As cracolândias se
multiplicam em São Paulo. Fim da picada: assessora da Prefeitura diz que droga
é “lazer das pessoas” e “fator de sociabilidade”. Asco!
Se vocês quiserem saber no que resultou a política de
tolerância da Prefeitura de São Paulo com a Cracolândia da região central,
devem observar o mapa abaixo. Ele localiza as várias cracolândias espalhadas
pela cidade. Se o prefeito Fernando Haddad decidiu transformar aquela área do
Centro em zona livre do tráfico e do consumo de drogas — e não adianta negar
porque é disso que se trata —, por que não fazer o mesmo nesses outros locais?
Se aqueles merecem salário e moradia de graça, por que não esses outros? Vejam
o mapa. Volto depois.
O crescimento de cracolândias nas periferias costuma ser
associado por estudiosos do tema a operações de remoção mal sucedidas no
passado, como a promovida pela Polícia Militar em janeiro de 2012. A PM ocupou
a região central e tentou dispersar a aglomeração de usuários e sufocar as
vendas de traficantes, ao passo que a prefeitura passou a limpar as ruas e
demoliu uma série de casebres onde os dependentes se escondiam. O fluxo de
usuários na Luz diminuiu, e supõe-se que muitos deles tenham migrado de vez para
outros locais. Mas não houve monitoramento adequado para comprovar a migração.
Nesta semana, um grupo de dependentes resistente aos programas do Estado e da
prefeitura montou acampamento na Alameda Cleveland. A pracinha ficou lotada:
traficantes se aproximavam em bicicletas para vender pedras, enquanto os
usuários ofereciam para troca quinquilharias e objetos roubados, como caixas de
som portáteis, cordões e telefones. Havia crianças e adolescentes entre eles,
além de grávidas. A movimentação era caótica, num ritmo particular. “Temos que
entender esse fenômeno como um de lazer das pessoas”, diz Cibele. “Elas criam
uma sociabilidade, constituem uma comunidade com regras de convivência e certa
solidariedade e relações interpessoais. A droga é mais uma consequência do
desemprego e da miséria e não a causa.”
(…)
Voltei
A versão de que foi a ocupação da Cracolândia, em 2012, que
fez multiplicar as cracolândias é feitiçaria política e ideológica dos ditos
“especialistas”, todos eles certamente partidários da atual política do
prefeito Fernando Haddad, um dos maiores desastres da história de São Paulo.
Comecemos pelo óbvio: a Cracolândia hoje é mais livre do que
jamais foi. Tudo está como era antes, só que pior: porque agora a Prefeitura
injeta dinheiro no local, o que provocou, inclusive, uma elevação do preço da
pedra vendida na região. A inflação da droga acaba expulsando os usuários ainda
mais miseráveis. Por incrível que pareça, já há subníveis sociais dentro do
consumo de crack.
Haddad já anunciou que o próximo passo é começar a alugar
quartos para viciados também na região do Parque D. Pedro II. Leiam ali o que
diz a tal “Cibele” — trata-se de Cibele Neder, assessora de saúde mental,
álcool e outras drogas da Secretaria Municipal de Saúde: “Temos que entender
esse fenômeno [do crack] como um de lazer das pessoas. Elas criam uma
sociabilidade, constituem uma comunidade com regras de convivência e certa
solidariedade e relações interpessoais. A droga é mais uma consequência do
desemprego e da miséria e não a causa.“
Respondo
Uma tripla ova para esta senhora!
1: se a droga é lazer, então não é um problema! Se é lazer,
não é nem problema de saúde pública; se é lazer, a questão tem de passar para a
área de turismo (mas sem dinheiro público sustentando o vício de ninguém: lazer
é lazer!);
2: a droga só é fator de sociabilidade entre os “iguais”
(viciados) porque romperam outros vínculos;
3: o Brasil não tem um problema de desemprego que justifique
a tragédia do crack. A afirmação é fruto de ignorância específica. Cibele
precisa estudar economia para parar de falar besteira sobre consumo de drogas.
Ou, então, precisa estudar direito as drogas para parar de falar besteira sobre
economia.
O crack, em suma, se expande na cidade porque existe uma
Prefeitura que o considera “lazer das pessoas” e “fator de sociabilidade”. Ei,
você aí! Está sozinho, pouco sociável, querendo se integrar? Ah, procure uma
rodinha de crack e boa viagem ao inferno, tendo a Cibele como o seu Virgílio.
Essa gente provoca em mim vontade vomitar. #prontofalei.
Por Reinaldo Azevedo
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