Overdose é problema de saúde pública.
A morte de Chorão, líder da banda Charlie
Brown Jr., por ingestão de grande quantidade de cocaína — quase cinco vezes
maior do que já seria configurado como overdose —, trouxe à tona um problema
grave de saúde pública.
As autoridades não têm números consolidados sobre as substâncias mais
usadas pelas quase 25 mil pessoas que morreram no período.
Entram na
estatística diferentes situações, desde a overdose clássica, como a que vitimou
o roqueiro, até as vidas perdidas por doenças crônicas em decorrência do uso de
entorpecentes ou por crises de abstinência.
Os dados,
levantados a pedido do Correio pelo Ministério da Saúde, revelam apenas uma
parte pequena do problema. Isso porque nem todas as mortes por esse tipo de
intoxicação são notificadas. Além de o tema ser sensível, as autópsias nem
sempre conseguem conectar a causa da morte ao uso de alguma substância tóxica.
“Na verdade, é bastante incomum que se tire essa conclusão. Na maioria das
vezes, a pessoa não morre na hora. Ela é socorrida, vai para um hospital.
Durante esse tempo, o corpo metaboliza parte da substância”, diz Malthus
Galvão, professor de medicina legal da Universidade de Brasília (UnB).
Ele
considera a cocaína uma das substâncias mais perigosas porque a distância entre
a dose recreativa e a que configura overdose, cerca de 1 micrograma por
mililitro de sangue, é pequena em relação a outras substâncias — no caso de
Chorão, a concentração de cocaína no sangue era quase cinco vezes maior. “O
indivíduo desenvolve tolerância, que leva à necessidade de consumir mais para
ter o mesmo efeito. E não percebe que está chegando ao ponto letal. Fenômeno
incomum com outras substâncias que causam, quando usadas excessivamente, uma
sensação popularmente conhecida como empapuçamento, ou seja, o indivíduo não
consegue consumir mais na mesma ocasião”, explica Galvão.
Apesar de
existir parâmetros descritos cientificamente, a dose letal tem relação com a
condição clínica do usuário, de acordo com o psiquiatra Carlos Salgado,
ex-presidente da Associação Brasileira de Álcool e Drogas (Abead). “Muitas
vezes, até por um problema de saúde não conhecido, como uma cardiopatia, o
sujeito ingere uma quantidade de droga que não causa nada para o amigo, mas
que, para ele, será mortal”. Da mesma forma como há pessoas que resistem a
dosagens mais elevadas.
Efeitos
diferentes
O coração
é o órgão mais frequentemente sobrecarregado pelo consumo de drogas. Mas a
forma como ele entra em colapso depende muito do tipo de substância consumida.
Álcool e maconha, por exemplo, são chamados de depressores porque fazem o
organismo trabalhar mais lentamente, levando à sonolência, coma e parada
cardiorrespiratória, descreve Salgado. A cocaína e o ecstasy são exemplos de
estimulantes. Aceleram os batimentos, elevam a pressão arterial, comprimem as
artérias e diminuem a irrigação sanguínea, podendo levar a um acidente vascular
cerebral ou infarto do miocárdio.
O aumento
no número de mortes por overdose está em sintonia com as estatísticas de
usuários de drogas no país. A literatura nacional aponta que 12% da população
brasileira tem algum nível de dependência em álcool. No caso da cocaína, 4,6
milhões de brasileiros já a experimentaram ao menos uma vez na vida — metade
fez uso da droga no último ano —, o que representa 2% da população adulta. Os
dependentes somam 1 milhão de pessoas. E pouco mais de 3 milhões fumam maconha
frequentemente. Só entre os adolescentes, são 470 mil usuários recorrentes.
“O
indivíduo desenvolve tolerância à cocaína, que leva à necessidade de consumir
mais para ter o mesmo efeito. E não percebe que está chegando ao ponto letal”
Malthus
Galvão, professor de medicina legal da UnB
Escalada
de mortes
Número de
vítimas de autointoxicação em 10 anos:
2000 - 916
2001 -
1.101
2002 -
1.231
2003 -
1.292
2004 -
1.187
2005 -
1.334
2006
- 1.400
2007
- 1.443
2008
- 1.532
2009
- 1.383
2010
- 1.516
Fonte: O Estado de S. Paulo
Fonte: O Estado de S. Paulo
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