Especialistas contam dramas causados nas famílias pelo consumo de drogas
Tribuna da Bahia
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Atualmente o aumento do uso de drogas por parte de crianças e adolescentes cada vez mais jovens tem gerado muita preocupação, não só entre os profissionais de saúde, como também entre os familiares que veem não só a destruição da vida dos dependentes, mas a mudança de comportamento passando a roubar, matar e até mesmo cometer o suicídio, destruindo a estabilidade de toda a família.
“Para que haja a recuperação e ressocialização desses indivíduos é necessária e fundamental a participação da família. Primeiro é preciso entender que dependência química é uma doença que precisa ser compreendida e tratada como tal. Ser dependente não é falta de caráter e sim uma doença que necessita de tratamento”, afirma o psiquiatra, Carlos Jorge Monteiro. Segundo ele, “é na família que devemos encontrar o apoio para as ações preventivas e para as intervenções em relação ao uso das drogas”.
“Infelizmente o uso e abuso das drogas é cada vez maior, gerando sérias consequências não só para a família, como também para o adolescente. É necessário que a família busque informar-se sobre a dependência, para que possa agir junto aos seus filhos não só na prevenção, como também na intervenção quando a dependência já se encontra instalada”, reafirmou. “É necessário entender o que é dependência química, os fatores que predispõem ao uso de drogas, como prevenir e como lidar com o problema. O mais importante é derrubar o preconceito que infelizmente ainda existe por parte de pessoas mal informadas”, considerou o médico.
Distúrbios mentais e dependência
A morte do vocalista da banda Charlie Brown Jr, Alexandre Magno Abrão, o Chorão, coloca em discussão, mais uma vez, a relação entre dependência química e distúrbios mentais.
Segundo o psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, em 80% dos casos, é a doença mental que leva o paciente à dependência. Os dados são uma projeção feita pelo profissional com base nos atendimentos e experiências ao longo dos 37 anos que trabalha com o tratamento de dependentes, enquanto diretor clínico do Espaço Holos, centro de saúde mental de referência em Salvador.
Esta mesma temática, que também associa a doença mental a atos de violência, é explorada pelo premiado filme “O Lado bom da vida”, em cartaz nas salas de cinema de Salvador. O protagonista, encenado por Bradley Cooper, agride a própria mãe e mobiliza toda a vizinhança por causa de uma fita de vídeo não encontrada. O personagem havia acabado de sair de uma clínica de tratamento e já tinha seu diagnóstico: transtorno bipolar.
É por conta disto que Luiz Fernando Pedroso é defensor ferrenho da internação compulsória (contra a vontade do paciente), que vem sendo bastante discutida pela mídia por conta das ações dos governos de São Paulo e Rio de Janeiro, que vêm encaminhando dependentes que perambulam pelas ruas para clínicas de tratamento.
”Os espaços públicos têm se tornado moradia para estes usuários, que cada vez mais, deterioram as cidades e deixam a população acuada em suas grades de proteção. Por muito tempo o poder público se omitiu da responsabilidade se perdendo em discussões ideológicas, mas parece que o quadro tende a mudar”, opinou o psiquiatra.
A psicoterapia de base analítica na saúde mental observa, em certos casos, a intensa ligação entre as dependências químicas e o estado depressivo, seja no usuário de álcool, maconha, cocaína, pessoas viciadas em medicação, ou qualquer outra droga.
A maior incidência deste processo está nos homens jovens cuja idade varia entre os 14 e os 35 anos. “Geralmente estes tentando fugir dos sintomas isolados de crises de pânico ou da depressão tendem naturalmente a migrar para o uso de drogas lícitas ou ilícitas, o que transforma todo processo de dois problemas em um só. A incidência nas mulheres é pequena em proporção aos homens dependentes químicos sendo justamente por isto que as estatísticas de depressão tendem a serem maiores no público masculino”, considerou o psicoterapeuta Carlos Augusto de Carvalho.
Para ele, o uso de drogas tem sua ação variada. O álcool, a maconha e os calmantes inibem o sistema nervoso e tendem naturalmente a agravar os quadros de ansiedade, depressão e pânico. São buscados geralmente ou indicados visando relaxar ou tranquilizar seu usuário. Contudo, na prática, assim que o efeito passar, as crises tendem a voltar pior.
As drogas “estimulantes” como o crack, cocaína, e outras, por sua vez geram um estado eufórico passageiro que terá ação direta na produção de adrenalina e outros hormônios, mas que em contrapartida atacará o sistema nervoso assim que o efeito da mesma cesse debilitando o indivíduo ainda mais.
“Sem a incidência de patologias como a ansiedade, depressão ou pânico, o usuário destas drogas já tem como efeito colateral um estado de letargia intenso que ocorre principalmente no dia seguinte ao uso da droga”, considerou Carvalho.
Na prática, diz ele, boa parte dos fatores estimulantes para o uso de uma substancia química se relacionam diretamente com a insatisfação, ansiedade, fuga da realidade, necessidade de poder, desequilíbrio ou desajuste da personalidade, ausência de limites psíquicos e imaturidade afetiva.
“A ansiedade com características mórbidas induzindo a esta fuga do mundo pelo uso de uma substancia que, de forma mágica, levaria a um mundo de satisfação utópico. Em termos cognitivos após o uso da substancia “inebriante” a volta a realidade nua e crua, conhecida em termos técnicos como a “ressaca moral”, leva o usuário a buscar novamente o refúgio seguro na droga o que gradativamente faz com que aumente a frequência de seu uso”, analisou o psiquiatra.
Este processo aumenta as crises de depressão após o uso da droga seja ela qual for. Se somarmos a este processo os fatores psicológicos da inserção do usuário na marginalidade, as formas escusas para conseguir a substancia, a decadência moral, financeira e a quebra de produtividade, inerente ao uso de qualquer uma destas substancias teremos aumentados os fatores estressantes do usuário e a potencialização da crise de depressão após o uso da droga.
Nos casos de pânico, o uso de drogas tende a rebaixar naturalmente o nível de consciência gerando um fator potencializador de crises que vão se fundir com os processos paranoicos e persecutórios, extremamente frequentes.
“O tratamento de crises de dependência misturadas com transtornos de ansiedade, depressão ou pânico se desenvolve em duas frentes: quebra da dependência química em um primeiro plano e após esta quebra o tratamento da ansiedade, depressão ou pânico. A desintoxicação da droga deverá vir primeira mesmo por que há uma tendência natural que estas outras doenças sejam apenas um sintoma da dependência. O corpo desintoxicado reagirá melhor ao tratamento medicamentoso”, considerou.
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