ALCOOLISMO e os jovens.
Os jovens entram em
contato com a bebida alcoólica e com as drogas cada vez mais precocemente em
nosso país. Quanto mais cedo se dá esse contato, maior a chance de desenvolver
abuso ou dependência. Por isso o número de abusadores, alcoolistas e dependente
de drogas vem crescendo assombrosamente. Especialistas afirmam que pelo menos
20% da população tem uma relação perturbada com o álcool. Diferente do
uso recreativo praticado pela maioria das pessoas que tem como finalidade
proporcionar prazer gustativo, relaxamento e um ambiente de convívio social
mais agradável.
Alguns psicanalistas
consideram o alcoolismo não apenas como toxicomania ou como comportamento
adictivo. Eles tendem a ver o processo que leva à dependência como um processo
de busca por um estado ideal de onipotência e completude, um culto ao álcool e
às drogas, uma religião degradada, que gera perda da humanidade.
Procura-se nos
efeitos psicossomáticos da bebida alcoólica ou das drogas escapar da condição
humana e tornar-se uma espécie de Deus, mas, o que está em jogo é uma atração
mortífera. Há uma conduta de cunho psico-religiosa degradada, revelando uma
estreiteza mental. Portanto, o alcoolismo e a drogadição não significam
simplesmente uma dependência da química do álcool e das drogas, antes de tudo,
falam de fuga da condição humana e aderência a uma fé psicótica no ideal de
tornar-se inumano, poderoso e completo.
Por ocasião da
instauração da doença pode se dizer que os dependentes desejam ter total
“independência” do corpo e usam os efeitos psicossomáticos dos estados de
narcose na tentativa de dissolução da própria sensação de corporeidade. Querem
atingir, por meio de fantasia onipotente, uma condição de incorporeidade e
imortalidade.
Na ânsia de negar-se
humano o corpo é sentido como um grande inimigo, por trazer de forma concreta e
inegável as vivências de individualização, diferenciação, limitação e
mortalidade. Por isso o corpo é alvo predileto dos ataques autodestrutivos do
alcoólatra ou dependente de drogas.
Apenas nos estados
mais avançados da condição os sintomas neurológicos manifestam-se e a
dependência física se expressa.
Luciana
Saddi é psicanalista e escritora em São Paulo e é mestre em Psicologia Clínica
pela PUC/SP.
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