Análise:
Consumo precoce de drogas prejudica desenvolvimento cerebral.
Jornal O Estado de S. Paulo
Clarice Sandi Madruga - Pesquisadora da Unifesp A análise
das prevalências obtidas pelo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas sobre o
consumo de drogas no Brasil aponta uma tendência: as faixas etárias mais jovens
não só são um fator de risco para o uso, mas também para uma série de
comportamentos decorrentes deste consumo.É sabido que o cérebro humano só
conclui sua maturação depois dos 24 anos.
A área mais complexa do cérebro, chamada córtex frontal,
responsável por tomadas de decisão, ponderação entre prós e contras e
avaliações de risco, é a última a se desenvolver. Fato que explica a baixa
capacidade de controle de impulsos na adolescência, que, por consequência, leva
à experimentação de psicotrópicos e à exposição a riscos, como os reportados na
pesquisa.
O uso destas substâncias nesta idade leva a consequências
desastrosas, afetando de forma permanente a maturação das áreas ainda em
crescimento e a forma com que os indivíduos tomam decisões.
Dessa forma, o adolescente ou jovem que já tem, por natureza,
uma tendência a avaliar riscos e controlar seus impulsos de forma equivocada, o
faz com ainda menos eficiência devido às sequelas causadas pelo uso de
substâncias psicotrópicas.Estas alterações químicas e morfológicas causadas
pelo consumo precoce também estão associadas ao desenvolvimento de dependência
química e ao desenvolvimento de outros transtornos.
Sabe-se que os transtornos de humor, em especial a
depressão, é uma das principais comorbidades da dependência química. Em outras
palavras, são doenças que andam juntas: tanto pessoas com depressão procuram
substâncias psicotrópicas em uma tentativa de aliviar seus sintomas quanto
usuários abusivos acabam por desenvolver depressão devido ao uso.
De uma forma ou de outra, nosso estudo apontou esta associação.
Cerca de 21% dos jovens possuem indicadores deste transtorno.
Esta prevalência sobe para 37% entre usuários de cocaína e
chega até 48% entre usuários problemáticos de álcool. Estatísticas mostram que
os participantes jovens com sintomas de depressão têm até quatro vezes mais
chances de usar cocaína. Esperamos que os dados da pesquisa possam ser usados
no sentido de destacar estes grupos de risco para que eles sejam alvo de
intervenções de prevenção e tratamento precoce.
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