-se de lado a autopreservação em busca do objeto de satisfação. Se a liberdade de fato existiu, mesmo vinculada à busca por prazer, aqui é o momento em que ela é perdida.
Neste sentido, está reconhecida a importância de estudarmos os sistemas de recompensa cerebrais, dos quais o principal é o dopaminérgico (mesmo que o façamos avaliando os cérebros de outras pessoas, e não os nossos próprios). Por que substâncias como a cocaína e o álcool proporcionam prazer, mas depois de passado algum tempo podem provocar graves sintomas negativos, como a depressão?

Sistemas de recompensa, prazer e vício.

Um dos principais sistemas neuronais envolvidos no processamento da informação de recompensa é o sistema dopaminérgico. A dopamina é o neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer: comer, beber, ter uma relação sexual, dentre outros. Na presença de substâncias que aumentam a quantidade de dopamina, tal sistema de recompensa cerebral é estimulado.
(((Basicamente, o principal sistema envolvido na via de recompensa é o sistema dopaminérgico mesocorticolímbico: corpos celulares localizados na área tegumentar ventral, com projeções no núcleo accumbens, no tubérculo olfatório, no córtex frontal, na amígdala e na área septal. Dentre essas estruturas, as que projetam ao núcleo accumbens formam o núcleo central do sistema de recompensa.)))
As drogas de caráter abusivo são constituídas por aquelas que induzem uma sensação de desejo intenso. O estímulo por elas provocado associado ao aumento de dopamina adquire um significado motivacional e emocional anormais, que resulta na busca excessiva da droga pelo viciado, constituindo assim, a essência da adição: o vício.
http://www.popsci.com/scitech/article/2002-03/whos-addict

Cocaína e depressão.

A cocaína produz uma resposta de prazer imediatamente depois de consumida, porque aumenta os níveis de dopamina no cérebro. Mas hoje se sabe que os neurônios específicos que fazem a interação cerebral com a cocaína ficam lesionados, danificados, podendo até ser destruídos durante o crônico processo de uso da droga. Dessa forma, vários estudos evidenciaram que a cocaína pode comprometer o cérebro, e até destruir os neurônios responsáveis por essa sensação de euforia, a ponto de culminar com quadros depressivos graves. Neste ponto, a quantidade do neurotransmissor presente no sistema de recompensa dopaminérgico está diminuída, como bem mostra a imagem acima.

Muito álcool, pouco cérebro.

O álcool também estimula o sistema de recompensa atuando sobre as vias dopaminérgicas centrais, e difere da maioria das outras drogas psicoativas por não possuir receptores específicos. A sensação de euforia proporcionada pelo álcool provém da sua ativação sobre os receptores dopamínicos existentes no núcleo accumbens. Já o seu uso crônico e intenso pode culminar com graves lesões cerebrais, depressão e até mesmo suicídio. Sabe-se ainda que os indivíduos alcoólatras “pesados” têm o volume cerebral reduzido, e as áreas produtores de dopamina estão aí incluídas.
http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n3/130.html