LIÇÕES
AUSTRALIANAS.
Quando você compra um maço de
cigarros no Brasil você se incomoda com as imagens que trazem informações sobre
os riscos que fumar pode trazer para sua saúde? Já pensou se o maço todo fosse
uma advertência sobre os perigos do tabagismo, tivesse uma cor pouco atraente,
marca discretamente exposta e sem logotipo? A embalagem toda como uma espécie
de campanha contra aquilo que você está adquirindo? Além disso, ela estaria
escondida nos pontos de venda, longe do alcance dos olhos, e um pacote custaria
algo como R$ 40.
Essas
medidas completaram um ano em dezembro na Austrália e fazem parte de um plano
do governo para reduzir o número de fumantes e os efeitos nocivos do cigarro.
Os impostos sobre o valor do cigarro aumentaram 25%, legislação foi criada para
impedir anúncios na internet e dinheiro foi investido em campanhas contra o
cigarro - boa parte desse valor foi dirigido para alertar grupos mais
vulneráveis, mais difíceis de serem alcançados pelas campanhas tradicionais.
As
pesquisas indicam que o novo empacotamento aumentou a percepção e a lembrança
da população sobre as mensagens de risco, reduziu os riscos de o consumidor
acreditar que um produto é menos perigoso do que outro e diminuiu a atração que
os maços de cigarro podem ter sobre adultos, jovens e crianças.
Andando
pelas ruas de Sydney há uma semana, noto, de fato, um número muito menor de
fumantes do que em grandes cidades da Europa ou do Brasil, mesmo em áreas
abertas, onde o fumo é permitido. As leis antitabagistas variam de uma região
para outra no país. Em Queensland (no leste), onde estão a cidade de Brisbane e
as praias famosas da "Golden Coast", não se pode fumar em espaços
públicos abertos e a exposição do cigarro nos pontos de venda é ainda mais
restritiva.
Muitos
australianos que viajam para essa parte do país chegam a levar acessórios de
reposição de nicotina (adesivos, cigarro) para segurar a vontade de fumar em
praias e ruas. Os especialistas acreditam que essas dificuldades levam cada vez
mais fumantes a buscar ajuda para parar de fumar ou, ainda, são um desestímulo
à experimentação.
No
Brasil, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda implementar
um modelo de embalagem semelhante ao australiano. Quando o atual modelo de
imagens de advertência foi autorizado no País, em 2002, a iniciativa ainda era
relativa novidade no mundo e foi bastante elogiada pelos especialistas e
autoridades. A medida, junto com o maior esclarecimento sobre os riscos de
fumar, além das leis que vetaram a publicidade de cigarro e o fumo em locais
fechados, entre outras, foram responsáveis por diminuir drasticamente o número
de fumantes nas duas últimas décadas.
A
Nova Zelândia também avalia introduzir embalagens semelhantes e, no Reino
Unido, os novos maços podem ser implementados em 2015. Em julho, a União
Europeia esboçou considerações sobre o tema e sugeriu proibir as embalagens com
menos de 20 cigarros, que podem facilitar o consumo dos jovens.
Para
terminar, uma outra lição dessa parte do mundo. Na semana em que o governador
Sergio Cabral, do Rio, sancionou a lei que proíbe o consumo de bebida no
interior de transporte público em todo o Estado, por aqui o álcool é proibido
em boa parte das áreas públicas, como parques, praias e ruas. Em teoria, as
pessoas não podem beber nesses espaços, devendo consumir as bebidas alcoólicas
em bares, baladas, restaurantes ou em suas casas. Alguns países europeus adotam
posição semelhante. A medida parece ser interessante, embora esteja longe de
resolver as complexas dinâmicas que envolvem o abuso do álcool. Muito ainda há
para se pensar e fazer no Brasil em relação às duas substâncias que mais causam
impactos para a saúde pública do País.
*Jairo
Bouer - psiquiatra.
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