Família pode influenciar no consumo de álcool
na adolescência, diz estudo da EERP.
Universidade de São Paulo
Positiva ou negativamente, adolescentes são
influenciados por seus familiares, dentro de suas próprias casas, em relação ao
abuso do álcool.
Essa é a conclusão de recente pesquisa
desenvolvida pela enfermeira Betânia da Mata Ribeiro Gomes, em seu trabalho de
pós-graduação apresentado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da
USP.
A pesquisadora observou e entrevistou em seus
domicílios, 22 membros de dez famílias, entre eles, 11 adolescentes de ambos os
sexos, entre 14 e 19 anos, que consumiam álcool. O estudo aconteceu na Unidade
de Saúde da Família EmocyKrause, localizada em Recife (Pernambuco), entre julho
de 2010 e agosto de 2011.
Foram alvo do estudo apenas os familiares que
moravam com o adolescente e tinham um laço mais próximo, como, pais, irmãos,
tios. Em cada família, o convite se estendeu aos familiares que estavam
presentes no primeiro encontro, realizado pelo estudo. “E no decorrer da
pesquisa, a interação e os discursos indicaram a necessidade ou não de incluir
outros familiares”, comenta Betânia, que se ateve a temas como: estrutura,
desenvolvimento e funcionamento das famílias; crenças que podem influenciar o
consumo de álcool; as interações familiares que protegem ou que expõem os
adolescentes ao consumo ou abuso de álcool; e o sentido da religião.
A maioria dos entrevistados possuía renda
menor que um salário mínimo. Alguns recebiam ajuda do governo e não tinham
completado seus estudos, além de presenciar, em suas próprias casas, a prática
do uso do álcool. Muitos adolescentes ainda presenciaram separações de seus
pais ou morte de algum deles devido ao consumo de bebida alcoólica. Quanto ao
relacionamento em família, Betânia verificou que a maioria sofria com
desentendimentos, desafetos, problemas de comunicação, agressão, conflitos,
violência e falta de interação.
Prazer e prejuízos Para a pesquisadora, a
decisão pelo consumo de bebida alcoólica foi associada ao prazer e diversão,
principalmente relacionada às músicas, as quais, segundo ela, estão no contexto
de vida desses adolescentes, incentivando o consumo. “É uma válvula de escape
para as dificuldades e problemas familiares do cotidiano”.
Betânia percebeu que, mesmo com sentimentos
de alívio, relaxamento, distração e dos momentos de lazer, os adolescentes não
ignoravam os prejuízos do uso abusivo da bebida alcoólica, principalmente
porque presenciaram os problemas que a bebida causou em seus próprios
domicílios.
As famílias, apesar de não se relacionarem
adequadamente com os adolescentes, apoiaram seus membros e mantiveram esperança
por meio de motivação ou da religião, pensando em um futuro melhor. “A religião
pode favorecer o sentimento de esperança e, com ela, o gosto pela vida”,
afirma. Ela notou ainda que os adolescentes se preocupavam em manter viva a
motivação para uma vida melhor, para a conquista de trabalho qualificado e da
casa própria, além de tentar realizar os sonhos que não foram possíveis para
seus pais.
Betânia concluiu que os familiares
influenciam os adolescentes de forma positiva e negativa quanto ao uso e abuso
do álcool. “A estrutura e composição da família, o padrão de interação
familiar, a comunicação entre seus membros, a religião e a esperança são
componentes que se articulam diretamente com a prática do consumo de álcool
pelos adolescentes”.
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