Alcoolismo e
participação familiar.
A TRIBUNA Mato Grosso.
Considerada uma doença progressiva,
incurável e em muitos casos fatal, porém tratável, o alcoolismo prejudica a
vida não somente de quem consome a bebida, mas também dos que se relacionam com
o dependente.
Caracterizado pela vontade
incontrolável de beber, o alcoolismo é um fenômeno multifatorial que pode estar
associado à predisposição genética, ansiedade, angústia e insegurança. “Tudo
isso pode deixar a pessoa mais vulnerável à bebida. Além disso, condições
culturais, fácil acesso ao álcool e os valores que cercam o consumo também
influenciam a dependência”, alerta o terapeuta Márcio Belo, do Instituto
Persona de Campinas.
O tratamento, segundo o terapeuta,
pode envolver diversos profissionais de saúde como psiquiatras, psicólogos,
terapeutas, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. “O
reconhecimento da dependência e a vontade de querer mudar a situação são
necessários para o início do tratamento. É claro que cada caso é um caso e por
isso não existe um tratamento ideal e sim o melhor procedimento para um
determinado caso, ou seja, o tratamento é personalizado”, explica.
A família, no entanto, é peça-chave
tanto na prevenção do uso nocivo do álcool, como em casos nos quais o problema
já está instalado. Belo conta que não são poucas as vezes em que o tratamento
inicia-se pela família, principalmente porque o usuário de álcool não aceita
seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz
consequências negativas ou está desmotivado para buscar ajuda profissional.“Um
acompanhamento personalizado e dirigido aos familiares é importante para que
todos compreendam a doença e seus desdobramentos, com orientações adequadas
sobre qual a melhor forma de ajudar um ente querido e a si mesmo, já que a
família também se torna codependente e começa a se organizar em torno do
dependente”, orienta.
O tratamento, explica Belo, vai
ajudar a acolher e a compreender o estresse emocional e a desesperança vividos
por essa família devido a dependência. “A terapia ajudará a entender os papéis
e o funcionamento dessa família e, através disso, buscará novas mudanças nessa
dinâmica a partir de recursos que ajudarão a reorganizar e reestruturar o
sistema e as relações familiares, com o objetivo de manter a família segura e
menos ameaçada”, diz.Mais da metade das bebidas alcoólicas comercializadas no
país (54%) é consumida por 20% das pessoas que bebem. O dado consta do 2°
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) divulgado em 2013 pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em termos gerais, o estudo estima
que 11,7 milhões de brasileiros são dependentes de álcool.
O levantamento, que ouviu 4.607
pessoas de 149 municípios do país, constatou um aumento de 20% na quantidade de
brasileiros que consomem álcool uma vez ou mais por semana. Também houve
aumento no número de pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool (quatro
unidades para mulheres e cinco para homens) em um curto período de tempo (duas
horas). Entre esses consumidores, essa forma de beber passou de 45%, em 2006,
para 59% no ano passado.A pesquisa destaca o aumento do consumo de álcool
abusivo entre as mulheres. A proporção das que passaram a beber uma vez ou mais
por semana cresceu 34,5% em seis anos, passando de 29% para 39%. Outro
indicador que demonstra esse comportamento nocivo é o que avalia o consumo de
álcool em relação ao tempo.
As que ingerem quatro doses em até
duas horas passaram de 36%, em 2006, para 49% no ano passado.Entre os fatores
que podem explicar o crescimento desse modo nocivo de beber, está a ascensão
econômica da população nos últimos anos. Belo alerta também para o aumento do
consumo de bebidas alcoólicas entre as mulheres. Para ele, esse aumento pode
ser justificado por conta da diminuição das diferenças nos papéis de gênero. “A
ascensão feminina no mercado de trabalho fez com que a mulher ocupasse o mesmo
espaço do homem. A independência financeira feminina permitiu o aumento do
consumo, inclusive, de bebidas alcoólicas por parte das mulheres”, analisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário