Diretrizes para tratamento de dependentes químicos
Abead
participa da formulação de diretrizes para tratamento de dependentes químicos
durante CBP
Um simpósio realizado na tarde
desta quarta-feira (10/10), no XXX Congresso Brasileiro de Psiquiatria,
apresentou as diretrizes para tratamento de dependentes químicos, formuladas
pela Associação Médica Brasileira, Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação
Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.
Quase trezentas pessoas estiveram presentes no evento, que é resultado do
processo de revisão, iniciado em 2010, de todas as evidências científicas
existentes relacionadas ao uso de álcool e outras drogas. A mesa foi dirigida
pela cardiologista Nathalia Carvalho de Andrade, que trabalha no projeto
Diretrizes, da AMB.
Crack/Cocaína
A pesquisadora Ana Cecília Marques apresentou as
diretrizes para o tratamento de usuários de crack e/ou cocaína. Ela falou sobre
o processo histórico do consumo de cocaína e de crack e afirmou que,
atualmente, “o Brasil é o primeiro mercado consumidor de cocaína no mundo”.
Múltiplas
substâncias
Em seguida, a professora Renata de Azevedo falou
sobre o uso de múltiplas substâncias. De acordo com a pesquisadora, o uso de
mais de uma droga é muito frequente, sendo que o álcool está presente na
maioria das associações.
Renata Azevedo destacou que o uso combinado de
drogas pode produzir apresentações clínicas atípicas e mais graves. Ela afirmou
que, entre as razões para o uso de múltiplas drogas, está a necessidade do
usuário de sentir um efeito mais intenso, para diminuir desconforto e também
por questões de contexto – moda, acesso e grupo social.
Inalantes
Sobre inalantes, a coordenadora do Departamento de
Dependência da AMB, Alessandra Diehl, afirmou que o uso da substância tem
relação com baixo nível sócio-econômico e problemas sociais. Uma em cada cinco
pessoas que experimentam inalantes desenvolve abuso ou dependência. Também segundo
a pesquisadora, cerca de um ano após o primeiro uso, o indivíduo pode se tornar
dependente. “É uma epidemia silenciosa, que tem sido negligenciada e esquecida,
tanto do ponto de vista dos estudos científicos, quanto das ações
governamentais”, afirmou.
Entre as dificuldades para o combate ao uso de
inalantes está a facilidade de acesso, o baixo custo e o fato de não serem
consideras substâncias ilegais. O uso é feito com mais frequência por meninos,
geralmente com baixo desempenho escolar e oriundos de famílias desestruturadas.
Club Drugs
O psiquiatra especialista em dependência química
Elton Pereira Rezende falou sobre as club drugs, substâncias químicas que foram
usadas inicialmente por jovens na cultura rave e que, atualmente, são usadas em
diferentes situações, com finalidades diversas – desde transrreligiosas até a
busca por melhor desempenho sexual. Entre as mais usadas estão o LSD, a
metanfetamina e o êxtase. O estudioso destacou que todas essas drogas tiveram
um objetivo médico inicial.
Anfetaminas
O psiquiatra Félix Henrique Kessler apresentou o
capítulo sobre anfetaminas. Os primeiros relatos de abusos da droga surgiram na
década de 1930. Segundo o estudioso, hoje, entre 30 e 40 milhões de pessoas
consomem anfetamina em todo o mundo e o uso vem aumentando em países em
desenvolvimento, como o Brasil. Ele lembrou que o uso de anfetaminas para fins
terapêuticos, no país, foi proibida ano passado.
Maconha
O tratamento de dependentes de maconha foi
apresentado pelo pesquisador Hercílio Pereira. Relatório das Nações Unidas
estimou para 2009 uma prevalência anual de usuários da maconha entre 125 e 203
milhões em todo o mundo, o que a torna a droga mais usada. No Brasil, um estudo
de 2005 apontou prevalência de uso na vida de 8,8% da população brasileira.
Segundo o pesquisador, 9% dos indivíduos que usam maconha vão preencher
critérios de dependência ao longo da vida.
O uso da droga, de acordo com pesquisas, pode
aumentar em 6 vezes o risco de esquizofrenia e em 2,1 vezes o desencadeamento
de sintomas psicóticos, invalidando, para Hercílio Pereira, a tese de que a
droga não faz mal, sendo passível de legalização.
Opiáceos e
opióides
A psiquiatra Fernanda Lia de Paula Ramos falou
sobre opiáceos e opióides. Segundo ela, os medicamentos são prescritos mais por
médicos não psiquiatras, geralmente para casos de dor. Os Estados Unidos são os
maiores consumidores de opióide no mundo e têm grande prevalência de heroína.
Já o Brasil é o maior consumidor de analgésicos opióides da América do Sul.
Aqui, a prevalência de dependência está entre médicos, com 22,7%.
De 37 a 85% dos dependentes de opióides tem pelo
menos um diagnóstico psiquiátrico.
Álcool
O capítulo sobre álcool foi relatado pelo
pesquisador Marcos José Barreto Zaleski. Dados apontam que 48 % da população
geral se declara abstêmica de álcool. O consumo de álcool é responsável por
adoecer 12% da população brasileira. Entre os fatores de risco que levam ao
início do consumo estão a propaganda, a pressão social, a predisposição
genética, a curiosidade, o modelo familiar e a falta de políticas públicas. A
bebida pode ser considera a primeira droga experimentada pelos jovens.
* Informações da Associação
Brasileira de Psiquiatria