Leda Nagle: O crack e o tempo.
Psiquiatras, psicanalistas, antropólogos e dão entrevistas, defendem teses, debatem e criticam as soluções propostas. As autoridades apresentam propostas estapafúrdias que também só servem para alimentar ainda mais a discussão. Ou alguém realmente acredita que armas não letais e sprays de pimenta vão resolver esta questão? Ou simplesmente esconder os viciados, empurrar pra bem longe dos nossos olhos vai solucionar a situação? Ontem, num debate numa emissora de radio ouvi gente indignada dizendo que usaria a violência física, tipo olho por olho dente por dente, se um cracudo ameaçasse sua família ou seu veículo.
Mesmo sem apoiá-los como não compreender o sentimento deles? O medo é cada vez mais evidente e, pelos relatos que me chegam, as reações também podem fugir de controle a qualquer momento. E, antes, que vire uma guerra ou ocorra uma chacina é preciso achar uma saída. Esta situação não começou ontem, começou há tempos e ninguém levou a sério. E a questão crack me lembra quando o mosquito da dengue provocou as primeiras epidemias, nos anos noventa. Antes de fazer campanha, de encarar os fatos e buscar soluções acadêmicas, científicas ou educacionais para controlar o tal mosquito, discutiu-se, durante muito tempo se o mosquito era municipal, estadual ou federal. E perdeu-se, do mesmo jeito que está se perdendo agora, muito tempo antes de começar a atacar o problema.
Se, pelo menos, as autoridades se juntassem para buscar uma solução real, a curto, médio e longo prazo, a gente poderia atravessar esta fase imaginando que daqui a um tempo, mesmo que não seja o tempo ideal, teríamos uma solução decente e humana na tentativa de recuperação dos viciados e ,ao mesmo tempo, buscar um jeito de impedir que novas vítimas ficassem comprometidas com esta droga maldita, barata e, pelo que estamos vendo, muito fácil de conseguir. Precisamos ser rápidos porque enquanto todos discutem e opinam já apareceu uma nova droga, que mistura crack com maconha e, tudo leva a crer que a situação vai piorar.
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