O consumo da droga avança, mas
governo e entidades sociais enfrentam dificuldades para contê-lo. Ainda falta
informação sobre o problema.
LILIAN
TAHAN
ALMIRO MARCOS
Cada
vez mais inserido na realidade de pobres e de ricos, de homens e de mulheres,
os prejuízos pessoais e sociais do consumo de crack são evidentes. Os usuários
sabem, a sociedade tem noção dos danos e o Poder Público, a responsabilidade de
cuidar dos dependentes e de proteger os não usuários dessa droga que contamina
a convivência em comunidade. Mas o fácil acesso e o consumo escancarado das
pedras durante o dia ou à noite em endereços da periferia ou no centro do
Distrito Federal são evidências de que o enfrentamento ainda não mostrou
resultados suficientes, nem por parte do governo federal, nem do GDF.
Em
14 de agosto do ano passado, quando estava em viagem à China, o governador
Agnelo Queiroz (PT) anunciou o lançamento de um programa envolvendo várias
secretarias, que estariam engajadas no combate ao consumo e à venda de crack na
cidade. Disse, na época, que o governo teria tolerância zero para enfrentar a
situação. Sete meses depois, no entanto, ainda é possível fazer flagrantes em
vários pontos da cidade onde o crack é combustível para a violência, como
mostrou a reportagem na última semana. Desde domingo, o Correio publica a série
Mulheres de Pedra, que aborda as consequências da dependência dessa droga no
universo feminino.
Um
mês depois de anunciar a ofensiva contra o crack, o GDF lançou a operação Marco
Zero, com a participação de secretarias como a de Segurança, de Justiça, de
Desenvolvimento Social e de Saúde. A iniciativa oficial era fazer uma ação
conjunta que abordasse não só a repressão ao consumo e à venda das pedras, mas
também um trabalho de prevenção. Segundo integrantes do governo, o projeto está
na rua, nas escolas e nas unidades preparadas para lidar com usuários. O
subsecretário de Políticas sobre Drogas, Mário Gil, explica que as ações foram
planejadas para o período de quatro anos e que muitas delas ainda estão em fase
inicial.
Gil
cita, por exemplo, que o combate eficiente depende de um mapeamento confiável
dos pontos onde a droga é vendida e consumida, bem como de estudo sobre o
perfil dos usuários e da quantidade de pessoas envolvidas no problema. "A
pesquisa de georreferenciamento, vulnerabilidade e pontos do crack ainda está
em andamento. A falta de dados atrasa o nosso trabalho", admite o
subsecretário.
O
levantamento é coordenado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
Quando o órgão for a campo constatará, por exemplo, que usuários e traficantes
consomem e vendem a droga explicitamente em endereços de Ceilândia, como na QNN
03 e na QNN 13, na área central de Taguatinga e, eventualmente, na Rodoviária
do Plano Piloto.
Mais
dependentes
A
gerente do Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CapsAD) da
Rodoviária do Plano Piloto, Maria Garrido, informa que o número de atendimentos
em fevereiro (467) foi o maior desde setembro do ano passado, quando a unidade
passou a funcionar. "O crescimento da procura é um sinal de que mais
pessoas sofrem da dependência, mas também demonstra que há um público maior
assistido pelo Poder Público", defende. O CapsAD da Rodoviária atende 15
regiões administrativas do DF - Lago Norte, Lago Sul, Asa Norte, Asa Sul, Cruzeiro
Novo e Velho, Octogonal, Sudoeste, ParkWay, Núcleo Bandeirante, Candangolândia,
Varjão, São Sebastião, Vila Telebrasília e Vila Planalto (leia arte).
No
combate ao crack, a dificuldade de mapear os pontos de compra e de venda e de
conhecer o perfil dos usuários não são as únicas cobranças feitas ao Poder
Público. Representantes de comunidades terapêuticas reclamam que é difícil
manter o funcionamento das casas de recuperação sem recursos oficiais. Muitas
clínicas de internação espontânea recebem pacientes recomendados pelos CapsAD.
"O dinheiro de emendas é fundamental para sustentar a nossa rotina. Mas
conseguir esses recursos é uma luta constante", conta Cláudia Britto,
presidente da Transforme, que acolhe crianças e adolescentes.
Coordenadora
de uma das três comunidades terapêuticas especializadas na recuperação de
mulheres, Maria Lúcia Pereira aponta que uma das iniciativas oficiais capazes
de ajudar a comunidade terapêutica não é compatível com a rotina dos usuários.
"O governo oferece uma ajuda de custo de R$ 800 por paciente internado,
mas deve-se comprovar que as internas ficaram o mês todo. Os recursos acabam
fazendo falta para as que ficam", diz Lúcia, que mantém a casa com
doações.
Apreensão
de dois quilos
Um
homem foi preso, na última quarta-feira, com mais de dois quilos de pedras de
crack. A ação da polícia ocorreu às 19h50 em Sobradinho 2, em um depósito que
servia de esconderijo para a droga. Segundo o delegado-chefe da 35ª Delegacia
de Polícia, Rogério Rezende, Pedro Antônio Oliveira Júnior, 26 anos, era
investigado desde janeiro. Após uma denúncia anônima, os policiais encontraram
o deposito, na residência de um adolescente de 17 anos. O garoto fugiu e ainda
não foi encontrado. Pedro Antônio acabou preso com 2,5kg de crack, que ao todo
daria para vender 7 mil pedras da droga, além de 300g de cocaína.
Nenhum comentário:
Postar um comentário