"AFIRMAR QUE FUMAR MACONHA PODE
SER TRATAMENTO É UMA MANIPULAÇÃO ABSURDA"
Zero Hora - Por Osmar Terra
Segundo médico e deputado federal,
usar drogas nunca foi nem será utilizada para tratar qualquer doença
Existe um movimento bem articulado
para conquistar a legalização das drogas, hoje ilícitas, no Brasil. Ele se
constitui num verdadeiro Partido Pró-Drogas, que se manifesta de maneira
planejada e utiliza uma tática progressiva. O primeiro passo seria a
descriminalização do uso, depois a liberação da maconha, e, logo após, a
legalização de todas as drogas, deixando que o mercado regule seu uso. É uma
cruzada que interessa a uma pequena, mas influente, parcela da sociedade, e que
conta com parte da grande imprensa nacional. Essa parcela aglutina usuários que
não querem correr riscos, filósofos da liberdade individual acima de tudo e
poderosos interesses comerciais.
Na última edição do caderno PrOA, foi
publicada uma entrevista com o diretor do filme Ilegal, Raphael Erichsen, na
qual, a título de preocupação com o tratamento para doenças raras em crianças,
o cineasta tenta justificar a liberação da maconha. Argumenta no filme que
essas crianças deveriam ter o acesso ao “canabidiol”, molécula presente na
composição da planta da maconha, para seu tratamento. Exibe o desespero de mães
que buscam tratamento para seus filhos para, de forma sub-reptícia, passar a
ideia de que então é importante legalizar a maconha (não só o canabidiol), para
uso medicinal. Logo depois, por que não?, liberar seu uso recreativo.
O argumento central, mas dissimulado,
é o de que existe uma molécula na droga, com efeito medicinal, e que por isso a
droga é remédio e deveria ser liberada. Nada mais falso.
No cigarro de maconha, existem mais
de 400 substâncias que causam danos à saúde. Uma delas, o THC, causa
transtornos mentais agudos e crônicos, desencadeia a esquizofrenia, incurável,
e transtornos de humor como a depressão, com risco maior de suicídio. É causa
importante de interdição de adultos jovens. Reduz reflexos, a memória, a
inteligência e a capacidade de trabalho. Seus usuários têm mais dificuldade de
conseguir emprego e de chegar ao curso superior. Quando conseguem, ficam entre
os mais baixos salários (conferir os estudos de Ferguson, D.M., 2013, e
Ferguson D.M. & Broden, J.M., 2008).
Pesquisa do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre mostrou que a maconha é a droga mais envolvida em acidentes de
trânsito com vítimas fatais, o álcool ficou em segundo lugar. (Pechansky e
colaboradores, 2010). Além disso, a maconha causa dependência química, e quanto
mais jovem o usuário, maior o risco. A dependência química também é uma doença
incurável, e no caso da maconha, atinge 50% entre os que usam diariamente na
adolescência (NIDA, 2010). Sem falar que a maconha usada hoje é uma variedade
10 a 20 vezes mais potente que a maconha de 15 anos atrás. Segundo a UNDOC,
órgão da ONU, 83% dos dependentes de crack e heroína começaram nas drogas
ilícitas com a maconha. Estudos da Fundação Britânica de Pneumologia (2012)
mostram que o cigarro da maconha causa mais câncer de pulmão nos seus usuários
que o de tabaco.
Um dos maiores psiquiatras
brasileiros, Valentim Gentil Filho, professor titular de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina da USP escreveu em artigo para a edição número 148 da Scientific
American (de setembro de 2014): “Um dos possíveis facilitadores dessa atitude
liberalizante em relação à cannabis é que seus efeitos agudos e transitórios
sempre chamaram mais a atenção que as ações permanentes e irreversíveis. Talvez
por isso se afirme que a maconha é menos prejudicial que o álcool e o tabaco.
Na realidade, a discussão sobre drogas ilícitas tenta transmitir uma mensagem
de segurança que as evidências absolutamente não justificam.”
Assim, afirmar que fumar maconha pode
ser tratamento é uma manipulação absurda. Isso não impede, porém, que uma
molécula da planta, como o canabidiol, não possa ter efeito benéfico em alguma
doença rara. Se comprovado, ela deverá ser retirada da planta, isolada e
utilizada para aquela finalidade específica, como um comprimido ou líquido. É
muito diferente de fumar maconha “para se tratar”.
Só para lembrar, a morfina é uma
substância derivada da papoula, a planta que produz a heroína. No entanto, é
utilizada em casos específicos de dor intensa. A bradicinina é uma substância
com excelentes resultados em hipertensão arterial e vem do veneno da jararaca.
Mas ninguém receita injeção de heroína para tratar dor, nem picada de jararaca para
“pressão alta”!
Uma coisa é usar determinada molécula
de uma planta para fins medicinais, outra coisa é usar isso como desculpa para
se drogar. Usar drogas nunca foi nem será tratamento para qualquer doença,
muito pelo contrário.
Quanto à exploração emocional do
sofrimento alheio, para empurrar de contrabando a legalização das drogas,
mostra que o Partido Pró-Drogas não tem nem terá limites éticos ou morais para
conseguir seu intento. Cabe ao restante da sociedade ficar alerta e
contra-argumentar, quem sabe também com um filme, mostrando a relação
verdadeira e direta da maconha e outras drogas com a destruição física e mental
de milhões de brasileiros, história que bem poderia ser contada por suas
famílias devastadas pelo sofrimento.
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