As
Comunidades Terapêuticas
Após
ter percorrido mais de 200 comunidades terapêuticas em todos os recantos deste
Rio Grande, entre os meses de janeiro e maio de 2011, visitando-as e fazendo
contatos pessoais com seus dirigentes, voluntários, técnicos, monitores e
residentes, tomo a liberdade de tecer algumas considerações que talvez possam
ajudar na “leitura” deste fenômeno recente, que tende a crescer, tendo em vista
o avanço da praga das drogas em todos os cantos e recantos de qualquer Estado e
Nação.
Uma
primeira consideração que faço é distinguir as CTs pela impressão que se tem ao
chegar na porteira de entrada: existem aquelas que causam uma boa impressão;
existem aquelas que imediatamente desejamos que se arrumem um pouco para que
estejam mais perto do que se espera de uma CT, e existem aquelas que seria
melhor encerrarem logo suas atividades, pois se constituem num atentado à
dignidade humana, pela qualidade das estruturas físicas que oferecem, pela
inexistência de um programa terapêutico bem delineado e pela falta de pessoal
qualificado.
Uma
segunda consideração é distingui-las pela linha de espiritualidade que
professam: cerca de 30% se identificam com a fé católica; em torno de 45% estão
alinhadas com a espiritualidade das igrejas evangélicas pentecostais: outras
20% não professam credo algum e reduzem a espiritualidade a um conjunto mais ou
menos desarmônico de práticas religiosas tipo “miscelânea”, sem identidade e
sem coluna vertebral; e um percentual de 10% se declara ecumênica e admitem a
presença de múltiplas igrejas. É surpreendente o fato de existirem tantas CTs
nas quais a espiritualidade não ocupa o lugar que lhe é devido, quando já é de
consenso que uma vivência da espiritualidade ajuda na recuperação de
enfermidades, inclusive a síndrome da dependência do álcool e outras drogas.
Uma
terceira consideração é separá-las pelo método empregado: uma grande parte (92
CTs) utiliza os 12 passos de Alcoólicos Anônimos (AA) e os 12 princípios de
Amor Exigente (AE), estruturas facilitadoras da disciplina interior e
exterior). Todas elas utilizam a laborterapia como recurso para melhorar a
autoestima e a maioria faz uso da oração como ferramenta para a recuperação.
Praticamente todas trabalham com 6, 9 ou 12 meses de residência. Entre as
visitadas, encontrei apenas 4% que não estabelecem critério de tempo para a
aplicação de algum tipo de programa. Estas deveriam ser melhormente chamadas de
“casas de passagem” ou “casas de trânsito”, pela alta rotatividade dos que por
ali passam.
Uma
quarta consideração é separá-las pelos recursos econômicos que parecem ter,
sobretudo quando se olha as instalações físicas: existem aquelas que vivem na
mais absoluta pobreza, sempre “com o chapéu na mão”, numa contínua atitude de
peditório para sobreviver, cujas instalações são de uma precariedade
assustadora; existem aquelas que, malgrado as dificuldades, conseguem se
instalar de forma adequada, inclusive ampliando e melhorando lentamente seus
prédios e mobiliário, fazendo-se conhecidas na mídia local e no tecido da
sociedade circundante; e existem aquelas que ostentam riqueza, dando mais a
impressão de serem um “SPA” do que propriamente uma CT. (creio que o Amigo
concorda que, rica o pobre, a CT pode se sair bem ou mal. Eu não poria como
Uma
quinta consideração é olhá-las pelos recursos humanos que dispõem, seja de
dirigentes, voluntariado, equipe técnica e terapêutica (monitoria): a grande
maioria delas dispõe de uma diretoria, quadro técnico externo, uma equipe de
monitoria interna e, de modo geral, um grupo de voluntários que se agregam à
obra; uma parcela bem menor de CTs reduz este contingente a um pequeno grupo de
pessoas, seja por opção, seja por não conseguirem agregar mais gente ao
projeto; existem ainda aquelas que sobrevivem com um reduzidíssimo número de
pessoas, talvez por razões de economia, algumas delas mantendo a CT na condição
de entidade privada com fins lucrativos.
Com
estes poucos elementos, que mais parecem ser uma “moldura” das CTs, se poderia
agora entrar numa “leitura de fundo”, procurando identificar as virtudes e as
fraquezas que foram aparecendo nesta caminhada de quase 30 anos de CTs no RS. É
bem verdade que algumas CTs já contam com estes anos todos de história (mais de
20 anos); outras estão pela metade disso (em torno de 15 anos) e a maioria são
bem recentes, não tendo mais que 3 a 5 anos de caminhada. Senão vejamos:
AS
VIRTUDES DAS CTs
1.
