31,5% das vítimas de violência
estavam embriagadas no dia da agressão.
Novos dados são do Ministério da Saúde. “O uso
exagerado de álcool transforma a mulher em uma bomba-relógio”, afirma
especialista.
O consumo
exagerado de bebidas alcóolicas transforma a mulher em uma bomba-relógio, mais
vulnerável à violência, tanto no papel de vítima quanto no de agressora.
A
afirmação é da psiquiatra Camila Magalhães, diretora do Centro de Informação
sobre o Álcool (Cisa) e uma das principais estudiosas da dependência química
feminina.
Levantamento
recente feito pelo Ministério da Saúde traz informações atualizadas sobre esta
relação violenta entre o álcool e as pacientes.
A
avaliação foi feita com 47.455 vítimas de traumas urbanos, atendidas em 71
serviços de urgência do País.
Os dados,
ainda preliminares, mostraram que, entre as mulheres agredidas que chegaram aos
hospitais, 31,5% tinham consumido exageradamente cerveja, vinho, uísque ou
qualquer outra dose etílica no dia da agressão.
Para os
especialistas, constatar que a embriaguez feminina está relacionada ao episódio
violento não é culpar a vítima pelos tapas e socos sofridos.
“Os dados
nos permitem reforçar que ao evitar o uso nocivo de álcool, as mulheres ampliam
o alcance da prevenção da saúde”, alerta Camila.
“Elas
ficam mais protegidas contra os problemas agudos e perigosos, como é o caso da
violência, e também evitam as doenças crônicas, desencadeadas pelo uso
progressivo da bebida em excesso (problemas no rim, fígado, coração e
psicológicos estão na lista).”
A ação do
álcool
O
psiquiatra do Hospital São Luiz, Renato Mancini, explica que o álcool desperta
o comportamento violento, seja o consumidor homem ou mulher.
“Infelizmente,
aspectos machistas ainda presentes na nossa cultura e a maior fragilidade
física das mulheres contribuem para que elas sejam alvo frequente desse tipo de
agressão”, afirma o especialista.
Segundo
ele, a droga afeta o sistema nervoso central, inicialmente causado efeito de
desinibição, seguida posteriormente, por uma sedação.
“Quando
alcoolizadas, as pessoas têm maior risco de se envolver em brigas nas quais
podem se machucar ou machucar outras pessoas”, explica.
Além
disso, as bebidas alcóolicas também afetam a coordenação motora, os reflexos e
o raciocínio: “um prato cheio para fazer com que as pessoas se coloquem em
situações de risco”, completa Mancini.
Causa e
consequência
Neste
contexto de maior vulnerabilidade feminina, preocupa as autoridades a
constatação de que é crescente o uso de drogas pelas mulheres.
“O
aumento é inegável”, afirmou o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em evento
sobre o programa de vigilância da violência da saúde, em fevereiro.
“Só para
citar um exemplo: no carnaval do ano passado, montamos um projeto-piloto de
atendimento a emergências no carnaval de Salvador. Entre os embriagados que
precisaram de cuidados, 70% eram homens e 30% mulheres”, contou Padilha.
“No
Carnaval deste ano, repetimos a experiência. Não existiu diferença de gêneros
nos atendimentos. Metade era do sexo masculino e a outra do sexo feminino.”
Além dos
fatores culturais como o machismo, o organismo das mulheres também contribui
para colocá-las no alvo. O corpo feminino é mais fraco para a bebida e os
estudiosos já detectaram que até a estrutura hormonal facilita a dependência
química.
A
psiquiatra Camila Magalhães explica que o uso descontrolado de álcool pode ser
causa ou consequência da mulher que já está em um relacionamento – afetivo ou
familiar – problemático.
“Ela pode
ter a motivação para beber porque já está inserida em uma situação estressante
e tem a falsa ideia de que a bebida vai aliviar isso”, explica.
“Mas
também pode acontecer dela beber exageradamente e então apresentar um
comportamento não aprovado pelo companheiro, dizer coisas que não diria e ficar
violenta, mais vulnerável à agressão.”
Nos dois
casos, explica a especialista, o álcool não é o responsável exclusivo pela
violência, mas um potencializador de situações já conflituosas. “O álcool
transforma as mulheres em bomba-relógio”, define.
Fonte: IG
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