quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Maioria dos usuários da cracolândia nunca recebeu tratamento, diz pesquisa.
CLÁUDIA COLLUCCI


O acesso e o consumo de drogas na "nova" cracolândia continuam iguais seis meses após o início da ação policial no centro de São Paulo, segundo os próprios usuários que frequentam o local.
 Apenas um terço deles relata ter recebido oferta de tratamento para abandonar o vício. Os dados são de uma pesquisa inédita da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), obtida com exclusividade pela Folha, feita dois meses após o início da ação.
Foram entrevistados 151 usuários de crack, que frequentam agora as imediações do Minhocão, a Baixada do Glicério e rua Pedroso (regiões centrais de São Paulo).
Antes da operação da PM, cerca de 400 usuários de drogas viviam pela cracolândia e 2.000 circulavam por ali.
Entre os 151 entrevistados, 70% dizem que já frequentavam a "velha" cracolândia, na rua Helvétia, e 55,6% dizem que o consumo de drogas continua o mesmo. Para 25%, o uso está ainda maior.
"Nesses novos locais, há menos policiamento e eles se sentem mais à vontade para consumir", diz Lígia Duailibi, pesquisadora da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas), da Unifesp.
Questionado ontem sobre os resultados, o coronel Roberval Ferreira França, comandante-geral da PM, disse que prefere não comentar sem antes ter acesso à integra da pesquisa.
Outro dado que chama a atenção: 70% dos entrevistados afirmam que nunca receberam oferta de tratamento. Entre os que receberam, 26% foram convidados a frequentar o AA (Alcoólicos Anônimos) e o NA (Narcóticos Anônimos).
"Ninguém acessou essa população para ver se ela queria tratamento. Sem uma ação integrada, que envolva a saúde, não há chance de bons resultados ", diz Lígia.
A pesquisa apontou ainda que 23% dos entrevistados afirmaram ter sofrido violência da polícia e 45% disseram que presenciaram ações violentas da Polícia Militar.
INTERNAÇÕES
Rosangela Elias, coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Drogas da prefeitura, questiona esses resultados.
"Há equipes atuando na região desde 2008. Além dos agentes comunitários, temos um Caps-AD [Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas] a meia quadra da Baixada do Glicério. Acho muito estranho, muito alto esse índice [de 70%]."
Segundo a prefeitura, 745 usuários de drogas da região central passaram por internações de janeiro a junho em seis comunidades terapêuticas e no Said (Serviço de Atenção Integral ao Dependente).
A grande maioria (76% nas comunidades e 66% no Said) desistiu do tratamento.
"Não podemos obrigar ninguém a ficar. Se a gente pegar um usuário da cracolândia que acabou de chegar, é mais fácil fazê-lo aderir. Se for um morador de rua crônico, de 10, 20 anos, a aderência ao tratamento será infinitamente menor", explica.

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