Por que a dependência química é uma
droga?
Há
6.000 anos já se fabricava cerveja na Mesopotâmia. Há 3.000 anos os sumérios
cultivavam papoulas e fabricavam ópio.
Desde que existe o álcool, existe o alcoolismo. Desde que existem drogas
alteradoras do humor, existem os dependentes químicos.
Considerada
durante milênios como fraqueza de caráter, a dependência química só foi
reconhecida como doença na década de 1960. Primeiro, a Organização Mundial de
Saúde definiu o alcoolismo como doença e logo depois estendeu esta
classificação às outras drogas que alteram o humor.
Reconhecida
como doença primária, não depende e não é consequência de outras doenças; ao
contrário, o uso abusivo de álcool ou de drogas é que causa outras doenças. É
uma doença que afeta o físico, o estado mental e as emoções. É crônica,
progressiva e de terminação fatal, o que significa que se não for tratada causa
a morte do indivíduo. Ocorre no mundo todo, geralmente numa taxa de mais ou
menos 15% da população.
Por
muito tempo o fator hereditário foi considerado o principal desencadeador,
entre outros, dessa doença, mas hoje sabe-se que álcool, calmantes,drogas
tradicionais e todas as novas drogas sintéticas que não param de aparecer
precisam somente de quantidade e tempo de uso para que seja desenvolvida a
dependência delas.
A
sociedade geralmente faz uma grande diferença entre o alcoolismo e a
dependência de outras drogas, legais e ilegais, mas a doença é a mesma,
desenvolve-se do mesmo jeito, com os mesmos prejuízos sociais, familiares,
emocionais e mentais, não importando qual o tipo de droga usada (sim, álcool é
droga também). As poucas diferenças ocorrem na velocidade que a droga leva para
causar prejuízos físicos e mentais, sendo que com o tempo todos os sistemas são
afetados, assim como as relações familiares, sociais e de trabalho.
Mas,
como é que decidiram então ser o consumo de drogas uma doença? Certamente não é
só o médico ou o terapeuta olhar para o indivíduo e, pelo seu jeitão, concluir
que é um dependente. Há critérios para o diagnóstico. É a ocorrência de pelo
menos três destes sintomas, nos últimos doze meses, que determina se alguém
sofre de dependência química ou não. Estes são os critérios listados pela
Classificação Internacional de Doenças (CID), e valem eles para todo mundo, no
mundo inteiro.
1.
Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a droga.
2.
Dificuldades em controlar o consumo da droga em termos de quando vai começar,
quando vai terminar e de quanto vai usar.
3.
Desejo persistente ou tentativa fracassada de diminuir o uso.
4.
Tolerância: é a necessidade que a pessoa experimenta de aumentar cada vez mais
a quantidade de drogas para obter o mesmo efeito.
5.
Crise de abstinência: ocorre quando o uso é suspenso, ocorrendo então sintomas
como tremor, ansiedade, irritabilidade e insônia.
6.
Abandono progressivo de outras atividades. A pessoa passa a gastar boa parte do
seu tempo na busca e no consumo das drogas e também para se recuperar de seus
efeitos.
7.
Apesar dos claros prejuízos físicos e psicológicos decorrentes do uso da droga,
a pessoa persiste no uso.
Assim
como a doença causada pelo abuso de drogas é a mesma, não importando qual a
droga usada, o tratamento também segue o mesmo caminho. Existem alguns tipos de
tratamentos, sendo o que utiliza uma grande quantidade de informação sobre a
doença e sobre os efeitos emocionais da perda de controle do uso aliada a uma
radical mudança de comportamento é o que mais alcança sucesso. Seja um
dependente de álcool, de calmantes ou de crack, todos vão necessitar de
abstinência, conscientização da doença e mudança de estilo de vida. A ajuda e o
tratamento da família, que também é afetada, é muito importante para que se
consiga alcançar sucesso.
*Verônica
Barrozo do Amaral é terapeuta e conselheira em dependência química.
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