quarta-feira, 10 de abril de 2013

 
Overdose é problema de saúde pública.
A morte de Chorão, líder da banda Charlie Brown Jr., por ingestão de grande quantidade de cocaína — quase cinco vezes maior do que já seria configurado como overdose —, trouxe à tona um problema grave de saúde pública.
As autoridades não têm números consolidados sobre as substâncias mais usadas pelas quase 25 mil pessoas que morreram no período.
Entram na estatística diferentes situações, desde a overdose clássica, como a que vitimou o roqueiro, até as vidas perdidas por doenças crônicas em decorrência do uso de entorpecentes ou por crises de abstinência.
Os dados, levantados a pedido do Correio pelo Ministério da Saúde, revelam apenas uma parte pequena do problema. Isso porque nem todas as mortes por esse tipo de intoxicação são notificadas. Além de o tema ser sensível, as autópsias nem sempre conseguem conectar a causa da morte ao uso de alguma substância tóxica. “Na verdade, é bastante incomum que se tire essa conclusão. Na maioria das vezes, a pessoa não morre na hora. Ela é socorrida, vai para um hospital. Durante esse tempo, o corpo metaboliza parte da substância”, diz Malthus Galvão, professor de medicina legal da Universidade de Brasília (UnB).
Ele considera a cocaína uma das substâncias mais perigosas porque a distância entre a dose recreativa e a que configura overdose, cerca de 1 micrograma por mililitro de sangue, é pequena em relação a outras substâncias — no caso de Chorão, a concentração de cocaína no sangue era quase cinco vezes maior. “O indivíduo desenvolve tolerância, que leva à necessidade de consumir mais para ter o mesmo efeito. E não percebe que está chegando ao ponto letal. Fenômeno incomum com outras substâncias que causam, quando usadas excessivamente, uma sensação popularmente conhecida como empapuçamento, ou seja, o indivíduo não consegue consumir mais na mesma ocasião”, explica Galvão.
Apesar de existir parâmetros descritos cientificamente, a dose letal tem relação com a condição clínica do usuário, de acordo com o psiquiatra Carlos Salgado, ex-presidente da Associação Brasileira de Álcool e Drogas (Abead). “Muitas vezes, até por um problema de saúde não conhecido, como uma cardiopatia, o sujeito ingere uma quantidade de droga que não causa nada para o amigo, mas que, para ele, será mortal”. Da mesma forma como há pessoas que resistem a dosagens mais elevadas.
Efeitos diferentes
O coração é o órgão mais frequentemente sobrecarregado pelo consumo de drogas. Mas a forma como ele entra em colapso depende muito do tipo de substância consumida. Álcool e maconha, por exemplo, são chamados de depressores porque fazem o organismo trabalhar mais lentamente, levando à sonolência, coma e parada cardiorrespiratória, descreve Salgado. A cocaína e o ecstasy são exemplos de estimulantes. Aceleram os batimentos, elevam a pressão arterial, comprimem as artérias e diminuem a irrigação sanguínea, podendo levar a um acidente vascular cerebral ou infarto do miocárdio.
O aumento no número de mortes por overdose está em sintonia com as estatísticas de usuários de drogas no país. A literatura nacional aponta que 12% da população brasileira tem algum nível de dependência em álcool. No caso da cocaína, 4,6 milhões de brasileiros já a experimentaram ao menos uma vez na vida — metade fez uso da droga no último ano —, o que representa 2% da população adulta. Os dependentes somam 1 milhão de pessoas. E pouco mais de 3 milhões fumam maconha frequentemente. Só entre os adolescentes, são 470 mil usuários recorrentes.
“O indivíduo desenvolve tolerância à cocaína, que leva à necessidade de consumir mais para ter o mesmo efeito. E não percebe que está chegando ao ponto letal”
Malthus Galvão, professor de medicina legal da UnB
Escalada de mortes
Número de vítimas de autointoxicação em 10 anos:
2000 - 916
2001 - 1.101
2002 - 1.231
2003 - 1.292
2004 - 1.187
2005 - 1.334
2006 - 1.400
2007 - 1.443
2008 - 1.532
2009 - 1.383
2010 - 1.516

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário