Álcool
e mulheres: cenário atual.
Quando são feitas comparações entre
homens e mulheres em relação ao consumo de bebidas alcoólicas no Brasil e no
mundo, em geral, vemos que os homens bebem mais, com maior índice de abstenção
entre mulheres. Talvez, a menor aceitação social e cultural para o consumo
feminino funcione como um fator de proteção em nosso país. Entretanto, com o
passar dos anos, fatores sociais e culturais sofreram rápidas e profundas
modificações e a preocupação com o consumo de álcool entre mulheres é um tema
muito presente nos dias de hoje. Em diversos países, o padrão de consumo de
álcool por mulheres caminha para a igualdade em relação ao padrão masculino, o
que poderá representar desigualdade nos resultados para a saúde, de acordo com
a maior vulnerabilidade delas para as consequências negativas do beber pesado
(saiba mais:
http://www.cisa.org.br/artigo/5187/consumo-alcool-saude-mulher.php).
Relatório
sobre consumo de álcool nas Américas – Organização Panamericana da Saúde (OPAS)
De acordo com a OPAS,
escritório regional da OMS, na região das Américas:
- houve aumento na
frequência de BPE de 4,6% para 13% nos últimos 5 anos, entre mulheres;
- a cerveja é a bebida de
preferência para a maioria dos 36 países que compõem a região, apesar de em
alguns países predominar o vinho ou destilado;
- o consumo de álcool entre
mulheres é menor que entre homens e o tamanho desta diferença varia de um país
para o outro. No Brasil, é 3 vezes menor, e por exemplo, na Guatemala, é até 15
vezes menor;
- a proporção de mulheres
que apresentam algum transtorno por uso de álcool equivale a 3,2%, o que
representa a maior taxa mundial quando são comparadas todas as regiões, seguida
da região composta pelos países europeus.
Relatório
Global sobre Álcool e Saúde 2014 – Organização Mundial da Saúde (OMS)
De acordo com a OMS,
estima-se que em 2010, no Brasil:
- o padrão de risco Beber
Pesado Episódico (BPE), ou consumo de 60 gramas ou mais de álcool em uma única
ocasião, apesar de ser mais comum entre homens, esteve presente em 11% das
mulheres que consomem álcool;
- cerca de 30% das mulheres
nunca beberam, e 12,4% não beberam no último ano.
II
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD II)
Segundo o relatório nacional
divulgado em 2014, houve aumento importante do consumo de álcool entre as
mulheres ao longo dos anos anteriores. Como se pode verificar na tabela abaixo,
entre os anos de 2006 e 2012, houve aumento tanto no uso regular como no BPE,
que foi definido para mulheres como o uso de quatro ou mais doses em
aproximadamente 2 horas.
Tabela 1. Comparação entre
2006 e 2012 do uso regular e uso em BPE de álcool
Ainda, verificou-se que o consumo
precoce aumentou: em 2006, 16% dos homens e 8% das mulheres relataram ter
experimentado álcool com menos de 15 anos. Em 2012, os dados foram de 24% e
17%, respectivamente.
Levantamento Nacional sobre o Uso de
Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras
Entre os principais resultados,
verifica-se que o álcool é a substância mais utilizada entre universitários de
ambos os sexos, com aproximadamente 90% tendo relatado consumo na vida.
Gráfico 1. Prevalência de
uso de álcool de acordo com o período (%), 2010
São
Paulo Megacity
Estudo realizado com adultos da
Região Metropolitana de São Paulo mostrou que aproximadamente 22% dos
entrevistados eram abstêmios (32% das mulheres e 9% dos homens), 18% fizeram
uso pesado de álcool nos últimos 12 meses (26% dos homens e 10% das mulheres).
O maior consumo de bebidas alcoólicas
entre mulheres esteve relacionado a maior grau de instrução e melhores
condições econômicas.
Embora homens sejam duas vezes mais
propensos a fazer uso pesado de álcool que mulheres, houve semelhança entre
proporção e tipos de problemas decorrentes do uso, quando trata-se de beber
pesado (problemas interpessoais, danos não intencionais, prejuízos sociais, uso
continuado apesar dos problemas).
Os autores esclarecem que com a
mudança do papel da mulher na sociedade e o direcionamento para uma igualdade
entre gêneros - na qual as mulheres estão investindo mais em educação,
trabalhando fora de casa, adotando hábitos anteriormente vistos como
masculinos, aumentando o consumo de bebidas alcoólicas, as diferenças em
relação às consequências do uso do álcool diminuem. Além disso, o aumento de
consumo da bebida pelas mulheres pode estar associado ao estresse da dupla
jornada de trabalho diário.
Considerações
finais.
Ao longo dos últimos anos está havendo
uma convergência do uso de álcool entre os gêneros, com maior aceitação social
do uso pela mulher. A vulnerabilidade do organismo feminino perante os efeitos
do álcool é algo preocupante e merece atenção em termos de políticas públicas.
O uso excessivo de álcool por
mulheres aumenta o risco para câncer de mama, doenças cardíacas, doenças
sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, além de outros problemas.
Mulheres em período fértil que usam álcool e não realizam contracepção correm o
risco de causarem danos ao recém-nascido caso engravidem (saiba mais:
http://www.cisa.org.br/artigo/4763/sindrome-alcoolica-fetal.php).
Trata-se de um cenário relativamente
novo e é preciso direcionar a atenção para medir os problemas associados já
conhecidos e possivelmente novos problemas que possam surgir. Os dados acima
citados refletem a necessidade de maior conscientização da população geral e
consequentemente de investimentos em programas de prevenção específicos e
adequados para este grupo.
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