domingo, 11 de março de 2012


O consumo da droga avança, mas governo e entidades sociais enfrentam dificuldades para contê-lo. Ainda falta informação sobre o problema.

LILIAN TAHAN
ALMIRO MARCOS

Cada vez mais inserido na realidade de pobres e de ricos, de homens e de mulheres, os prejuízos pessoais e sociais do consumo de crack são evidentes. Os usuários sabem, a sociedade tem noção dos danos e o Poder Público, a responsabilidade de cuidar dos dependentes e de proteger os não usuários dessa droga que contamina a convivência em comunidade. Mas o fácil acesso e o consumo escancarado das pedras durante o dia ou à noite em endereços da periferia ou no centro do Distrito Federal são evidências de que o enfrentamento ainda não mostrou resultados suficientes, nem por parte do governo federal, nem do GDF.
Em 14 de agosto do ano passado, quando estava em viagem à China, o governador Agnelo Queiroz (PT) anunciou o lançamento de um programa envolvendo várias secretarias, que estariam engajadas no combate ao consumo e à venda de crack na cidade. Disse, na época, que o governo teria tolerância zero para enfrentar a situação. Sete meses depois, no entanto, ainda é possível fazer flagrantes em vários pontos da cidade onde o crack é combustível para a violência, como mostrou a reportagem na última semana. Desde domingo, o Correio publica a série Mulheres de Pedra, que aborda as consequências da dependência dessa droga no universo feminino.
Um mês depois de anunciar a ofensiva contra o crack, o GDF lançou a operação Marco Zero, com a participação de secretarias como a de Segurança, de Justiça, de Desenvolvimento Social e de Saúde. A iniciativa oficial era fazer uma ação conjunta que abordasse não só a repressão ao consumo e à venda das pedras, mas também um trabalho de prevenção. Segundo integrantes do governo, o projeto está na rua, nas escolas e nas unidades preparadas para lidar com usuários. O subsecretário de Políticas sobre Drogas, Mário Gil, explica que as ações foram planejadas para o período de quatro anos e que muitas delas ainda estão em fase inicial.
Gil cita, por exemplo, que o combate eficiente depende de um mapeamento confiável dos pontos onde a droga é vendida e consumida, bem como de estudo sobre o perfil dos usuários e da quantidade de pessoas envolvidas no problema. "A pesquisa de georreferenciamento, vulnerabilidade e pontos do crack ainda está em andamento. A falta de dados atrasa o nosso trabalho", admite o subsecretário.
O levantamento é coordenado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Quando o órgão for a campo constatará, por exemplo, que usuários e traficantes consomem e vendem a droga explicitamente em endereços de Ceilândia, como na QNN 03 e na QNN 13, na área central de Taguatinga e, eventualmente, na Rodoviária do Plano Piloto.
Mais dependentes
A gerente do Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CapsAD) da Rodoviária do Plano Piloto, Maria Garrido, informa que o número de atendimentos em fevereiro (467) foi o maior desde setembro do ano passado, quando a unidade passou a funcionar. "O crescimento da procura é um sinal de que mais pessoas sofrem da dependência, mas também demonstra que há um público maior assistido pelo Poder Público", defende. O CapsAD da Rodoviária atende 15 regiões administrativas do DF - Lago Norte, Lago Sul, Asa Norte, Asa Sul, Cruzeiro Novo e Velho, Octogonal, Sudoeste, ParkWay, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Varjão, São Sebastião, Vila Telebrasília e Vila Planalto (leia arte).
No combate ao crack, a dificuldade de mapear os pontos de compra e de venda e de conhecer o perfil dos usuários não são as únicas cobranças feitas ao Poder Público. Representantes de comunidades terapêuticas reclamam que é difícil manter o funcionamento das casas de recuperação sem recursos oficiais. Muitas clínicas de internação espontânea recebem pacientes recomendados pelos CapsAD. "O dinheiro de emendas é fundamental para sustentar a nossa rotina. Mas conseguir esses recursos é uma luta constante", conta Cláudia Britto, presidente da Transforme, que acolhe crianças e adolescentes.
Coordenadora de uma das três comunidades terapêuticas especializadas na recuperação de mulheres, Maria Lúcia Pereira aponta que uma das iniciativas oficiais capazes de ajudar a comunidade terapêutica não é compatível com a rotina dos usuários. "O governo oferece uma ajuda de custo de R$ 800 por paciente internado, mas deve-se comprovar que as internas ficaram o mês todo. Os recursos acabam fazendo falta para as que ficam", diz Lúcia, que mantém a casa com doações.
Apreensão de dois quilos
Um homem foi preso, na última quarta-feira, com mais de dois quilos de pedras de crack. A ação da polícia ocorreu às 19h50 em Sobradinho 2, em um depósito que servia de esconderijo para a droga. Segundo o delegado-chefe da 35ª Delegacia de Polícia, Rogério Rezende, Pedro Antônio Oliveira Júnior, 26 anos, era investigado desde janeiro. Após uma denúncia anônima, os policiais encontraram o deposito, na residência de um adolescente de 17 anos. O garoto fugiu e ainda não foi encontrado. Pedro Antônio acabou preso com 2,5kg de crack, que ao todo daria para vender 7 mil pedras da droga, além de 300g de cocaína.

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