MINISTRO
PROPÕE MUDANÇAS EM PROJETOS DO GOVERNO SOBRE DROGAS.
O GLOBO
Osmar Terra prega foco em
abstinência e defende isolamento de pequeno traficante
POR RENATA MARIZ
Osmar Terra diz que
liberação da maconha pode aumentar índices de violência - André Coelho
BRASÍLIA — Após se
autonomear representante do Ministério do Desenvolvimento Social no Conselho
Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), o titular da pasta, Osmar Terra,
começou a revisar o material de capacitação do governo federal na área de
atenção a dependentes químicos. Ele vai propor alterações no conteúdo dos
cursos, que são voltados a profissionais de saúde, justiça, assistência social,
líderes comunitários e outros agentes envolvidos no tema das drogas.
Na avaliação de Terra, as
capacitações, que são patrocinadas pela Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas (Senad), à qual o Conad está ligado dentro do Ministério da Justiça, não
incentivam o tratamento e a abstinência, e só se concentram na política de
redução de danos, que tem como objetivo diminuir os problemas de saúde
decorrentes do uso de drogas entre usuários que não querem ou não conseguem
abandonar o vício.
— Todos os textos, o
material de capacitação para discutir a questão das drogas, tratam apenas de
redução de danos. Eles não pregam que a pessoa tem que se tratar, tem que ficar
em abstinência. É um dinheiro jogado fora — critica o ministro.
Ele ataca também os Centros
de Atenção Psicossocial (Caps), onde é ofertado tratamento para dependência
química no Sistema Único de Saúde (SUS), por trabalharem na lógica da redução
de danos:
— Os Caps não têm resultado
prático. As mães ficam desesperadas. Levam os filhos e, no dia seguinte, eles
estão usando droga de novo, porque nos Caps dizem: “não tem problema, só não
fuma na latinha, usa cachimbo de vidro, usa seringa descartável”.
Médico com mestrado em
Neurociência e forte atuação parlamentar contra a descriminalização das drogas,
Terra defenderá que, além da redução de danos, os cursos ampliem o foco em
iniciativas que levem ao abandono do uso. Ele já fez as propostas de alteração
no material e tem cobrado a realização de uma reunião do Conad para apresentar
as sugestões.
Desde que se nomeou para
uma das cadeiras, em agosto, houve apenas um encontro, segundo Terra. Na
ocasião, o clima ficou tenso, principalmente entre o ministro e representantes
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da União Nacional dos Estudantes
(UNE), de acordo com relatos.
Terra criticou o ministro
do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, que defendeu a legalização do
uso da maconha e, caso a experiência desse certo, também da cocaína. Ele disse
que Barroso “parte de premissas equivocadas sem qualquer evidência empírica ou
histórica”. E, citando experiências internacionais, diz que nenhum país liberou
drogas:
— Ao contrário do que
dizem, o Uruguai não liberou as drogas. Liberou a venda de maconha em farmácia
e a produção em quintal. Nos últimos dois anos, aumentou o tráfico das outras
drogas com 2.700 presos, num país de 3 milhões de habitantes. Portugal
descriminalizou o uso, o que na prática ajuda a liberar a droga, mas traz uma
contradição:
tu pode comprar, mas o outro não pode vender. Lá também todos os índices de violência pioraram. Nos Estados Unidos, os estados que liberaram nunca tiveram tanta mendicância e tanto homicídio. Tenho tabelas com os números.
tu pode comprar, mas o outro não pode vender. Lá também todos os índices de violência pioraram. Nos Estados Unidos, os estados que liberaram nunca tiveram tanta mendicância e tanto homicídio. Tenho tabelas com os números.
Além do aumento da
criminalidade, Terra aponta o adoecimento e a desagregação social como
consequências certas da liberação das drogas. O ministro refuta ainda a ideia
de que o tráfico e a violência a ele associada acabarão após a liberação, o que
chama de “mais uma distorção” do debate sobre drogas:
— Primeiro que não vai
deixar de existir o tráfico, isso não ocorre como uma fórmula mágica, e não é o
tráfico que mais mata. A diferença é que a morte do tráfico é documentada, fica
registrada. A morte do transtorno mental, da violência doméstica, dos
latrocínios cometidos por quem está em busca de droga não aparecem, mas matam
muito mais.
Ao contrário de uma
corrente cada vez mais numerosa que prega o fim da restrição de liberdade de
pequenos traficantes para não fornecer mão de obra às facções criminosas dentro
de presídios, e também por considerar a medida desmesurada, o ministro defende
que eles sejam retirados de circulação:
— Acho que esse dito
pequeno traficante é o único traficante, não tem outro. O outro é o atacadista.
Quem faz a droga circular é esse. Ele tem que sair da rua, não digo que ele
tenha que ficar no presídio com o Fernandinho Beira-mar. Lá no Rio Grande do
Sul, tem uma proposta de ter presídio, que pode ser chamado de instituto penal
ou qualquer outro nome, em que eles fiquem em tratamento, separados dos
criminosos que cometeram crimes mais graves.
Terra considera a lei
atual, criticada por muitos como responsável por encarcerar desnecessariamente
usuários e pequenos traficantes, “frouxa”, e afirma que o aumento do número de
presos por envolvimento com drogas é apenas um reflexo do aumento da atividade
nas ruas do país:
- O número de presos por
droga não é por causa da lei. A lei é ruim, frouxa, não prende ninguém. O
aumento de pessoas detidas por causa de drogas é pelo surto epidêmico de drogas
que estamos vivendo. Nunca teve tanto traficante vendendo droga. A oferta é
gigantesca.
O ministro ironiza a
crítica contra a chamada “guerra às drogas”, afirmando que todos os países se
opõem aos entorpecentes com regras limitadoras porque os danos são
expressivos:— As drogas sempre existiram, é verdade, mas de forma artesanal.
Quando começa a produção industrial, os países passam a proibir, porque era uma
desagregação social numa escala tão grande que teve de ser proibida. Não tem
nada de moderno em liberar drogas.
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