A primeira e maior virtude das comunidades terapêuticas é a própria existência
delas, como reação à chaga avassaladora da drogadição. As CTs vieram como uma
resposta eficaz e eficiente no processo de intervenção e recuperação desta
massa cada vez maior de usuários abusivos de substâncias psicoativas (SPAs). As
CTs existem como que por teimosia, à margem da sociedade organizada que parece
não ver o drama e a gravidade do mercado da droga e do seu uso indevido. Quando
os usuários eram discriminados, rechaçados e perseguidos como “caso de
polícia”, vieram as CTs para acolhê-los no ventre da terra e fazê-los nascer
outra vez para a vida, pois estavam morrendo ou sendo mortos. As CTs são uma
espécie de “bênção” diante da “maldição” das drogas e do descuido para com os
mais fracos.
2.
A segunda virtude das CTs é o seu caráter benfazejo, isto é, as CTs nasceram e
se criaram como fruto do coração humano. Na linguagem verbal e afetiva de
muitas delas, pode-se notar claramente as motivações de tipo humanista que
fazem as pessoas se doarem, a investirem seu tempo e, não raras vezes, seus
recursos financeiros próprios. As CTs, regularmente, nascem e crescem movidas
quase que somente pelo combustível da caridade e da dor, diante do sofrimento
humano causado pela dependência do álcool e outras drogas. A terra das CTs se
torna então como se fosse um útero materno, onde se gera e se regenera a vida
dos caídos... Mesmo nas imperfeições do itinerário de algumas delas, não se
deixa de sentir esse afeto regenerador, como pais que cuidam de seus filhos
quando estes já não são mais capazes de se cuidarem a si mesmos.
3.
A terceira virtude que encontramos nas CTs é a sua sensibilidade com o mundo das
convicções pessoais, a sua profunda capacidade de olhar para além do limite
humano e de acreditar na restauração do gênero humano. Nisto consiste a
originalidade das CTs, distinguindo-as de outros processos e métodos de
recuperação em dependência química. Olhando para os farrapos humanos que chegam
nas CTs e para os seres humanos nos quais se transformam quando se passaram
apenas algumas semanas, voltamos a acreditar no ser humano, em suas
potencialidades e na sua transcendência. Isso não é uma questão doutrinal mas
vivencial e nela reside o diferencial entre uma comunidade terapêutica de
resultados robustos e as CTs de resultados efêmeros e frágeis. Não basta
somente cuidar da limpeza física, emocional, mental e comportamental. É
necessário refazer as metas da vida para além da morte, da vida para além da
vida, no caminho de si mesmo para o outro, deixando de olhar para o vale da
morte e passar a olhar para o horizonte da vida.
4.
A quarta virtude da CT é o reconhecimento da individualidade de cada ser humano.
Dentro de um mundo cada vez mais globalizado, massificado e despersonalizado, a
CT afirma a primazia do indivíduo, a sua centralidade e o caráter absoluto da
sacralidade da vida a ser restaurada. Por isso, em cada uma das CTs, o
residente é chamado pelo nome, tem seu prontuário, é reconhecido em suas
capacidades humanas e se busca a correção de seus defeitos de caráter. Por
isso, a convivência fraterna entre iguais, a busca comum das metas, a
distribuição rotativa das tarefas do dia-a-dia, fazem parte daquele resgate
fundamental da dignidade da pessoa humana, sem o qual não existe a menor chance
de recuperação das múltiplas dependências das quais podemos nos tornar vítimas.
Por isso, aquilo que fazíamos por intuição nos primórdios das CTs, hoje fazemos
com a ajuda dos recursos técnicos e multidisciplinares.
5.
A quinta virtude da CT é a abordagem da drogadição não apenas como uma doença
bio-neuro-mental, mas também como uma doença comportamental e espiritual. O
problema não são as drogas, mas a droga das atitudes e a droga de vida. Por
isso é enfatizada a conscientização e a necessidade de mudança de atitudes, o
estabelecimento de metas que ultrapassem a noção de uma vida sem perspectiva,
sem doação, sem busca. Na quase totalidade das CTs visitadas, é muito claro que
a recuperação em dependência química e alcoólica, depende basicamente da
mudança de atitudes e isso se faz através do processo de conscientização. É no
discernimento que vamos adquirindo habilidades novas na seleção de nossas
opções e na mudança estrutural da vida. Fundamentar a vida sobre o alicerce de
novos valores é o único meio de reconstruí-la. Buscar dentro de si as razões e
as forças necessárias para a mudança, a isso se dá o nome de despertar
espiritual e, sem ele, não há recuperação. Até pode haver abstinência
temporária e prolongada, mas não há mudança de rumo da vida e da existência.
