domingo, 11 de março de 2012


Cigarro x informação

Jornal Diário de S. Paulo
É triste e chocante a constatação de que os brasileiros da classe C gastam mais com cigarro do que com alimentos, conclui a mais recente pesquisa Pyxis Consumo, feita pelo Ibope Inteligência. Sempre se soube que a carência de informação cria legiões de incautos em todos os setores. Não é de hoje, aliás, que a indústria do fumo se beneficia do contingente de desinformados que ela ajuda a formar, com a propaganda explícita e com a propaganda implícita, subliminar.
Nos últimos anos, com a ampla exibição de filmes antigos pelos canais pagos da TV, percebe-se como se incentivava o tabagismo nas telas.
Praticamente todos os personagens fumavam. Não só os machões durões, mas também as frágeis mocinhas de repente tiravam o cigarro da carteira e logo aparecia alguém com o isqueiro aceso, ou com o fósforo às vezes acendido por meio de surpreendente fricção na sola do sapato, na manga do paletó. O cinema foi um disseminador da vontade de fumar. É de se supor, aliás, que a indústria do tabaco esteja adorando (e financiando?) esses canais especializados em passar filmes antigos.
Até meados da década de 1980, a propaganda de cigarros era uma das campeãs nos meios de comunicação brasileiros. Houve um largo período em que todas as contracapas de revistas semanais traziam anúncios de cigarros. A partir das descobertas científicas de que o tabaco provoca uma infinidade de doenças, vem diminuindo em todo o mundo a propaganda das diferentes marcas. O Brasil tem seu crédito, no combate eficiente ao tabagismo, graças àquelas contracapas dos maços de cigarro com fotos terríveis de pessoas que tiveram a saúde comprometida pelo vício de fumar.
No Brasil, como na maioria dos países, multiplicam-se as restrições ao tabagismo. Primeiro em São Paulo, depois no restante do país, está proibido fumar em recintos fechados. Nos locais de trabalho, não podem mais existir os “fumódromos”, aqueles espaços reservados para fumantes. Quem quiser fumar, que vá para a rua, onde a fumaça se dispersa e os não fumantes (ou fumantes passivos) não têm os seus pulmões ameaçados pela fumaça que vem do cigarro alheio.
Infelizmente, a noção de que o cigarro é nocivo ainda não está consolidada entre as pessoas menos informadas. De um modo geral, essas pessoas são também as de renda mais baixa, responsáveis por 50% dos cigarros que serão consumidos no Brasil em 2012. Esse dado impressionante mostra que a guerra ao tabagismo precisa continuar. Além das autoridades, que não podem relaxar nas restrições à propaganda do cigarro, também os meios de comunicação têm o dever de levar aos brasileiros mais desinformados a informação de que nicotina é um veneno, uma ilusão que mata





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