sábado, 28 de janeiro de 2017





Como a maconha afeta o cérebro adolescente.


O uso pesado de maconha na adolescência pode estar relacionado a maior risco de morte antes dos 60 anos, sugere um novo estudo. A pesquisa reforça a tese de que o impacto da droga na saúde e no comportamento depende diretamente da idade de contato inicial e do padrão de uso. O trabalho, realizado pelo Instituto Karolinska, da Suécia, avaliou 45 mil homens que fizeram o serviço militar obrigatório no país entre 1969 e 1970. Eles foram acompanhados até 2011. Os pesquisadores registraram 4 mil mortes em 42 anos. Aqueles que haviam feito uso pesado de maconha (definido como ter consumido a droga mais que 50 vezes na adolescência) apresentaram um risco 40% maior de morrer precocemente do que aqueles que nunca a fumaram.

Os especialistas arriscam as razões para essa associação: usuários pesados de maconha tenderiam a fumar tabaco com maior frequência, ter um pior padrão alimentar, apresentar saúde mais precária e, ainda, maior incidência de câncer de pulmão e de problemas cardíacos. Os dados, publicados no periódico American Journal of Psychiatry, mostram também que o risco de morte por suicídio e acidentes é diretamente proporcional à quantidade de droga usada na adolescência.

O cérebro do adolescente, ainda em franco desenvolvimento, pode ser mais sensível (tanto do ponto de vista biológico como emocional) aos efeitos de qualquer tipo de droga. Assim, há um risco maior de consequências do abuso de substâncias em um momento potencialmente mais crítico de formação de redes e circuitos neuronais.

Estudos anteriores já davam uma dimensão desses riscos. Alguns dos mais frequentes são piora cognitiva (padrões mais pobres de Q.I., por exemplo), maior chance de quadros psicóticos, impulsividade, falta de motivação, dificuldades persistentes de memória e desenvolvimento inadequado do córtex pré-frontal (área do cérebro ligada a julgamento, pensamento complexo e tomada de decisões). Outros trabalhos também já elencam possíveis impactos econômicos e sociais, de longo prazo, com esse padrão de uso mais precoce e mais frequente de maconha, como dificuldades nos relacionamentos interpessoais, menor qualificação no trabalho, salários mais baixos e problemas financeiros.

Esses achados reforçam a ideia de que a dose e o momento do contato com a maconha podem ter impacto de forma distinta na saúde e no comportamento das pessoas. Com leis mais flexíveis de consumo em boa parte do mundo, é importante que esses pontos sejam levados em consideração na formulação de políticas públicas.

*Jairo Bouer é Colunista de ÉPOCA - É médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde.

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