Aqui reside o risco da recaída.
6.
A sexta virtude está no envolvimento dos familiares do residente. Não existe
recuperação em dependência química e alcoólica sem um segundo tripé: a) uma boa
internação, b) a mudança dos hábitos do residente e da família; c) a
continuidade do programa ao longo da vida. Uma vez um jornalista disse: “tentar
recuperar alguém sem mexer na família, é o mesmo que lavar o leitão e devolver
para o mesmo chiqueiro”. Uma boa parte das CTs exige o comprovante de
participação dos familiares em grupos de apoio (AA, AE, NA, ALANON, NARANON,
Pastoral da Sobriedade...). Algumas delas intensificam ainda mais o
envolvimento dos familiares no processo de recuperação, pois entendem que a
co-dependência também é uma forma de doença. Outras CTs são exigentes quanto às
regras para o dia da visita. Uma coisa, entretanto, é certa: quanto mais
flexível e permissivo se for com a família, tanto menores serão as chances de
recuperação. O resgate das relações afetivas e o restabelecimento de uma vida
com limites são fatores decisivos nesta caminhada.
7.
A sétima virtude das CTs é a alegria e a jovialidade que se verifica nos rostos
daqueles que estão buscando. Cantar louvores, estar de bem com a vida, ser
receptivo e cordial, tomar a iniciativa de gestos de bondade, descobrir-se útil
e serviçal para com aqueles que precisam de ajuda... Estas são apenas algumas
das belezas que se verificam dentro das CTs quando se vive algumas horas em seu
território. Para homens e mulheres que passaram pelo vale escuro da morte e que
trazem em seus corpos e mentes as chagas, as feridas, as seqüelas e a dor, nada
mais extraordinário que vê-los cantar, abraçarem-se, pedir desculpa, agradecer
um favor recebido, pedir licença para entrar ou sair. Para quem se acostumou
com “maus modos”, os “bons modos” tornam-se sinais de uma vida nova que está
brotando de dentro para fora, que não é mais como mero rito externo para
garantir pequenos privilégios (merecimento). Todas as dependências nos
envelhecem precocemente... Viver uma vida nova nos rejuvenesce mesmo que
tardiamente... Por isso é bom sempre olhar nos olhos dos terapeutas... Se ali
houver esperança e alegria de viver, é um bom sinal. Por isso é bom olhar nos
olhos dos dirigentes... Se ali houver serenidade e paz interior diante das
lutas de cada dia, também é um bom sinal.
ALGUNS
DADOS GERAIS
-
No Rio Grande do Sul existem 209 Comunidades Terapêuticas com 6.852 leitos, dos
quais 570 femininos e 360 para jovens adolescentes entre 12 e 18 anos.
-
A Secretaria Estadual da Saúde do RS, através da Saúde Mental, reconhece e
qualifica 41 destas CTs, mantendo convênios com elas num total de 687 leitos.
Os restantes 6 mil leitos são bancados, heroicamente, pela iniciativa privada e
por alguns setores das igrejas cristãs.
-
O Ministério Público, as Promotorias, a Receita Federal e a própria Polícia
Federal, através de aportes de sustentação material, de visitas periódicas e de
parcerias institucionais, reconhecem plenamente a existência, a necessidade e a
validade terapêutica das CTs.
-
As Comunidades Terapêuticas são reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde
como um modelo residencial e diferenciado no trato do uso abusivo de SPAs.
-
No RS, existem ao menos 70 CTs com estrutura física adequada e dentro das
exigências da RDC 029 (substituta da exigente RDC 101). São unidades com equipe
técnica completa na área da saúde.
-
A Vigilância Sanitária (VISA), através das Secretarias Municipais de Saúde,
mantém o controle e a supervisão destas casas e a quase totalidade delas
possuem Alvará de Funcionamento, Alvará de Localização e Alvará da Saúde, em 96
municípios onde estão localizadas.
