O
BRASIL DEVERIA DESCRIMINALIZAR A MACONHA? NÃO.
CARA OU COROA?
Muito
se tem falado por aí sobre o uso terapêutico da maconha e sua possível
legalização no Brasil, após as mudanças de legislação ocorridas no vizinho
Uruguai.
Mas
pouco se tem discutido, profundamente, a questão. O fato que parece estar
esquecido é que a maconha é uma droga psicotrópica que causa dependência, uma
grave doença do cérebro, e que cursa com muitas complicações.
É
verdade que algumas pesquisas vêm sendo feitas, inclusive no Brasil, para
entender a ação dos diferentes componentes da Cannabis sp e sua utilização como
medicamento. Mas também é verdade que os resultados ainda não são replicáveis
(aplicáveis).
Isto
é, para o controle da dor ou do apetite, por exemplo, substâncias já testadas
devem ser aplicadas. Experiências com a maconha sem consentimento assistido
(informações sobre todos os benefícios e malefícios) são a solução?
Estudos
mostram que, além da dependência, o uso crônico produz bronquite crônica,
insuficiência respiratória, aumento do risco de doenças cardiovasculares,
câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade e depressão,
episódios psicóticos e de pânico e, também, um comprometimento do rendimento
acadêmico e/ou profissional. Por que optar por um caminho que oferece tantos
riscos?
A
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, a Abead, pesquisou
sobre algumas experiências de descriminalização no mundo e elaborou uma síntese
de evidências sobre os resultados.
Foram
eles: o aumento do consumo, a redução da idade de experimentação, a diminuição
do preço de comercialização e, portanto, um aumento da disponibilidade e do
acesso à droga e, pior, um mercado para turistas que pode trazer outros riscos
sociais e de saúde.
Por
esses e outros motivos, é preciso debater muito mais antes de se alterar a lei
ou mesmo propor medidas mais liberalizantes.
No
Brasil, a percepção de risco relacionado à substância é muito baixa: a maconha
é vista como uma droga leve, natural e que não faz tão mal, a despeito das
respeitadas pesquisas já há muito publicadas que mostram um aumento
significativo da taxa de doenças mentais entre os usuários quando comparados à
população de não usuários da substância. Onde fica o direito humano, principalmente
o do adolescente, à vida saudável, à saúde mental?
Então, vale ainda mais uma pergunta. Se, em países desenvolvidos, a legalização trouxe consequências desastrosas, por que no Brasil, que enfrenta tantas outras dificuldades, como a falta de tratamento especializado, a falta de prevenção, uma política de drogas que precisa ser revista, tal impacto seria diferente?
Então, vale ainda mais uma pergunta. Se, em países desenvolvidos, a legalização trouxe consequências desastrosas, por que no Brasil, que enfrenta tantas outras dificuldades, como a falta de tratamento especializado, a falta de prevenção, uma política de drogas que precisa ser revista, tal impacto seria diferente?
Para
além dos usuários e defensores de direitos individuais de usar drogas, e não
daqueles que lutam pelos direitos coletivos, é preciso entender que existem
"clássicos" interesses econômicos em um novo negócio. Foi assim com o
cigarro, tem sido assim com a bebida alcoólica, e o método utilizado para
conseguir tal empreitada tão perversa é o uso da ambivalência.
Vale
a pena lembrar que a maconha não é um produto qualquer. É uma droga
psicotrópica, mais uma entre tantas cujo consumo é preciso controlar, de
impacto nas células humanas, na família e na sociedade.
Não é
possível fechar os olhos diante do jogo mercantilista. É preciso olhar
firmemente para a situação da população brasileira, e não submetê-la a mais um
fenômeno que não possui recursos para ser manejado. De que lado cairá a moeda?
ANA
CECÍLIA PETTA ROSELLI MARQUES, 59, é psiquiatra e presidente
da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
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