sábado, 14 de julho de 2012


A maconha custa caro.

A sociedade brasileira maneja com dificuldade seus recursos destinados à saúde pública. Há contradições curiosas como o fato de a população crescer e crescer também o PIB, enquanto a atenção à saúde encolhe e é transferida à iniciativa privada.
Esta, por sua vez, faz esforços para evitar custos, oferecendo sempre menos do que o contratado. Álcool e tabaco, drogas lícitas para maiores de 18 anos, produzem morbidade que sobrecarrega o sistema frágil de atenção à saúde. As tentativas de controle social têm rendido resultados exemplares com relação ao tabaco. E isto se dá em todo no planeta, não só no Brasil.
Na mão certa, o Brasil tem sido exemplar no banimento da fumaça do tabaco de ambientes coletivos e fechados. O mesmo não tem conseguido diante do álcool.
O fenômeno econômico da Copa do Mundo tornou explícito o quanto o lado financeiro pode se sobrepor à vontade coletiva já sacramentada no banimento do álcool dos estádios de futebol. O patrocinador maior da FIFA destitui o desejo da Nação e impõe seu preço ao Poder Público para lhe garantir a parceria no evento. Triste. Novamente este não é um fenômeno exclusivo do nosso país. Outras nações se dobraram à vontade econômica e pouco ética do patrocinador. Mas o fenômeno não para por aí.
Voltando nossa atenção agora para medidas liberalizantes relativas ao porte e uso da maconha, no deparamos com o já sabido. A sociedade, sem habilidade para manejar medidas restritivas com as lícitas de maior uso, está em vias de ter de manejar mais uma droga a ser implantada como alternativa lícita.
A glamourização e banalização do impacto da maconha na saúde individual e coletiva têm sido objeto de fervorosa campanha midiática. Um mesclado de ingenuidade, desinformação e ganância vai expondo a sociedade à presença cada vez mais difundida da fumaça da maconha. Um dado fundamental e de domínio do senso comum é o de que a média dos cidadãos recua diante do ilícito ou interdito. Avança, por outro lado, diante da promessa de prazer benigno e isento de punição.
Álcool e tabaco nos ensinam que a teoria do sendo comum é cumprida pelos fatos conhecidos relativos a consumo. Jovens começam a beber em nosso país antes de 13 anos. Fumam tabaco na mesma época e, claro, muito mais do que hoje em dia, agregarão a seu hábito cada vez mais facilmente o uso da maconha.
Inábil em reprimir, o Poder Público libera e entrega ao sistema de Saúde a responsabilidade que as autoridades de Segurança não sabem abarcar. Lamentável, mas teremos cada vez mais e mais cedo indivíduos modelando seu existir pela ação duradoura e empobrecedora, senão incapacitante, da maconha, droga de ação longa e demorado depósito nas gorduras do corpo humano. Dali ela recircula, forjando a atitude de vida que cada vez mais vemos à nossa volta. São cidadãos rendendo para si e para a sociedade maior muito menos do que seu potencial anunciava. Vão sendo levados pela torrente suave da passividade letárgica, mas muito sedutora da maconha. Isto sem, é claro, abdicar do tabaco e do álcool.
Os números atuais de um dígito para uso frequente na grande comunidade, claro que crescerão para patamares semelhantes aos 24% para o tabaco. Todos pagaremos a conta, a exemplo do que fazem hoje os 48% de não usuários de álcool com relação aos problemas produzidos pelos 52% de usuários de bebidas alcoólicas de nosso Brasil. Apesar de tudo, viva a copa! Viva o Brasil!
Carlos Salgado - Conselheiro da ABEAD e Psiquiatra da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre

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