terça-feira, 31 de janeiro de 2017






Empresas de tabaco enganam o público sobre aditivos.


A indústria de tabaco é acusada de enganar fumantes sobre a segurança dos aditivos em cigarros. Baseados em uma nova análise de dados da década passada, usados pela empresa norte-americana Philip Morris, alegando que os aditivos eram seguros, pesquisadores da Universidade da Califórnia afirmam que tal estudo “obscurece a descoberta de toxidade”.

O estudo original da Philip Morris, chamado Projeto Mix, resultou na publicação de quatro documentos num jornal científico, no qual concluíram que “não havia evidência de substância tóxica” associada com os aditivos estudados. Mais de 300 aditivos são usados para melhorar seu gosto e fazer o fumo mais suave e agradável.

O novo estudo, feito pelo Centro de Pesquisa do Controle do Tabaco da Universidade da Califórnia, foi baseado nos mesmos dados extraídos dentre os 60 milhões de documentos lançados depois do litígio. Os pesquisadores afirmam que os estudos originais “não podem ser tomados como válidos pelo valor da face” e falharam na revelação dos perigos dos aditivos.

Quando realizaram sua própria análise examinando os aditivos de um cigarro- como especificado no protocolo original do Projeto Mix, que mais tarde foi mudado- descobriram um aumento de aproximadamente 15 substâncias químicas cancerígenas numa média de 20%.

Eles também descobriram que, por o que chamaram de “razões desconhecidas”, na apresentação dos seus resultados, a Philip Morris tinha desenfatizado 19 dos 51 produtos químicos testados, incluindo nove deles que aumentam substancialmente com o fumo diário de um único cigarro.

Stanton Glantz, que liderou a nova pesquisa publicada no jornal online “Public Library of Science Medicine”, disse que as empresas de tabaco passaram décadas se preparando para o momento em que fosse implementada uma regulamentação mais severa com relação a seus produtos, incluindo a relação dos aditivos.

A utilização de aditivos preocupa a Organização Mundial de Saúde, a Food and Drugs Administration (FDA -Administração de Comida e Drogas dos Estados Unidos) e os organismos reguladores nacionais no Reino Unido e ao redor do mundo. A Philip Morris usou os quatro artigos publicados na seção de alimentos e produtos químicos tóxicos, em 2002, para defender a inclusão dos aditivos nos cigarros.

Quando os milhões de documentos internos da empresa foram liberados, permitiram a Glantz e seus colegas reanalisar os dados. "Colocar aditivos nos cigarros aumenta a quantidade de partículas finas e isso é uma coisa ruim, porque aumenta a resposta inflamatória.Se você pegar os próprios dados da Philip Morris e interpretá-los corretamente, você pode usar esses dados para proibir esses aditivos", disse o pesquisador.

Um porta-voz da Philip Morris disse: "Acreditamos que os pontos levantados neste recente trabalho de Stanton Glantz e outros não invalida as conclusões tiradas nos estudos do Projeto Mix. Todos os estudos do Projeto Mix foram relatados ao lado dos dados reais em quatro publicações científicas revisadas em 2002, e o modo como calcularam, foi discutido em um dos artigos. Os estudos foram realizados de acordo com princípios bem estabelecidos e padrões e diretrizes toxicológicos".

Na mistura: adição de produtos químicos:

Aditivos são usados ​​em cigarros para mitigar a dureza do fumo do tabaco e tornar a experiência de fumar mais agradável.

O açúcar é muitas vezes adicionado na forma de mel, glicose e melaço. Os aromas e especiarias podem ser adicionadas pelo mesmo motivo, incluindo benzaldeído, mentol e baunilha ou canela, gengibre e hortelã. Outros utilizados são o óleo de laranja ou extrato de alcaçuz. Os mais comuns são os de cacau, mentol e glicerol.

Outras substâncias incomuns, não mencionadas neste estudo em particular, mas muitas vezes adicionados aos cigarros, incluindo vinagre e óleo de folha de pimenta, que são usados em bebidas não alcoólicas e sorvetes.

Disponível em: http://www.independent.co.uk/life-style/health-and-families/health-news/tobacco-firms-misled-public-about-additives-6279898.html
Tradução: Mariana Jacinto. Acessado em 21/12/2011.
Fonte:INCA - Instituto Nacional de Câncer, Ministério da Saúde





Os efeitos da percepção da qualidade das drogas sobre a aquisição de álcool e outras substâncias.


Estudos científicos apontam que o preço (de álcool e de drogas ilícitas) é um fator importante na decisão de compra por usuários. Da mesma forma, especula-se que a percepção da qualidade da droga também influencie a compra, reduzindo a demanda quando é observada uma diminuição da qualidade.


Um estudo recente realizado em Liverpool, Reino Unido, com 80 usuários múltiplos de drogas, procurou elucidar essa questão através da manipulação da percepção da qualidade de algumas drogas (álcool, anfetamina, maconha, cocaína e ecstasy) e seu efeito em sua procura. Os participantes fizeram parte de uma simulação em que os valores das drogas foram fixados, variando-se sua qualidade, de tal forma que as drogas de "baixa qualidade" teriam um custo/benefício baixo (alto valor unitário) e as drogas de "boa qualidade" teriam um custo/benefício alto (baixo valor unitário). Quanto ao álcool, sua qualidade foi manipulada em termos do número de unidades de etanol presentes na bebida: "normal" (1 unidade de álcool por dose) e "forte" (2 unidades de álcool por dose).


