Políticas Públicas para a Maconha
Maconha não sai da pauta desde os anos 60. Ora com
imagem maligna ora até terapêutica. Não é, certamente um produto qualquer. Como
o tabaco e o álcool, merecem muito espaço em nossa reflexão cotidiana. Pois não
é que, dia desses, uma jovem paciente me falava de uns dias passados na
Califórnia, Estado americano cheio de ousadias sociais. Fumou maconha por Los
Angeles sem qualquer constrangimento. E mais, soube que, por vinte ou trinta
dólares, compraria um cartão que o habilitaria a apresentar-se como doente que
demanda uso de maconha. Isto lhe permitiria acesso franqueado a farmácias
verdes especializadas. Outros estados americanos avançaram para a liberação do
uso chamado recreacional. Na Europa e mesmo na America latina, outros países
ensaiam liberar a maconha.
É tentador fechar a reflexão possível em posições
extremas, mas também parece inútil A perspectiva de uma sociedade com grande
número de usuários de uma droga de ação longa e modeladora de atitude diante da
vida e que desfruta de imagem de benignidade parece assustador. mas esta é a
perspectiva do Psiquiatra que dá atenção a usuários transformados em pacientes
por peculiaridades da interação gene-ambiente, incluindo, é claro, no ambiente
a maconha. É uma vulnerabilidade muitas vezes já bem conhecida da família,
outras tantas surpreendente para os entes mais queridos. Tipicamente são pais
perplexos com a prioridade dada à droga, em meio a tantos potenciais
interesses.
Jovens letárgicos, sedentários, gregários, entre
iguais usuários mistificadores do estado mental produzido e mantido pela
maconha. Todos, ainda que exitosos, inscrevendo-sed entre os de potencial
significativo insuficientemente explorado. Um manto de ideologização de uma
vida percebida como hedônica e avessa a supostos exageros de entrega a um
sistema social devorador de ambições e, quem sabe, de vida.
Enfim, pregadores de uma vida simples, na verdade
muitas vezes tristemente simplória. Cabe sempre lembrar que o viés aqui
utilizado é o do Psiquiatra diante de sua clientela usuária de maconha a
queixar-se de um desempenho pífio, pobre para um dado potencial. A vida tem
muito a exigir e oferecer. A maconha entra na lista das ofertas de um custo não
tão evidente, mas bem alto.
Todo esse arrazoado para enfocar a organização de
Políticas Públicas específicas para a maconha em nosso Brasil. O debate já se
tornou endêmico e segue aquecido. Em nosso congresso Brasileiro da ABEAD,
marcado para a semana da Pátria deste próximo setembro vai repercutir a pauta
social e científica que acolhe o tema da maconha. A tradição de debates
aquecidos pela ciência e detonados por posições definidas deverá produzir um
evento a marcar o calendário nacional na área da dependência química. Estamos
tramando nos bastidores para que seja um sucesso histórico, capaz de mexer
também em Políticas Públicas para a álcool, tabaco, maconha e outras drogas!
* Carlos Salgado é psiquiatra e coordenador da
Comissão Científica do Congresso Brasileiro da ABEAD 2013
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