quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017



ENTENDA POR QUE A MACONHA SINTÉTICA É TÃO PERIGOSA.


A maconha sintética, também chamada de K2 ou Spice, tem ganhado popularidade no Brasil e fora do país. Nos Estados Unidos, por exemplo, seu uso é bastante comum entre adolescentes e militares, já que a estrutura química da droga não é identificada em testes padrão para detectar o uso de maconha.

Mas relatos de médicos e estudos científicos têm chamado atenção para os perigos dessa versão produzida em laboratórios de fundo de quintal. Um trabalho que acaba de ser publicado pela Universidade de Arkansas aponta efeitos graves como convulsões, psicose, dependência, AVC, lesões renais, problemas cardíacos e morte.

O principal composto psicoativo da maconha, o THC, é conhecido por ativar dois receptores canabinoides, o CB1 e CB2, que estão espalhados pelo corpo humano. Os pesquisadores descobriram que a versão sintética ativa o primeiro receptor numa intensidade que a erva jamais seria capaz de alcançar. Além disso, ele dizem que, por ser quimicamente diferente do THC, a maconha sintética ativaria outros receptores, além do CB1 e CB2, o que explicaria os efeitos potencialmente fatais.

Em artigo publicado no periódico Trends in Pharmacological Sciences, os pesquisadores alertam que os usuários nunca sabem o que vão consumir, pois a quantidade de composto ativo varia muito não só entre os laboratórios, como também de lote para lote. Eles ainda observam que as pessoas, hoje, tendem a ver tudo o que é rotulado como maconha como mais seguro, o que não é verdade, especialmente no caso das drogas sintéticas.

Blog - UOL - Dr. Jairo Bouer

Fonte: Departamento de Justiça dos EUA

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017





SE VOCÊ BEBE PARA ESQUECER, ESTÁ PERDENDO TEMPO:
O ÁLCOOL REFORÇA AS LEMBRANÇAS RUINS.


Elena Gómez

O famoso "beber para esquecer" pode ter se tornado página virada. Embora seja verdade que uma boa bebedeira pode levar a pessoa a não se lembrar de tudo o que fez no dia seguinte, as coisas ruins (exatamente as que queremos apagar da memória) podem se agarrar ao nosso cérebro de modo mais ferrenho do que se não bebêssemos.

É isso que revela um estudo publicado pela revistaTranslational Psychiatry, elaborado por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA). Dividiram ratos de laboratório em dois grupos: um bebeu água durante duas horas, e ao outro foi dada grande quantidade de álcool no mesmo intervalo de tempo. Posteriormente, ambos grupos foram submetidos a um som determinado, seguido por uma descarga elétrica. No dia seguinte, os roedores escutaram o mesmo som, mas dessa vez sem que fosse seguido pelo choque. Os resultados mostraram que os ratos que haviam sido embriagados tinham mais medo (lembravam melhor da descarga) que aqueles que tinham bebido água.

A conclusão do trabalho é que o álcool perpetua a sensação de medo: a extinção dessa recordação exige receptores do neurotransmissor glutamato (substância relacionada à memória), e quando os compostos do álcool se unem a esses receptores, interferem nas sinapses (comunicação neuronal), levando a que os animais que beberam álcool “não se acostumem ao estímulo e não esqueçam a experiência prévia ruim”, explica o neurologista Pablo Irima, diretor da Sociedade Espanhola de Neurologia.

Tal neurotransmissor (envolvido na eliminação da recordação) não se dá bem com a bebida. “O glutamato produz rejeição ao álcool. Costuma-se usá-lo no hospital para que os pacientes parem de beber" diz o psiquiatra e presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, Julio Bobes.

Distrai, mas não apaga os traumas.

Que o álcool nos faz recordar as coisas mais facilmente é algo que tinha sido evidenciado por um estudo da Universidade do Texas (EUA) em 2011. De acordo com essa pesquisa, tomar uma dose ativa certas regiões do cérebro relacionadas exatamente ao aprendizado e à memória.