-
No RS existem 1.173 monitores e monitoras formados pela Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD), pela Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas -
FEBRACT, pela Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do RS -
FECTERS e pelo Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de
Dependentes Químicos – CENPRE, organismo da Universidade Federal do Rio Grande
- FURG. Uma boa parte deles possui vários anos de experiência e dedicação
integral.
-
67% das CTs no RS utilizam os serviços públicos de saúde (postos de saúde,
serviço dentário, exames de laboratório, CAPs, etc.) para o ingresso e
atendimento dos residentes, e 40% delas desenvolve o programa de recuperação
baseado nos 12 passos de AA (de reconhecimento e reputação internacionais).
Outras desenvolvem programas baseados em outros princípios e fundamentos
científicos e técnicos.
-
Segundo consta em nosso banco de dados, são mais de 2 mil os voluntários e
voluntárias que desenvolvem algum tipo de serviço/suporte nas CTs e nas casas
de triagem. Se considerarmos ao menos 5 integrantes das equipes técnicas em
cada uma das 209 CTs e 37 casas de triagem (médicos clínicos, psiquiatras,
psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, etc.), chegaremos ao
extraordinário número de 3 mil agentes para atender 6 mil residentes.
AS
FRAGILIDADES DAS CTs
Uma
das fraquezas é o que podemos chamar de prevalência da culpa. Não foram poucas
as vezes que encontrei nas palavras de alguns residentes, monitores, dirigentes
e familiares o sentimento de culpa pela situação vigente... São mães que não
conseguem levar do coração para a mente a experiência da dor... são dirigentes
que fazem uma leitura desfocada da realidade, procurando sempre encontrar na
sociedade, sempre nos outros, as razões para este tipo de sofrimento... são
monitores que incutem nos residentes a idéia de culpa e um apego doentio ao
passado. Doenças emocionais mal resolvidas, quarto passo feito de forma errada,
fissura ou desleixo pela reparação... Estes e outros sinais são sintomas de um
certo complexo de culpa que tranca, amarra e emperra a caminhada. Tem gente que
se atola na droga... outros se atolam na droga de vida... outros ainda ficam
atolados nos pântanos que margeiam os rios por onde a vida navega. São árvores
tabebuias, que nascem, crescem e morrem no pântano, sem nunca dar frutos.
Livrar-se das amarras da culpa é necessário para poder voar no limite das
águias.
Outra
fraqueza é o envelhecimento do programa. Entre aqueles que se ocupam dos
residentes, se encontra com freqüência as seguintes falas: se deu certo comigo
tem que dar certo também com os outros... no meu tempo era assim... não dá prá
mudar porque está escrito que é pra ser assim... a recaída não é problema nosso
e nós vamos em frente... A grosso modo se pode dizer assim: a) nos primeiros 10
anos do surgimento das CTs (década de 80), o vigor era extraordinário. Os
frutos do trabalho eram visíveis e havia um grande entusiasmo; b) nos 10 anos
seguintes (década de 90), se cristalizou a proposta e muitas CTs foram abertas,
“copiando” o que estava dando certo e o número delas cresceu; c) nesta primeira
década do novo milênio, os processos cada vez mais sofisticados de produção das
drogas e seus efeitos devastadores, o número significativo daqueles que não
conseguem “segurar as pontas” e voltam, e repetem o programa, e se tornam
“fazendeiros de carteirinha”, parece nos mostrar a necessidade de questionar
alguns pontos centrais dos programas de recuperação em DQ, como por exemplo: 1)
a duração do período de residência; b) as poucas alternativas de
ressocialização; c) os métodos para a correção dos defeitos de caráter e
mudança de atitudes; d) a diversidade no modo de entender o que seja
espiritualidade; e) o uso dos recursos técnicos nas áreas da saúde e
assistência social... Os novos tempos estão pedindo serenidade, coragem e
discernimento. É preciso adequar-se aos novos tempos e exigências.
