sábado, 1 de fevereiro de 2014



Relação entre perfis de bebedores de álcool e energéticos e comportamentos de beber de risco.

Muitos estudos referem-se ao beber pesado episódico (BPE) – padrão de consumo de álcool que corresponde à ingestão de cinco ou mais doses* para homens e quatro ou mais para mulheres, em um período de duas horas – como sendo um dos principais problemas de saúde entre universitários. Ainda, consumir a mistura de álcool com bebidas energéticas (AMED, da sigla: alcohol mixed with energy drinks) é uma prática freqüente entre jovens e vem sendo foco de pesquisas devido à sua associação com o aumento do risco de BPE, que, por sua vez, expõe o indivíduo a maiores riscos à saúde e prejuízos acadêmicos. Por conta disso, um estudo visou: a) identificar perfis distintos de bebedores de AMED com base em expectativas, atitudes e crenças normativas referentes ao uso de álcool e energéticos; e b) estabelecer relações entre esses perfis e o comportamento de beber de risco.

A pesquisa foi realizada com 387 alunos do primeiro ano de uma universidade pública norte-americana, de ambos os sexos, com média de idade de 19 anos, e que relataram consumir bebidas alcoólicas na época da pesquisa. A coleta de dados ocorreu em dois momentos: uma avaliação inicial e um seguimento no ano seguinte. Foram coletadas informações referentes a expectativas, atitudes e crenças normativas relacionadas ao consumo da mistura de bebidas alcoólicas com energéticos, e também sobre a frequência do uso de AMED, ocasiões de BPE e consequências relacionadas ao uso de bebidas alcoólicas. Com relação às crenças normativas, verificaram-se aquelas sobre a visão que o indivíduo possui da quantidade ingerida pelos amigos (crenças descritivas) e crenças sobre aprovação ou reprovação de seus amigos em relação ao próprio uso (crenças cautelares). 

A partir desses dados foi possível estabelecer quatro perfis de usuários de AMED, com as seguintes denominações e características:


ocasional (54% dos entrevistados): indivíduos com expectativas, atitudes e crenças normativas neutras em relação ao uso de AMED;
contra (30%): indivíduos com expectativas e atitudes negativas sobre o uso de AMED;
a favor (5%): indivíduos com expectativas neutras, mas atitudes e crenças normativas positivas;
influência do grupo (11%): indivíduos com expectativas e atitudes moderadamente negativas, mas que acreditam que seus amigos consomem AMED em grandes quantidades.

Os pesquisadores puderam estabelecer algumas relações entre os perfis de usuários encontrados e o comportamento de beber de risco: em comparação ao perfil “contra”, o perfil “a favor” foi identificado como sendo o de maior risco, por ter sido o perfil que mais fez o uso de AMED (quase 2 ocasiões de consumo por semana), apresentou maior frequência de BPE (3 vezes por semana) e relatou mais consequências decorrentes do consumo de álcool (23% dos indivíduos com este perfil relataram tais consequências). O oposto foi observado para os usuários com perfil “contra”, que apresentaram comportamento de beber de menor risco, com menores taxas de uso de AMED (menos de 1 ocasião de consumo por semana), ocasiões de BPE (2 vezes por semana) e consequências (14%) que os demais perfis.

Um dado interessante foi em relação ao perfil “influência do grupo”. Apesar de não relatarem expectativas e as atitudes positivas em relação ao uso de AMED, apresentaram um consumo frequente dessa mistura (cerca de 1 ocasião de uso por semana), o que sugere que a percepção do indivíduo sobre o consumo de AMED por seus amigos pode ser um fator ainda mais importante que as próprias expectativas e atitudes do indivíduo.

Verificou-se também que o consumo de AMED seria um comportamento de risco independente e distinto do BPE. Este, por sua vez, esteve fortemente associado às consequências relatadas pelos jovens, independentemente da frequência de uso de AMED.

A partir desses resultados, os autores propõem que informações sobre o uso da combinação de álcool e energéticos, o BPE e riscos associados sejam considerados no desenvolvimento e implementação de futuras intervenções com os jovens. Além disso, os dados encontrados também auxiliarão para que as intervenções possam ser direcionadas e específicas a cada um dos perfis de risco identificados. 
Fonte:CISA - Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool

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