Mesmo assim, a ideia de que beber é uma boa forma de afastar as más recordações é tão difundida que até esse estudo afirma que a maioria das pessoas afetadas por diversos traumas (entre 60% e 80%) ingere álcool compulsivamente. “Muitos pacientes com estresse pós-traumático se embebedam com a finalidade de fugir da situação, esquecer ou dormir com mais facilidade”, acrescenta Irima. E os pesquisadores concluem: “Se os efeitos do álcool nas lembranças desagradáveis forem semelhantes nos humanos, nosso trabalho pode ajudar a entender melhor como funcionam essas memórias e como focar melhor as terapias em pessoas que apresentam estresse pós-traumático”.







FALTOU PRUDÊNCIA.

Opinião - Estadão

Homens públicos, especialmente os que desempenham funções que podem mudar a vida dos cidadãos, devem se pautar sempre pela prudência ao se manifestar. Ao contrário das pessoas comuns, cuja opinião, isoladamente, não tem quase nenhum efeito sobre as decisões de maior impacto para o País, esses homens públicos não podem expor o que pensam sem antes pesar cuidadosamente suas palavras, pois estas, de uma forma ou de outra, terão peso no debate nacional – e uma opinião exposta de forma inconsequente pode ajudar a distorcer esse debate, levando a conclusões deletérias para o País. Assim, causou espanto a ligeireza com que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tratou recentemente da questão da legalização do uso de drogas.

Em uma conversa com jornalistas no dia 1.º passado, Barroso disse que a crise no sistema penitenciário enseja “agudamente” a discussão sobre as drogas, pois a atual política de repressão ao narcotráfico acaba por colocar nas cadeias jovens “que não são perigosos” e que, segundo seu raciocínio, ali se tornarão verdadeiros criminosos. O ministro sugeriu então que se fizesse uma experiência, legalizando primeiro a produção, a distribuição e o consumo de maconha, taxando o produto como se faz com o cigarro.

“A primeira etapa, ao meu ver, deve ser a descriminalização da maconha. Mas não é descriminalizar o consumo pessoal, é mais profundo do que isso. A gente deve legalizar a maconha”, perorou Barroso, como se estivesse em uma mesa de bar. “Isso quebra o poder do tráfico. Porque o que dá poder ao tráfico é a ilegalidade”, continuou ele, seguro de que descobriu a fórmula mágica para acabar, de uma vez por todas, com essa terrível chaga mundial. A certeza é tanta que Barroso foi além: “Se der certo com a maconha, aí eu acho que deve passar para a cocaína e quebrar o tráfico mesmo”.

A impropriedade da afirmação do ministro do STF, que deveria se limitar a se pronunciar nos autos dos processos que julga, só não é maior do que sua afetada ingenuidade. Qualquer um minimamente informado sabe que não basta legalizar uma ou outra droga para “quebrar o tráfico”. Mesmo que todas as drogas fossem legalizadas o tráfico não acabaria, pela simples razão de que a regulamentação do comércio de drogas forçaria a criação de um mercado paralelo, em que os entorpecentes seriam vendidos por preços mais baixos. É o que acontece, por exemplo, com a indústria do tabaco, que enfrenta o contrabando de cigarros, que hoje representa 30% do mercado nacional.

É ocioso, contudo, opor argumentos racionais às alegações de Barroso, porque se trata de uma falsa questão. O consumo de entorpecentes já está, na prática, descriminalizado, a julgar pelo que vai na Lei Antidrogas (11.343/06). A questão, para Barroso, é a prisão dos que ele chama de “pequenos traficantes”. Segundo o ministro, “um dos grandes problemas que as drogas têm gerado no Brasil é a prisão de milhares de jovens, com frequência primários e de bons antecedentes, que são jogados no sistema penitenciário”.

São, diz ele, “pessoas que não são perigosas quando entram, mas que se tornam perigosas quando saem”. O ideal, portanto, seria “superar preconceitos” e “lidar com o fato de que a guerra às drogas fracassou e agora temos dois problemas: a droga e as penitenciárias entupidas de gente que entra não sendo perigosa e sai perigosa”.

Ora, a seguir-se a lógica do ministro Barroso, a crise penitenciária estará resolvida no dia em que nenhum jovem for conduzido à cadeia, seja por que crime for. Em vez de lutar para melhorar as prisões, basta que se rasguem os diplomas legais. A esse ponto chegou o ativismo que ora impregna os discursos e as atitudes de muitos hoje no Judiciário, a começar por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem justamente cabe guardar a Constituição, e não reinventá-la. Esquece-se também o ministro que é o dinheiro que um jovem bem nascido dá ao inofensivo passador de “pacos” que paga a bala que matará uma mãe, um pai, uma criança. A esse ponto não chega a preocupação do cidadão que exerce seu sagrado direito de dar palpites.


Por fim, mas não menos importante, a questão das drogas não pode jamais ser tratada com leviandade. As cracolândias espalhadas pelas grandes cidades mostram os efeitos das drogas para quem quiser ver. Não é com inconsequência, travestida de humanismo, que esse problema será resolvido.




SEM AÇÕES INTEGRADAS, COMBATE AO CRACK FALHA.


Nas praças, debaixo de viadutos ou em cantos das sete cidades, é comum ver pessoas em situação de rua consumindo crack. O cenário, cada vez mais preocupante, evidencia políticas públicas pouco efetivas voltadas à recuperação desse grupo.

Embora relatório divulgado nesta semana pela OSF (Open Society Foundations) mostre que projetos como o programa De Braços Abertos, da Capital, e exemplos semelhantes no Rio de Janeiro e em Pernambuco, – que não exigem abstinência dos usuários de drogas como pré-condição para serem incluídos nos programas de assistência e oferecem moradia, treinamento e oportunidade de retorno ao mercado de trabalho –, sejam o caminho tido como eficaz para a reinserção dos usuários na sociedade, nenhuma das sete cidades mantém ações estruturadas do tipo ou manifestaram que planejam avançar no tema.

Basicamente, na região, o assunto é tratado de forma isolada pelas equipes de Saúde mental via rede de atenção psicossocial. Com exceção de Santo André, nenhuma administração destacou ter o problema mapeado.

Para o integrante do Movimento Nacional de Direitos Humanos Ariel de Castro Alves, falta integração da área de Saúde pública com os setores de Educação, Habitação, trabalho e assistência social. “Os programas, para terem êxito, precisam ser multidisciplinares e intersetoriais”, fala.

A psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora da comissão de dependência química da Associação Brasileira de Psiquiatria compartilha do argumento. “Medidas restritas a uma parte só da política pública não funcionam. Elas precisam ser articuladas.”

Para o psiquiatra e diretor do Inpad (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas) Ronaldo Laranjeira, falta combate à proliferação do tráfico nas ruas. “Se o setor de Segurança não tiver estratégia, vamos continuar tendo cracolândias.”

COMO FUNCIONA

Em Santo André, onde o número de dependentes em situação de rua varia entre 100 e 125 pessoas, a Prefeitura diz que projeto em fase de elaboração visa dar oportunidade de emprego, já que muitas vezes a pessoa é retirada da rua e, se não tem encaminhamento, volta para o lugar de uso.

Ribeirão Pires, que atende na rede de Saúde 560 pacientes usuários de crack, ressalta que dispõe de oficinas geradoras de renda, para estimulá-los a desenvolver o autossustento.

Mauá diz que não atua com a classificação sobre qual tipo de droga levou o paciente ao tratamento e contabiliza 1.564 pacientes atendidos no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas).

As demais cidades não informaram suas ações.


Vanessa de Oliveira Do Diário do Grande ABC.

sábado, 4 de fevereiro de 2017





MACONHA E CIGARRO CEDO.


Quem usa a droga antes dos 14 tem pior performance em testes cognitivos na vida adulta.

Novos estudos divulgados na última semana sugerem a necessidade de uma atenção redobrada com a idade em que os jovens estão começando a usar maconha e com o uso de cigarros pelas adolescentes grávidas.