É
necessário passar os olhos no quadro de pessoal. Vejo aqui duas situações a
serem consideradas: por primeiro, a mudança de óptica de uma boa parcela dos
que exercem a monitoria (supervisão, estagiários, etc.). Este serviço central
nas CTs nasceu como retribuição pela vida recuperada como um dom. A primeira e
mais radical motivação dos membros da equipe terapêutica é o serviço gratuito
como forma de reparação por tudo o que significou a vida passada e, mais ainda,
pelo que significa a vida presente. Não existe monitoria saudável sem esta
coluna vertebral na qual se ligam todas as outras motivações. Entretanto, um
certo espírito de profissionalização vai entrando lentamente no setor, a ponto
de já existirem aqueles que falam em sindicalização e reconhecimento da
“profissão” de monitor. Se não somos capazes de gerar bons monitores,
deveríamos nos perguntar primeiro pela qualidade do programa antes de perguntar
pela qualidade das pessoas... Em segundo lugar, existe a tensão entre
voluntariado e equipe técnica (psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e
outros agentes de saúde). As exigências sempre maiores feitas pelos gestores
públicos no sentido de equipar as CTs com estes profissionais, tem produzido
esse tipo de situação: aqueles que historicamente sempre acreditaram na mística
como ferramenta fundamental para a recuperação e aqueles que acreditam
primeiramente nos recursos da técnica e da inter-disciplinariedade. É preciso
superar o preconceito da exclusividade e caminhar na direção da
complementaridade.
A
imensa maioria das CT não se utiliza das casas de triagem. Apenas 15% delas tem
este tipo de suporte. Normalmente utilizam o atendimento dos CAPs para o
ingresso dos residentes e a realização dos primeiros passos da desintoxicação.
Com o advento dos convênios e as exigências de desintoxicação feitas pelo setor
da saúde mental do poder público, a procura pelos CAPs tem aumentado. Muitas
CTs não exigem exames clínicos e laboratoriais, como condição para a admissão ao
programa e isso não é bom nem recomendável. Esta é uma das fragilidades das
CTs, pois um período de adaptação é necessário e contribui em grande escala
para o enraizamento no programa e, conseqüentemente, diminui o índice de
desistência na CT e facilita um diagnóstico mais preciso. A realidade das
drogas cada vez mais sintéticas parece estar a exigir estas casas e este
processo inicial (“o dependente do crack já não sofre. Ele deixa de ser humano.
Age instintivamente como um animal atrás da sobrevivência: a pedra que o
aliviará por alguns minutos” – Dr. Eduardo Krause Bittencourt) Além disso, a
casa de triagem serve como âncora da CT na cidade. Penso ser oportuno, prudente
e necessário que, residentes e monitores (supervisores, estagiários...), ao
retornarem da visita ou da folga, passem primeiro pela casa de triagem como se
passassem pelo detector de “metais pesados”.
Outra
grave fraqueza das CTs é a incapacidade em progredir na prevenção e na
ressocialização. Somos peritos no diagnóstico de todas as formas de
dependência; somos capazes de transformar fragmentos humanos em pessoas
humanamente robustas após um tempo de residência; somos iluminados em restituir
a alegria de viver para aqueles que viviam na “sobra da morte”. Somos capazes
de transformar mãos sujas em mãos limpas. Entretanto, de todo esse aprendizado,
não surgiu ainda uma luz para nos guiar efetivamente nos caminhos da prevenção
e nem mesmo para a criação de mecanismos de geração de emprego e renda para
aqueles e aquelas que passaram pelas CTs. Se encontramos 5 mil homens e
mulheres, jovens e adultos, que hoje estão buscando a recuperação nas 200 CTs
gaúchas, certamente são mais de 50 mil os que precisam de ajuda imediata e, se
considerarmos o alcoolismo, são mais de um milhão os gaúchos que estão se
batendo pelos caminhos tortos da doença e da morte prematura. Buscá-los é nossa
tarefa, acolhê-los é nossa missão, propor-lhes a mudança de vida é nossa
meta... depois disso farão cada um a sua parte, a criatura e o Criador, a seu
modo e há seu tempo...
A
TÍTULO DE CONCLUSÃO
-
A Resolução 029 da ANVISA, em seu artigo primeiro, § único, reconhece as CTs
como instrumento terapêutico válido para o tratamento de adictos.
-
A mesma resolução, em seu artigo segundo, § único, pede que este serviço (as
CTs) se adeque às normas e se atualize no instrumental.
-
Compete às CTs realizarem sua missão, acatando as normas e crescendo em
credibilidade.
-
Entre os três modelos de abordagem (ambulatorial - internação clínica -
residencial na CT), certamente as comunidades terapêuticas vieram para ampliar
as alternativas de tratamento.
Pe.
Vitor Hugo Gerhard - licenciado em Filosofia e Pedagogia e mestre em teologia,
ex secretário regional da CNBB, colabora há 16 anos nas áreas de prevenção e
recuperação em dependência química. Formação em DQ pela FEBRACT, APOT, SENAD e
Hospital Mãe de Deus.
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