"O MERCADO DA DROGA URUGUAIA SERÁ O BRASIL",
DIZ DEPUTADO OSMAR TERRA.
Terra, que fala nesta
terça-feira no Senado uruguaio, se mostra contrário ao projeto do país de
controlar a produção e a venda de maconha
Autor
do projeto de lei antidrogas que tramita no Congresso brasileiro, defensor de
penas mais duras para traficantes e da internação involuntária para dependentes
químicos, o deputado Osmar Terra (PMDB-RS) leva seu discurso contra as drogas
ao Uruguai. Na tarde desta terça-feira, o gaúcho fala em uma audiência no
Senado uruguaio, que se prepara para votar o projeto que legaliza a produção e
o consumo de maconha. Médico, com mestrado em neurociência, Terra fará discurso
contrário ao projeto. O deputado teme que a legalização multiplique a entrada
de maconha no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul. Confira trechos da
entrevista.
Zero
Hora — Por que o senhor é contrário à legalização da maconha no Uruguai?
Osmar
Terra — A liberação é um risco elevado, principalmente para juventude.
Para quem luta contra a dependência, cada dia da abstinência é uma vitória. O
projeto vai aumentar a oferta e vai aumentar a dependência. Não existe
experiência no mundo em que se verificou redução no consumo de drogas após a liberação.
A Suécia liberou drogas e teve de proibir nos anos 70, porque teve problemas de
saúde e segurança. A própria Holanda tem restrições pesadas para o consumo fora
de áreas autorizadas.
ZH —
O senhor falará em nome do Congresso brasileiro, será uma posição oficial do
parlamento?
Terra
— Não sou governante. Vou falar como autor do projeto de marco legal das
drogas no Brasil, já aprovado na Câmara, assim como o projeto uruguaio. Só que
no Brasil a posição é diferente. Vou explicar porque os deputados do Brasil
preferem penas mais duras para o tráfico e são contra liberar o uso de drogas.
Falarei em nome da maioria dos deputados que aprovaram o projeto.
ZH —
Qual o possível impacto no Brasil se o Uruguai legalizar a maconha?
Terra
— Será grave, principalmente no Rio Grande do Sul, em virtude da
fronteira. O mercado da droga uruguaia será o Brasil. O Uruguai tem população
equivalente à Região Metropolitana de Porto Alegre. Vão produzir lá e o tráfico
trará a droga para cá, será difícil controlar as fronteiras.
ZH —
As autoridades brasileiras deveriam se preocupar?
Terra
— O governo brasileiro e gaúcho deveriam estar preocupados. Vai acontecer
o mesmo que acontece com a coca boliviana, onde não se consegue limitar a
produção. Segundo dados da Polícia Federal, 85% da pasta base que chega ao
Brasil vem da Bolívia. No caso uruguaio, a maconha entrará no Rio Grande do
Sul. Vai impactar na saúde e na segurança do Estado.
ZH —
A liberação da maconha no Uruguai pode mudar os rumos da lei antidrogas
discutida no Brasil?
Terra — Não tenho medo que influencie. Tanto os deputados
quantos os senadores observam nas suas bases a epidemia do crack vivenciada no
Brasil. Pesquisas indicam que 83% dos usuários de drogas pesadas, como crack e
cocaína, entraram nas drogas com a maconha.
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