Internação Involuntária - Coerção com compaixão.
Todos
os países democráticos e desenvolvidos permitem, sob algumas condições, que
seus cidadãos sejam internados ou submetidos a tratamentos psiquiátricos com
algum grau de coerção. Na Suécia, 30% de todas as internações são por medidas coercitivas.
Os EUA talvez seja o pais com maior número desse tipo de tratamento. Com o
desenvolvimento das chamadas “Drug Courts”, que são responsáveis por oferecerem
tratamentos para os usuários de drogas como uma opção à prisão, criou-se um
sistema bem organizado de estimulo não só para a busca, mas também para a
retenção no tratamento, com centenas de milhares de pessoas já tratadas dessa
forma. Vários estudos mostraram que essa abordagem obtem melhores resultados do
que a busca voluntária de ajuda. O National Institute of Drug Abuse (NIDA) que
é o órgão governamental responsável pelas pesquisas e pela influência nas
políticas do país, recentemente lançou um consenso sobre esse assunto e um dos
item claramente resume: “O tratamento para ser efetivo NÃO precisa ser
voluntário”.
A
própria Organização Mundial da Saúde em documento de 1996 chamado de “Leis
sobre os cuidados em Saúde Mental: Dez princípios básicos”, reconhece que em
algumas condições é possível alguma coerção: “No caso da pessoa com transtornos
mentais estar incapaz de consentir sobre o seu tratamento, ..., deveríamos ter
alguém responsável para decidir (parente, amigo ou um autoridade) qual seria a
melhor alternativa”.
No
Brasil todos os dias são feitas dezenas de internações coercitivas. Um bom
número determinadas pela justiça, chamadas de “Compulsórias”, e um numero
também substancial determinadas pelos médicos em parceria com as famílias,
chamadas “Involuntárias”. A grande maioria das internações involuntárias ocorre
no sistema privado de saúde. A experiência dos médicos, familiares e dos
próprios pacientes é muito positiva. A maioria dessas internações
transformam-se, após 2-3 semanas em voluntárias, e os pacientes terminam o
tratamento harmonicamente com o médico e familiares. Raramente um paciente
troca de médico devido a uma internação involuntária, pois acaba reconhecendo
que a decisão foi feita com a melhor das intenções.
Um
bom exemplo ocorre em São Paulo. No começo de 2012, por iniciativa do
Governador Geraldo Alckmin, foram criados 30 leitos para grávidas usuárias de
drogas, algumas delas internadas involuntariamente. Esse programa está
funcionando muito bem, com muitas delas adolescentes, sendo tratadas de uma
forma humana e profissional, e seus filhos protegidos.
Numa
democracia o direito a vida deveria superar todos os outros direitos, e as
internações involuntárias ou compulsórias, desde que feitas dentro da lei, pode
ser uma excelente oportunidade para protegermos uma população vulnerável,
especialmente os usuários de crack que perambulam pelas ruas e que colocam a
sua vida e dos demais em risco.
Ronaldo
Laranjeira
Professor Titular de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP
Nenhum comentário:
Postar um comentário