terça-feira, 7 de março de 2017




Aumento do consumo de álcool por meninas: o que fazer.



Por Arthur Guerra de Andrade.


          Historicamente, o maior consumo de álcool sempre foi atribuído aos homens. Nos últimos anos, porém, as mulheres têm aumentado significativamente esse uso, não só em relação à quantidade, mas também à frequência.


          Um estudo global publicado neste mês pela BMJ Open analisou os hábitos de consumo de álcool de 4 milhões de pessoas durante um período de mais de um século, a partir da compilação de dados de 68 pesquisas internacionais publicadas entre 1891 e 2014, e mostrou que a diferença entre homens e mulheres com relação a esse comportamento tem diminuído cada vez mais. Os homens nascidos entre 1891 e 1910 apresentaram risco 3 vezes maior de beber de forma nociva e sofrer consequências negativas relacionadas ao álcool do que as mulheres nascidas na mesma época. Essa relação de risco diminuiu para 1,2 vez entre aqueles nascidos de 1991 a 2000, ou seja, praticamente não houve diferença entre os gêneros.


          É alarmante notar que essa mudança de padrões tem ocorrido também entre as adolescentes. Segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2015), entre estudantes com idade de 13 a 17 anos, mais de 20% das meninas e 28% dos meninos relataram já ter sofrido um episódio de embriaguez na vida. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2015 (IBGE, 2016), realizada com 10.926 estudantes nessa mesma faixa etária, também aponta índices semelhantes de episódio desse tipo: 26,9% entre as meninas e 27,5% entre os meninos. Isso significa que pelo menos 1 em cada 4 estudantes já se expôs a riscos importantes.



Por que as adolescentes estão bebendo mais?


          Outra população analisada pelo PeNSE foi a de alunos do 9º ano do ensino fundamental (entre 13 e 15 anos), também com dados preocupantes. Tanto a experimentação quanto o consumo atual de bebidas alcoólicas (nos 30 dias que antecederam a pesquisa) foram maiores entre as meninas: 56,1% versus 54,8% (experimentação) e 25,1% versus 22,5% (consumo atual):


- Um deles é o consumo do álcool por crianças e adolescentes, que é inaceitável, independentemente da quantidade;

- O outro é entender por que as meninas passaram a beber mais.


          Outra população analisada pelo PeNSE foi a de alunos do 9º ano do ensino fundamental (entre 13 e 15 anos), também com dados preocupantes. Tanto a experimentação quanto o consumo atual de bebidas alcoólicas (nos 30 dias que antecederam a pesquisa) foram maiores entre as meninas: 56,1% versus 54,8% (experimentação) e 25,1% versus 22,5% (consumo atual).


          Uma das hipóteses é que, semelhante ao que ocorre com os meninos, as adolescentes querem ser aceitas socialmente e o álcool faz parte desse cenário, pois ajuda a desinibir. Além disso, as jovens associam o uso do álcool com o perfil de poder e independência da mulher moderna que, atualmente, ocupa cargos de destaque na sociedade.


          Apesar de haver a equiparação socioeconômica entre os gêneros, é importante ressaltar que fisiologicamente as mulheres são mais sensíveis aos efeitos do álcool. Um dos motivos é a menor quantidade de água presente no corpo delas, e isso faz com que a substância fique muito mais concentrada em seu organismo. As mulheres também apresentam menores níveis das enzimas que metabolizam o álcool, demorando mais para eliminá-lo do organismo.


          As consequências frequentes do uso de álcool por jovens, em geral, são o blecaute alcoólico e a queda no desempenho escolar. Além disso, ainda podemos destacar o maior risco para sexo sem proteção, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e gravidez indesejada.


O que pode ser feito?


          Os dados mencionados reforçam a necessidade de desenvolver estratégias de prevenção considerando as particularidades de gênero e dando a devida atenção às mulheres. Pesquisas com essa população também são necessárias, para o melhor entendimento desse perfil e para o desenvolvimento de medidas específicas de tratamento.


          Vale ressaltar ainda que a família tem papel fundamental na prevenção do uso de álcool na adolescência, seja de meninos ou meninas. Existem alguns sinais clássicos, como:


- Problemas de comportamento;
- Queda no desempenho escolar;
- Falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas;
- Irritabilidade.


          Ao nota-los, os pais devem intervir imediatamente. A melhor maneira de fazer isso é conversar com os filhos de forma clara e tranquila sobre os prejuízos que o álcool pode causar, usando exemplos de situações reais.Trabalhar a autoestima dos filhos, destacando suas qualidades, e estimulá-los à prática de atividades prazerosas, como o esporte, também fazem parte da estratégia de prevenção. Mas, acima de tudo, mostrar parceria é o mais importante para que a medida tenha sucesso. Dar o exemplo, estar sempre aberto ao diálogo e ser amigo do seu filho, para que se estabeleça uma relação de confiança mútua, são passos importantíssimos para evitar o uso precoce - e sempre inapropriado - de álcool.

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