O QUERIDINHO DAS BALADAS É O APEROL. CONHECE?
Como o grupo Campari se reaproximou dos jovens com uma bebida
até pouco tempo atrás desconhecida fora da Itália e com nome de remédio - o
Aperol.
Cerca
de 2 000 jovens se
reuniram num fim de tarde de agosto numa praia de Salento, na região da Puglia,
no sul da Itália. Numa espécie de festival a céu aberto com a apresentação de
DJs e músicos locais, o encontro reuniu um público de 18 a 34 anos em busca de
balada e diversão.
Nenhum
deles pagou ingresso. Mas pareceram não se importar em pagar 3 euros por uma
dose da única bebida à disposição — o coquetel Aperol Spritz, preparado com uma
mistura de espumante, água com gás e Aperol, bebida de cor laranja com sabor
levemente amargo, cujo nome mais parece o de um remédio (mas, na verdade,
remete à proposta de ser um aperitivo antes das refeições).
Estima-se que tenham sido vendidas 5 000 doses naquela noite. De
junho a setembro, o roteiro se repetiu em outras 16 cidades em cinco países,
como Espanha, Áustria e Inglaterra. Chamado de Aperol Spritz Tour, o evento
criado há três anos pelo grupo Campari, sexto maior fabricante
de bebidas do mundo e dono da marca, é o exemplo máximo do esforço de uma
companhia centenária para se reaproximar de um público mais jovem.
Nos anos 90, seus executivos tiveram de decidir entre crescer
por aquisições e
defender um mercado de nicho com um produto único — o Campari. Ficaram com a
primeira opção. De 1995 a 2002, com a receita andando de lado, o Campari
comprou 17 marcas, como o vermute Cinzano e a vodca Sky.
Em paralelo,
começou um esforço para revigorar a aura de sofisticação da marca Campari — uma
das medidas foi produzir ensaios fotográficos com beldades como a atriz
americana Uma Thurman e a espanhola Penélope Cruz para um calendário de luxo
com apenas 9 999 exemplares por ano, desde 2000.
Parte
importante da virada começou em 2003 com a compra do Aperol, uma bebida criada
em 1919 na cidade de Pádua e até então praticamente desconhecida fora da
Itália. Com o impulso da rede de distribuição do Campari, hoje presente em mais
de 190 países, o Aperol ganhou o mundo.
Hoje
é o principal produto do portfólio do grupo, à frente da bebida que deu origem
à empresa há mais de 150 anos. Cerca de 12% das receitas de 1,3 bilhão de euros
referente a 2012 vieram da marca. “Conseguimos levar a bebida para o mundo”,
diz Sascha Cumia, diretor-geral da Campari na América do Sul.
O
primeiro esforço foi criar uma mania em torno do Aperol Spritz, bebida popular
no nordeste da Itália há quase um século. Com o slogan “Crazy for life” (“Louco
pela vida”), as campanhas da empresa retratavam jovens brindando com o
coquetel.
E
davam a receita do Spritz: três partes de espumante, duas de Aperol e uma de
água com gás. A estratégia de promover as festas ajudou a popularizar a bebida
na Europa. Ao mesmo tempo, partiu para outra tática: treinar bartenders em países
como Alemanha e Austrália. Deu certo.
No
último verão americano, foi eleito o drinque do ano pelo jornal The New York
Times. Também ajudou o espanhol Davi Rios a ganhar o prêmio de melhor bartender
do mundo na competição Diageo World Class 2013, maior campeonato mundial de
“mixologia” — neologismo para a técnica de criar coquetéis. O coquetel campeão
foi o Gold Basque Punch, que, entre outros ingredientes, leva, claro,
Aperol.
A
mesma tática valeu no Brasil. Diante do potencial de mercado, hoje o quarto do
grupo no mundo, o país ganhou atenção especial da companhia. O Campari por
enquanto treinou bartenders de 11 estabelecimentos em São Paulo e, no início,
chegou a oferecer rodadas de Aperol Spritz de graça. Esses bares passaram a
ser chamados de “embaixadas”.
No
próximo verão, a empresa pretende levar o treinamento de bartenders para o
litoral paulista, além de Rio de Janeiro e Porto Alegre. As vendas da marca
cresceram 100% no país em 2013. “O Aperol Spritz já representa metade dos
coquetéis que vendemos”, diz Carlos Bertolazzi, sócio do Zena Caffé, primeira
embaixada Aperol no Brasil.
Quanto
tempo vai durar esse ciclo de ascensão? “O desafio do grupo Campari será fazer
o Aperol romper a barreira de um modismo para se tornar um produto clássico”,
diz Jaime Troiano, especialista em marketing. Para não depender de uma só
aposta, a empresa continua a investir na diversificação. Em 2012, comprou cinco
marcas de rum, como a tradicional jamaicana Appleton, criada em 1749. A
mensagem dos executivos do Campari é que a capacidade de se renovar parece
sempre a melhor estratégia.
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