OPINIÃO
- LIBERAÇÃO DA MACONHA NÃO REDUZ O PODER DAS FACÇÕES CRIMINOSAS?
A eventual
descriminalização da comercialização da maconha não reduzirá, ao contrário do
que dizem defensores da medida, a violência e o poder das organizações
criminosas. Ou será que alguém realmente imagina que os chefões do PCC
(Primeiro Comando da Capital) vão pagar imposto?
O mercado do tabaco serve
de paralelo para a questão. Cerca de 36% do cigarro vendido no Brasil
atualmente é ilegal, a maior parte proveniente de contrabando do Paraguai. Em
alguns lugares, como o Paraná, chega a 50% do comercializado.
Segundo cálculos do Idesf
(Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira), o país deixa de
arrecadar cerca de R$ 5 bilhões por ano em tributos.
Assim como a droga, o
cigarro ilegal entra no país por meio do crime organizado. "São quadrilhas
violentas", afirma Paulo Kawashita, chefe da equipe da repressão aduaneira
da Receita Federal em Foz do Iguaçu.
Em janeiro do ano passado,
uma equipe da Receita em Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, foi atacada por
disparos de armas de fogo, inclusive de fuzis, após terem apreendido uma carga
de 1.250 caixas de cigarros.
"Já há indícios de que
traficantes e contrabandistas estão trabalhando em conjunto", diz Luciano
Barros, presidente do Idesf.
As quadrilhas se utilizam
de carros roubados, preparados cuidadosamente para disfarçar a mercadoria.
Possuem olheiros e batedores, que vão à frente da carga para informar sobre
eventuais barreiras e veículos policiais, e tecnologia sofisticada: rádios
comunicadores criptografados e detectores de rastreadores veiculares. Possuem
barcos também. "São profissionais", declara Kawashita, da Receita.
O lucro dos contrabandistas
é enorme. Um cigarro trazido ilegalmente do Paraguai chega ao consumidor em São
Paulo por R$ 3. Já o produto lícito não pode, de acordo com a legislação
vigente, custar menos de R$ 5 e, a depender do Estado, paga uma tributação que
varia de 75% a 84% do preço final.
A não ser que a intenção
seja a de incentivar largamente o consumo, é razoável supor que, se um dia for
realmente liberada no país, a maconha terá também, assim como o tabaco, de
sustentar uma carga alta de imposto.
Na prática, além de seguir
vendendo cocaína e outras drogas pesadas, roubar bancos, traficar armas e
promover sequestros, entre outros crimes, o PCC continuará a dispor de um amplo
mercado da maconha para explorar. Só que, em vez do tráfico, o fará por meio do
contrabando (cuja pena, aliás, é mais leve, de 2 a 5 anos de reclusão contra 5
a 15 anos).
Quanto maior o número de
usuários, maior será o poder dos criminosos.
Jornal Folha de S. Paulo
ROGÉRIO GENTILE DE SÃO
PAULO
Lalo de Almeida/Folhapress
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