EM MEIO A DEBATE SOBRE LEGALIZAÇÃO, CRESCE O NÚMERO DE DEPENDENTES DE
MACONHA.
Jornal O Estado de Minas, Flávia
Ayer / Pedro Ferreira.
Usuários da erva representaram 10% dos atendimentos no Centro Mineiro de Toxicomania em 2012 e 2013, índice maior que há 4 anos.
Para
instituição, debate sobre o tema provoca busca por ajuda. Associação médica
sugere que há droga mais potente em circulação.
Somente hoje, cerca de 1,3
milhão de brasileiros devem acender um cigarro de maconha.
Considerada
mais leve em relação a outras drogas ilícitas, a erva ganha popularidade e
apoio, a ponto de um juiz do Distrito Federal ter considerado sua proibição
inconstitucional em decisão divulgada na semana passada, mas já modificada em
instância superior. Um balanço do Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), porém,
lança alerta sobre os riscos do vício em maconha para uma parte dos usuários.
Segundo dados do CMT, principal centro de atendimento a dependentes de álcool e
outras substâncias do estado, o percentual de pessoas tratadas no centro por
causa de efeitos negativos da erva saltou de 6,7% do total de pacientes, há
quatro anos, para a casa dos 10% em 2012 e 2013 – álcool e crack lideram o
ranking.
Para
a instituição, o crescimento do percentual de pessoas que recorreram a
tratamento para abandonar a maconha está relacionado ao debate mais intenso em
torno da legalização, o que deixaria usuários mais confortáveis para buscar
ajuda.
“O
ambiente do debate permite uma circulação de informações e opiniões que antes
estavam caladas. Permite que o assunto seja discutido além da questão policial
e, assim, as pessoas se sentem mais à vontade para pedir ajuda”, considera o
coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa do CMT, Gustavo Cetlin. Em 2012 e
2013, 189 pessoas procuraram a instituição para tentar abandonar o vício. Em
2010, havia 63 dependentes tentando parar de fumar maconha.
Para
alguns especialistas e pacientes, a circulação de uma maconha mais forte, por
vezes misturada com outras substâncias, como o crack, também pode estar
contribuindo para o fenômeno. “Antes, a erva era mais natural, mas agora perdeu
o sabor por causa da química.” Quem compara é o carpinteiro Samuel da Silva
Mariano, de 46 anos.
Ele
frequenta a Casa Azul, local de acolhimento de usuários de drogas no Bairro
Novo Cachoeirinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Samuel conta que
experimentou maconha ainda criança e nunca mais conseguiu largá-la. “Parti para
a cocaína, crack, LSD e outras drogas. Consegui me livrar de todas depois, mas
não consigo sair da maconha”, afirma.No caso do administrador de empresas E.,
de 28, a luta é para se manter longe da erva. Com apoio da família, ele começou
o tratamento há um ano para abandonar o vício, que mantinha desde os 13. Nos
últimos anos, ele fumava três cigarros por dia. “Sempre falei que maconha era
tranquilo, mas não é. É pesada, te congela no tempo. O que tento agora é achar
a realidade, sair da estaca zero”, descreve. O passado não lhe traz orgulho.
Foi reprovado duas vezes no colégio, levou 10 anos para concluir a graduação e
manteve por muito tempo um relacionamento conflituoso com a família. “A maconha
acabou influenciando muito nisso. E acabei experimentando LSD. Tive síndrome do
pânico e depressão”, conta E.
Dependência
O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, sugere que a procura por tratamento pode estar associada a um maior grau de dependência. “A maconha da década de 1960 não pode ser comparada à de hoje, que tem níveis mais altos de tetrahidrocanabinol (THC).
O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, sugere que a procura por tratamento pode estar associada a um maior grau de dependência. “A maconha da década de 1960 não pode ser comparada à de hoje, que tem níveis mais altos de tetrahidrocanabinol (THC).
O
poder de vício é maior”, afirma o médico, que tem registrado aumento do número
de jovens que procuram tratamento em seu consultório, a maioria usuários de
maconha. Ele cita o estudo “Abuso e dependência da maconha”, da
Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Cardiologia,
que apontou que a concentração do THC em amostras de maconha está 30% maior do
que há 20 anos.
Entre
ativistas que defendem a legalização, a possibilidade de que parte da maconha
vendida irregularmente esteja mais forte, o que contribuiria para busca maior
por tratamento, reforça a necessidade de regulamentação. “O mercado ilegal é
que entrega produtos não controlados. Com a legalização, o estado poderia criar
uma agência reguladora garantindo a distribuição de produtos certificados”,
defende Thiago Vieira, do Movimento pela Legalização da Maconha (MLM), que
integra também a Rede Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas
(Renca). Para Gustavo Cetlin, do CMT, na hora de tratar a dependência, é mais
importante entender cada usuário do que discutir a potência da droga.
“É
preciso entender o contexto em que a droga é usada”, diz. O especialista afirma
que há usuários de maconha que conseguem manter mais laços afetivos com família
e trabalho. “As outras drogas trazem mais isolamento social”, afirma.
Vaivém
na justiça
Um juiz do Distrito Federal absolveu um homem flagrado com 51 trouxas de maconha no estômago ao entrar no Complexo Penitenciário da Papuda. O magistrado Frederico Ernesto Cardoso Maciel considerou que a droga é “recreativa”, julgou incompleta a portaria do Ministério da Saúde que inclui o tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo da droga, entre as substâncias entorpecentes e avaliou a proibição como “fruto de uma cultura atrasada”.
Um juiz do Distrito Federal absolveu um homem flagrado com 51 trouxas de maconha no estômago ao entrar no Complexo Penitenciário da Papuda. O magistrado Frederico Ernesto Cardoso Maciel considerou que a droga é “recreativa”, julgou incompleta a portaria do Ministério da Saúde que inclui o tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo da droga, entre as substâncias entorpecentes e avaliou a proibição como “fruto de uma cultura atrasada”.
O
Tribunal de Justiça do Distrito Federal reverteu a decisão na quinta-feira. Há
duas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse considerar a
droga não mais perigosa que o álcool ou o tabaco.
A
erva no Brasil
7% dos brasileiros adultos já experimentaram maconha (8 milhões de pessoas)42% do total (3,4 milhões de pessoas) saram no último ano37% do total (1,3 milhão) são dependentes
7% dos brasileiros adultos já experimentaram maconha (8 milhões de pessoas)42% do total (3,4 milhões de pessoas) saram no último ano37% do total (1,3 milhão) são dependentes
Fonte:
Levantamento Nacional do Consumo de Álcool e Drogas (Lenad/Unifesp).
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