Os resultados do estudo revelaram que a procura por álcool não foi modificada com possíveis variações de sua qualidade. Ainda, a redução da qualidade de álcool não causou sua substituição por outra droga, entretanto, o álcool foi considerado como a droga de escolha para substituir o uso de maconha, cocaína e ecstasy quando a qualidade dessas drogas foi alterada.


Assim, conforme os autores, a qualidade e o preço das drogas são os critérios utilizados pelos usuários para a decisão de compra. Logo, políticas destinadas à redução do uso de drogas pelo aumento de preço podem não alcançar uma redução da procura e das conseqüências associadas, mas sim, estimular um sistema de substituição de drogas. Aí entra o papel do álcool que pode substituir prontamente o uso de outras drogas, sem sofrer variação de uso com mudança da qualidade, situação que merece atenção das autoridades competentes em vista dos efeitos negativos e custos sociais (diretos e indiretos) advindos de seu uso crônico.


Título: The effects of perceived quality on the behavioural economics of alcohol,amphetamine, cannabis, cocaine, and ecstasy purchases

Autores: Jon C. Cole, Andrew J. Goudie, Matt Field, Anne-Claire Loverseed, Sarah Charlton, Harry R. Sumnall

Fonte: Drug and Alcohol Dependence

IF: 3,222
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017




COMO AS DROGAS NOS ENGOLEM.


A sociedade brasileira está sofrendo os efeitos cada vez mais devastadores do uso de drogas produzidas e distribuídas pelo pior tipo de gente – os traficantes. Aquilo que até algumas décadas atrás parecia ser uma doença apenas das grandes cidades se espalhou por todo o País, até por pequenos lugarejos.

Sim, mesmo na zona rural já se observa o desespero de trabalhadores pela chegada do sábado, dia em que recebem o pagamento semanal e correm atrás das drogas. Quem atua na área do Direito percebe claramente que a droga está na raiz de mais da metade dos crimes. De fato, os roubos, assaltos, latrocínios são em geral praticados por pessoas que agem sob o efeito de drogas ou cuidam de seu transporte e distribuição.

O tormento nas penitenciárias brasileiras, que causa perplexidade interna e externamente, é claro reflexo da luta pelo controle do milionário mercado de venda de drogas.

O adolescente que na garupa da uma moto atira aleatoriamente após extorquir a vítima assim age não por pretender comprar uma roupa nova ou sair com a namorada. Ele precisa do dinheiro para adquirir droga ou para pagar ao fornecedor – se não quitar a dívida, pagará com a própria vida.

Em escala maior, nos grandes centros o craque corrói a vontade e a saúde de milhares de pessoas, escravizadas pelo vício e incapazes de dirigir a própria vida. Esse fenômeno social é crescente e ultrapassa a anêmica vontade dos administradores públicos responsáveis pelo combate aos traficantes.

Triste ver nesse terreno de areia movediça que as pessoas se afundam e não conseguem voltar à superfície, movidas pelo engano de preferir – muito mais – a droga à própria vida. De outro ângulo, assusta a frieza do governo federal, que até o momento não fez emergir um plano eficaz que tenha a ventura de proteger a sociedade e livrar do sofrimento as famílias atingidas pelo desastre das drogas.

Décadas atrás o Brasil foi capaz de idealizar um programa de combate à aids, revestido de êxito, mas até agora, apesar do agravamento, nada que mereça respeito foi feito para enfrentar a produção, o tráfico e a distribuição de drogas às pessoas.

Quando concorreu à Presidência da República, o ministro José Serra disse que estava assustado por não termos um plano verdadeiro de combate às drogas. Agora ele está na posição-chave, como ministro das Relações Exteriores, porque a produção de cocaína, craque e maconha é feita em países amigos – Venezuela, Colômbia e Paraguai. Um bom trabalho diplomático com os vizinhos poderia ter melhor efeito do que deixar nossas polícias enxugando gelo.

Se a droga for produzida, o traficante sempre encontrará uma forma de fazê-la chegar ao consumidor, por mil artifícios. O Brasil tem aproximadamente 8 mil quilômetros de fronteiras secas, impossíveis de fiscalização permanente, por sua enorme extensão. Além disso, nosso litoral é também imenso e a qualquer hora da noite um barco pode aproximar-se da praia e descarregar uma tonelada de cocaína sem que ninguém veja.

Para enfrentar essa estratégia do mal, aperfeiçoada por décadas de combate ineficiente, o Brasil precisa de um plano nacional. No momento esse trabalho está concentrado apenas na fiscalização de umas minguadas fronteiras.

