Uso de drogas pesadas começa pelo álcool.
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Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Outra
pesquisa, da Unifesp, revela que em 70% das tentativas um menor de idade
consegue comprar bebidas alcoólicas.
Estudo americano mostra que jovens que consomem bebidas alcoólicas têm 16 vezes
mais chances de utilizar outras substâncias tóxicas.
Novos argumentos trazidos por duas pesquisas – uma brasileira e outra
norte-americana – devem reacender a discussão sobre a venda e o consumo de
bebidas alcoólicas por menores de 18 anos. Estudo da Universidade da Flórida
mostra que o álcool, e não a maconha ou o cigarro, é a primeira droga
experimentada pelos jovens. E um dos fatores que levam a essa experimentação
precoce é revelado por pesquisa realizada pela Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), segundo a qual, em ao menos 70% das vezes em que um menor de
18 anos tenta comprar bebida alcoólica, ele é bem-sucedido.
De
acordo com o estudo feito pelo professor Adam Barry, pesquisador da Escola de
Saúde e Performance Humana da Universidade da Flórida, o álcool também é a
substância mais usada pelos adolescentes, com 72,2% afirmando que já o
consumiram pelo menos uma vez na vida. Entre os entrevistados, 45% relataram fumar,
e 43,3% disseram usar maconha. O autor analisou 14.577 questionários
preenchidos por jovens do ensino médio de 120 escolas públicas e privadas dos
Estados Unidos. Eles responderam se já haviam usado pelo menos uma de 11
substâncias, dentre elas, álcool e tabaco, assim como drogas ilícitas, como
maconha, cocaína, heroína, LSD, anfetaminas, tranquilizantes e outros
narcóticos.
ConsequênciasÁlcool
afeta mecanismo cerebral de tomada de decisõesQuanto mais cedo uma criança
passa a ingerir álcool, maior é o prejuízo para o seu desenvolvimento cerebral
e cognitivo, pois a substância afeta a área relacionada à tomada de decisões.
“A ciência tem nos mostrado que o amadurecimento cerebral, especialmente das
áreas frontais e pré-frontais, custa mais. E são essas áreas as responsáveis
pelo bom senso. Um jovem exposto precocemente ao álcool muda o seu mecanismo de
tomada de decisão”, explica o psiquiatra Carlos Salgado.De acordo com o médico,
quem começa a beber na infância ou na adolescência torna-se uma pessoa que toma
decisões pouco pensadas, além de ter o desenvolvimento psicológico retardado,
algo fundamental para a inserção dos indivíduos em sociedade.O professor de
Psiquiatria Dagoberto Hungria Requião explica que o cérebro vai se
desenvolvendo até chegar à maturidade, por volta dos 25 anos de idade. “O
álcool vai ao cérebro e é obvio que vai criar dificuldades nessa formação. Fico
angustiado ao ver crianças de 12 e 13 anos bebendo. Continuando assim, vão se
tornar adultos muito doentes.” (KMM)
Esses dados comprovam, na opinião do pesquisador, que drogas lícitas e
aceitáveis socialmente, como o álcool e o tabaco, são as primeiras substâncias
tóxicas a serem consumidas pelos jovens. A partir daí, eles passam para a
maconha e depois para as drogas ilegais mais pesadas.
Mais
do que isso, o levantamento revela que os estudantes que usaram álcool
demonstraram ter uma probabilidade até 16 vezes maior de uso de outras drogas.
“Existe muita informação errada em relação às drogas em geral;
inconscientemente passa-se a mensagem de que o álcool não é droga. O que
acontece é que o lobby do cigarro e o da bebida são muito fortes. Por isso se
passa uma má impressão de que realmente o grande problema é a maconha, quando
na realidade não é”, explica o professor de Psiquiatria Dagoberto Hungria
Requião, do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
Influência
Há
vários fatores que incentivam o consumo de álcool por adolescentes, segundo
artigo dos pesquisadores Sérgio Duailibi e Ronaldo Laranjeira, do Instituto
Nacional para Políticas Públicas do Álcool e Drogas do Departamento de
Psiquiatria da Unifesp. Entre eles, a propaganda direcionada a esse público, a
disponibilidade da bebida em locais de fácil acesso, como postos de gasolina, e
promoções do tipo open bar (com bebida liberada a partir do pagamento de
entrada).
No
caso do álcool e do cigarro, que são substâncias legalizadas, mesmo havendo
leis que proíbam a comercialização a menores de 18 anos, os adolescentes acabam
tendo acesso a ambos. Além disso, o preço é baixo: com R$ 5, é possível comprar
uma caixa de cigarros e uma dose de cachaça em um bar de rua de Curitiba.
Outro
fator que contribui para o consumo é a aceitação dentro de casa. “Festa de 1
ano de criança tem bebida? Tem, a pretexto de servir aos pais. É nesse tipo de
festa que ocorrem os primeiros usos, sob o olhar complacente ou sob a
ignorância dos pais”, diz o psiquiatra Carlos Salgado, conselheiro da
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead).
Movimentos
sociais ajudam a diminuir consumo
Nos
Estados Unidos, em 1980, foi fundada a organização não governamental MADD
(Mothers Against Drunk Driving, ou “mães contra a direção alcoolizada”, em
tradução livre). A missão do grupo hoje é acabar com a condução de veículos por
pessoas alcoolizadas, apoiar as vítimas que sofrem com esse tipo de crime e
evitar que menores de 21 anos bebam, como proíbe a lei federal do país.
No
Brasil, já há movimentos que lutam para tornar mais duras as punições contra
quem dirige bêbado, como o liderado por Christiane Yared, mãe de Gilmar Yared,
vítima de um grave acidente de carro ocorrido em 2009 em Curitiba e provocado
pelo ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, que estava embriagado.
Mas ainda não há nada tão representativo para acabar com a venda de bebidas
alcoólicas para menores de 18 anos. “A letra da lei [que proíbe a venda a
menores] pode estar morta, mas as crianças estão morrendo. Num país onde existe
a lei, o que precisa é simplesmente cumpri-la”, diz o professor de Psiquiatria
Dagoberto Hungria Requião.
Os
pais têm papel fundamental para evitar que o consumo da substância se inicie
precocemente. “A resposta começa com a fiscalização primordial dentro de casa”,
diz o psiquiatra Carlos Salgado, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool
e outras Drogas (Abead).
Licença médica para tratar alcoolismo bate recorde no País.
Em março foram concedidos 4.120 benefícios, uma média de cinco por hora.
Aumento de afastamentos do emprego nos últimos seis anos foi de 69,6% .
Fernanda Aranda , iG São Paulo
Licenças trabalhistas para tratar
alcoolismo e outras drogas crescem 69% em cinco anos
O mês de março fechou com um recorde
histórico de licenças médicas concedidas para trabalhadores, de todos os
setores, se tratarem de dependência química.
Em 31 dias, 4.120 benefícios
previdenciários do tipo foram registrados pelo governo federal, uma média de
cinco afastamentos por hora.
O levantamento feito pelo iG Saúde
nos bancos de dados do Ministério da Previdência Social mostra que o aumento é
anual e gradativo. Entre 2006 e 2011, o crescimento acumulado de licenças nesta
categoria foi de 69,9%, pulando de 24.489 para 41.534 no último ano.
Na comparação, os afastamentos por
dependência química cresceram mais do que o dobro da elevação registrada de
postos de trabalho com carteira assinada no País. Enquanto os empregos formais
tiveram alta de 6% entre 2010 e 2011 (segundo o IBGE), as licenças deste tipo
ampliaram 13,9% no mesmo período.
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