O primeiro trabalho mostra que adolescentes que iniciam o consumo de maconha antes dos 14 anos têm pior performance em testes cognitivos quando atingem o início da vida adulta, aos 20. Eles também apresentam pior memória de curto prazo e maior probabilidade de abandonar a escola. Em contrapartida, os jovens que entram em contato com maconha a partir dos 17 anos não apresentaram essas alterações.

Estatísticas recentes revelam que o consumo de maconha entre os jovens tem aumentado em boa parte do mundo ocidental. Um terço deles teria a primeira experiência com a droga antes dos 15. Mesmo nos países que legalizaram a maconha, ela é proibida antes dos 18, da mesma forma que o cigarro.

Os pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, acompanharam cerca de 300 garotos entre os 13 e os 20 anos. Desses, 43% experimentaram maconha em algum ponto da vida, a maioria apenas algumas vezes ao ano. Para os especialistas, as dificuldades cognitivas podem estar associadas tanto aos efeitos da droga como a mecanismo sociais, uma vez que, abandonando a escola ou tendo mais dificuldade para aprender, os jovens perderiam oportunidades de desenvolver toda sua capacidade intelectual. As informações foram divulgadas pelo jornal britânico Daily Mail.

Os cientistas lembram que é importante trabalhar dentro de uma perspectiva realista, ou seja, de que muitos jovens vão entrar em contato com maconha em algum ponto da vida, e que uma minoria terá problemas concretos. A atenção deve ser maior com aqueles que usam com maior frequência, em maior quantidade e com os que começam muito cedo. Na pesquisa, os que começaram aos 17 tiveram desempenho cognitivo semelhante ao dos que nunca experimentaram a droga.

O que vale para outras drogas também vale, provavelmente, para maconha. A fase antes dos 15 é muito importante para a formação da rede de neurônios, que vai determinar nossa capacidade intelectual. Nesse sentido, eventuais impactos negativos da droga no sistema nervoso central podem ser mais “poderosos” nesse momento.

Além disso, essa é uma fase crucial (tanto do ponto de vista biológico como emocional) para a determinação do padrão de uso da droga, que pode ser eventual ou frequente – neste caso, com maior risco de abuso. Não é à toa, por exemplo, que quase 90% dos fumantes de cigarro na vida adulta começaram antes dos 15 anos.

Adolescentes grávidas. Por falar em cigarro, nova pesquisa divulgada nos EUA revela aumento de 19% no número de adolescentes grávidas que fumam. Para os cientistas, a causa seria a maior regulação na venda de cigarros eletrônicos antes dos 18 anos. Sem alternativas para “largar” o cigarro tradicional, as garotas continuariam a fumar mesmo durante a gestação.

Em geral, ao engravidar, mulheres adultas e adolescentes tentam abandonar o cigarro. Mas, desde 2010, a tendência de aumento no número de garotas fumantes tem se intensificado, o que coincide com o maior controle na venda dos dispositivos alternativos de liberação de nicotina.

Os pesquisadores das universidades americanas de Princeton e de Cornell revisaram dados de 550 mil nascimentos fornecidos pelo Centro Nacional de Estatísticas em Saúde (NCHS) e informações dos Centros de Controle de Doenças (CDC) sobre as leis regulando a venda dos dispositivos eletrônicos.

Apesar de polêmicos, uma vez que ainda não estão claros os efeitos negativos dos cigarros eletrônicos para a saúde e para a gravidez, trabalhos sugerem que eles podem ser menos nocivos do que os cigarros tradicionais. É bom lembrar que nos últimos anos houve um aumento expressivo no uso dessas fontes alternativas de nicotina, principalmente entre os mais novos: 9 milhões de americanos e 2,5 milhões de britânicos já usam os dispositivos eletrônicos. Em 2014, eles ultrapassaram o número de usuários de cigarro tradicional nesses países. As informações são também do jornal Daily Mail. No Brasil, esse uso é ainda bem mais modesto.


Jairo Bouer