Álcool é a
droga que mais mata.
Anderson
Gonçalves
A
cada ano, cerca de 8 mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas
e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos
Municípios (CNM) aponta que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil
óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira
colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes. É nesse
segmento que o Paraná se destaca negativamente, sendo o estado detentor da quarta
maior média de óbitos nesse período.
Para
elaborar o estudo, a CNM coletou dados do Sistema de In formações sobre
Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, que reúne e consolida os óbitos no
território brasileiro conforme os locais da ocorrência e de residência do
indivíduo. De acordo com o levantamento, as 40.692 pessoas morreram no Brasil
vítimas do uso de substâncias como álcool, fumo e cocaína. E os dados podem
estar subestimados, conforme a própria confederação, devido à complexidade de
registros no SIM e pelo fato de não serem contabilizadas mortes causadas
indiretamente pelo uso de drogas, como acidentes de trânsito e doenças
crônicas. No estudo foram contabilizadas mortes em decorrência de envenenamento
(intoxicação), transtornos mentais e comportamentais
Consequências
Drogas
ilícitas são minoria dos casos
Quando
se fala em drogas, substâncias ilícitas, como cocaína e crack, costumam ser as
mais lembradas. Segundo o levantamento da CNM, contudo, elas são responsáveis
por uma parcela mínima das mortes causadas diretamente pelo seu consumo.
Juntos, o álcool e o fumo, drogas vendidas e consumidas legalmente, representam
96% dos mais de 40 mil óbitos contabilizados nos últimos anos.
Ao
todo, 4,6 mil pessoas morreram em consequência direta do cigarro, sendo 242
delas no Paraná. Um número que não é tão preocupante quanto o álcool, visto que
o índice de mortes verificado no estado é de 0,020, o qual lhe garante a 11ª
colocação. Adultos e idosos (entre 40 e 80 anos de idade) do sexo masculino
estão entre as principais vítimas do tabaco no país. “Uma constatação como essa
pode contribuir significativamente para uma avaliação quanto ao acesso ao
Sistema Único de Saúde (SUS), no caso de ações de apoio ao tabagista”, diz o
estudo da CNM.
Em
terceiro lugar nas causas de morte estão outras substâncias psicoativas. Foram
480 óbitos, dos quais 57 no Paraná. Ainda aparece a cocaína, responsável por
354 mortes, sendo 23 no estado. (AG)
Mortes
indiretas elevariam os números
Se
o número de 40 mil mortes em cinco anos já é considerado preocupante, é preciso
lembrar que ele representa apenas uma parcela dos óbitos em consequências do
uso de drogas no Brasil. O estudo levou em consideração somente as mortes em
que o consumo de substâncias psicoativas foi apontado como causa direta. Ou
seja, existe um contingente ainda maior de óbitos não contabilizados que podem
entrar nessa relação.
Com
base no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, foram
selecionadas as ocorrências a partir do que indicavam os atestados de óbito.
Dessa forma, não foram contabilizadas as mortes decorrentes de doenças crônicas
ou acidentes de trânsito. “Dos casos de câncer de pulmão, 95% são decorrentes
do fumo. Grande parte dos acidentes com morte é causada por motoristas
embriagados. O número de mortes relacionadas a drogas é extremamente superior
aos dados formais”, observa o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Para
o médico Élio Mauer, o álcool se constitui na mais perigosa das drogas porque,
além de ser legalizada, pode dar origem a uma série de outros problemas. “Além
das mortes por acidentes de trânsito, temos as doenças decorrentes do uso
contínuo , como as hepáticas, que podem matar”, diz. A depressão muitas vezes
também está associada ao consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas. (AG)
Grande
parte das mortes contabilizadas no estudo, 34,5 mil, ocorreram em decorrência
do uso de álcool. Somente no Paraná, foram 2.338 vítimas. É o estado com o
quarto maior índice em proporção à população, ficando atrás somente de Minas
Gerais, Ceará e Sergipe. Dois municípios paranaenses aparecem na r elação das
dez maiores médias do país. São José das Palmeiras, na Região Sudoeste, é o
sétimo com um índice de 0,304, enquanto Antônio Olinto, no Centro-Sul, vem a
seguir, com 0,294.
Consequências
Para
o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, os números contidos no estudo são
alarmantes. “Estamos mostrando esses dados para estimular a reflexão da
sociedade, a fim de que ela tenha uma dimensão do problema e se organize para
tentar ao menos amenizá-lo”, afirma. As prefeituras, instituições que a CNM
representa, são apontadas por ele como as mais afetadas por esse problema. “O
doente crônico de drogas demanda muito de assistência, que cabe ao município
prestar. Ou seja, é mais uma bomba que cai no colo das prefeituras”.
Gerente
da Unidade Inter me diária de Crise e Apoio à Vida e professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), o médico Élio Mauer acredita que tais números são um
reflexo da falta de ações preventivas. “Muitas dessas mortes poderiam ser
evitadas se houvesse a consciência de que o álcool leva a uma série de
problemas. E não é preciso morrer para perceber os efeitos nocivos da droga”,
diz, citando como exemplo os usuários que habitam as chamadas cracolândias.
“Aquelas pessoas não estão mortas, mas será que estão realmente vivas?”,
questiona.
Na
opinião do psiquiatra Da goberto Re quião, os dependentes químicos encontram-se
de sas sistidos no Brasil, o que leva a um al to nú mero de óbitos pe lo uso de
drogas. A im plantação dos Centros de Atendimento Psicos social (CAPS),
destinados a receber esses pacientes, se mostrou ineficiente, segundo Requião
“Quando temos uma estrutura pública sem capacidade para atender minimamente o
número de usuários existente, o resultado é essa quantidade as sus tadora de
mortes.”
Redução
exige trabalho em conjunto
A
redução na quantidade de mortes ligadas ao consumo de drogas passa
necessariamente por um trabalho conjunto de diferentes segmentos, que vão desde
o poder público até as próprias famílias. Essa é a opinião do presidente da
Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, que, a partir da
divulgação do estudo, pretende cobrar das autoridades atitudes mais sólidas no
combate e prevenção ao uso de substâncias psicoativas. “Se não houver uma ação
integrada, jamais conseguiremos reduzir esses números”, diz.
Para
o dirigente, entre as medidas que deveriam ser adotadas estão maiores
investimentos no tratamento de dependentes e ações preventivas nas escolas.
“Mas como fazer prevenção se o governo federal, que é o maior arrecadador de
impostos, diz que não tem mais dinheiro para aplicar em saúde?”, questiona
Ziulkoski.
O psiquiatra Dagoberto Re quião classifica o problema das drogas
no Brasil como algo “quase insolúvel”. Além de investir no tratamento de dependentes
químicos, incrementar as ações de repressão ao tráfico nas fronteiras é para
ele a medida fundamental. “A sociedade precisa se conscientizar da gravidade da
questão e cobrar providências. Esse é um problema que não pode ser enfrentado
de forma segmentada, exige uma conjunção de forças”.
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