O presidente da Bolívia, a quem Lula chamava de “o companheiro Morales”, é produtor de coca (a planta) e chegou a dizer publica e hipocritamente que a cocaína não é um problema em seu país. Não é mesmo, os bolivianos tomam um chá feito com folha de coca, não ofensivo à saúde, assim como no Sul tomamos chimarrão. Se tivesse um mínimo de dignidade pessoal, Evo Morales atuaria para impedir a produção de cocaína, que é quase toda enviada para o Brasil.

Paraguai, Venezuela e Colômbia são, como dito acima, países também amigos e neles a produção da droga constitui antigo e lucrativo negócio de quadrilhas organizadas – tão organizadas que nem mesmo a ação conjugada com o governo norte-americano conseguiu impedi-las. Para os nossos vizinhos a imagem do Brasil não está contaminada por preconceitos “imperialistas” e por isso uma ação diplomática não seria mal recebida.

A importância econômica do Brasil e o destaque alcançado no continente permitiriam que o governo brasileiro se empenhasse num trabalho diplomático voltado para a redução da produção de drogas. Desnecessário repetir que o prazer fugaz e enganoso proporcionado pela droga destrói vidas, destroça famílias e necrosa gradativa e crescentemente o tecido social. É incrível que isso continue a acontecer tendo como expectadores nossos representantes no Congresso Nacional e no governo federal.

O pior nesse quadro sombrio e desanimador é que surgem a toda hora, lamentavelmente, como estímulos à disseminação das drogas, vozes bastante lúgubres anunciando, por exemplo, que a maconha não é danosa para o organismo humano e tampouco vicia. São afirmações sempre alcançadas por boa dose de suspeição.

A maconha talvez seja a mais danosa de todas as drogas, porque representa o início do plano inclinado na vida dos que a experimentam. Esforços isolados são feitos junto à iniciativa privada, a universidades e associações de classe, todas voltadas para a tentativa de recuperação dos viciados.

Tudo isso é necessário e merece estímulo, mas sem nenhuma dúvida falta uma ação programada de governo, um plano, enfim, que alimente a luta contra a produção de drogas. Sem a presença das drogas a criminalidade crescente, que destrói vidas e destroça as famílias, poderá gradativamente arrefecer, criando um clima de esperança para cada um de nós.

É nosso dever, em defesa dos e nossos filhos, netos e da família, não ficar de braços cruzados e aprender a cobrar, sempre, esforços verdadeiros e permanentes dos governantes. Não é possível que faltem inteligência e coragem.

Aloisio de Toledo Cesar
DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO GOVERNO DO ESTADO.
O Estado de S.Paulo

sábado, 28 de janeiro de 2017





Como a maconha afeta o cérebro adolescente.


O uso pesado de maconha na adolescência pode estar relacionado a maior risco de morte antes dos 60 anos, sugere um novo estudo. A pesquisa reforça a tese de que o impacto da droga na saúde e no comportamento depende diretamente da idade de contato inicial e do padrão de uso. O trabalho, realizado pelo Instituto Karolinska, da Suécia, avaliou 45 mil homens que fizeram o serviço militar obrigatório no país entre 1969 e 1970. Eles foram acompanhados até 2011. Os pesquisadores registraram 4 mil mortes em 42 anos. Aqueles que haviam feito uso pesado de maconha (definido como ter consumido a droga mais que 50 vezes na adolescência) apresentaram um risco 40% maior de morrer precocemente do que aqueles que nunca a fumaram.

Os especialistas arriscam as razões para essa associação: usuários pesados de maconha tenderiam a fumar tabaco com maior frequência, ter um pior padrão alimentar, apresentar saúde mais precária e, ainda, maior incidência de câncer de pulmão e de problemas cardíacos. Os dados, publicados no periódico American Journal of Psychiatry, mostram também que o risco de morte por suicídio e acidentes é diretamente proporcional à quantidade de droga usada na adolescência.

O cérebro do adolescente, ainda em franco desenvolvimento, pode ser mais sensível (tanto do ponto de vista biológico como emocional) aos efeitos de qualquer tipo de droga. Assim, há um risco maior de consequências do abuso de substâncias em um momento potencialmente mais crítico de formação de redes e circuitos neuronais.

Estudos anteriores já davam uma dimensão desses riscos. Alguns dos mais frequentes são piora cognitiva (padrões mais pobres de Q.I., por exemplo), maior chance de quadros psicóticos, impulsividade, falta de motivação, dificuldades persistentes de memória e desenvolvimento inadequado do córtex pré-frontal (área do cérebro ligada a julgamento, pensamento complexo e tomada de decisões). Outros trabalhos também já elencam possíveis impactos econômicos e sociais, de longo prazo, com esse padrão de uso mais precoce e mais frequente de maconha, como dificuldades nos relacionamentos interpessoais, menor qualificação no trabalho, salários mais baixos e problemas financeiros.

Esses achados reforçam a ideia de que a dose e o momento do contato com a maconha podem ter impacto de forma distinta na saúde e no comportamento das pessoas. Com leis mais flexíveis de consumo em boa parte do mundo, é importante que esses pontos sejam levados em consideração na formulação de políticas públicas.

*Jairo Bouer é Colunista de ÉPOCA - É médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde.