Cigarro
x informação
Jornal
Diário de S. Paulo
É
triste e chocante a constatação de que os brasileiros da classe C gastam mais
com cigarro do que com alimentos, conclui a mais recente pesquisa Pyxis
Consumo, feita pelo Ibope Inteligência. Sempre se soube que a carência de informação
cria legiões de incautos em todos os setores. Não é de hoje, aliás, que a
indústria do fumo se beneficia do contingente de desinformados que ela ajuda a
formar, com a propaganda explícita e com a propaganda implícita, subliminar.
Nos
últimos anos, com a ampla exibição de filmes antigos pelos canais pagos da TV,
percebe-se como se incentivava o tabagismo nas telas.
Praticamente
todos os personagens fumavam. Não só os machões durões, mas também as frágeis
mocinhas de repente tiravam o cigarro da carteira e logo aparecia alguém com o
isqueiro aceso, ou com o fósforo às vezes acendido por meio de surpreendente
fricção na sola do sapato, na manga do paletó. O cinema foi um disseminador da
vontade de fumar. É de se supor, aliás, que a indústria do tabaco esteja
adorando (e financiando?) esses canais especializados em passar filmes antigos.
Até
meados da década de 1980, a propaganda de cigarros era uma das campeãs nos
meios de comunicação brasileiros. Houve um largo período em que todas as contracapas
de revistas semanais traziam anúncios de cigarros. A partir das descobertas
científicas de que o tabaco provoca uma infinidade de doenças, vem diminuindo
em todo o mundo a propaganda das diferentes marcas. O Brasil tem seu crédito,
no combate eficiente ao tabagismo, graças àquelas contracapas dos maços de
cigarro com fotos terríveis de pessoas que tiveram a saúde comprometida pelo
vício de fumar.
No
Brasil, como na maioria dos países, multiplicam-se as restrições ao tabagismo.
Primeiro em São Paulo, depois no restante do país, está proibido fumar em
recintos fechados. Nos locais de trabalho, não podem mais existir os
“fumódromos”, aqueles espaços reservados para fumantes. Quem quiser fumar, que
vá para a rua, onde a fumaça se dispersa e os não fumantes (ou fumantes
passivos) não têm os seus pulmões ameaçados pela fumaça que vem do cigarro
alheio.
Infelizmente,
a noção de que o cigarro é nocivo ainda não está consolidada entre as pessoas
menos informadas. De um modo geral, essas pessoas são também as de renda mais
baixa, responsáveis por 50% dos cigarros que serão consumidos no Brasil em
2012. Esse dado impressionante mostra que a guerra ao tabagismo precisa
continuar. Além das autoridades, que não podem relaxar nas restrições à
propaganda do cigarro, também os meios de comunicação têm o dever de levar aos
brasileiros mais desinformados a informação de que nicotina é um veneno, uma
ilusão que mata
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