A
maconha custa caro.
A
sociedade brasileira maneja com dificuldade seus recursos destinados à saúde pública.
Há contradições curiosas como o fato de a população crescer e crescer também o
PIB, enquanto a atenção à saúde encolhe e é transferida à iniciativa privada.
Esta,
por sua vez, faz esforços para evitar custos, oferecendo sempre menos do que o
contratado. Álcool e tabaco, drogas lícitas para maiores de 18 anos, produzem
morbidade que sobrecarrega o sistema frágil de atenção à saúde. As tentativas
de controle social têm rendido resultados exemplares com relação ao tabaco. E
isto se dá em todo no planeta, não só no Brasil.
Na
mão certa, o Brasil tem sido exemplar no banimento da fumaça do tabaco de
ambientes coletivos e fechados. O mesmo não tem conseguido diante do álcool.
O
fenômeno econômico da Copa do Mundo tornou explícito o quanto o lado financeiro
pode se sobrepor à vontade coletiva já sacramentada no banimento do álcool dos
estádios de futebol. O patrocinador maior da FIFA destitui o desejo da Nação e
impõe seu preço ao Poder Público para lhe garantir a parceria no evento.
Triste. Novamente este não é um fenômeno exclusivo do nosso país. Outras nações
se dobraram à vontade econômica e pouco ética do patrocinador. Mas o fenômeno
não para por aí.
Voltando
nossa atenção agora para medidas liberalizantes relativas ao porte e uso da
maconha, no deparamos com o já sabido. A sociedade, sem habilidade para manejar
medidas restritivas com as lícitas de maior uso, está em vias de ter de manejar
mais uma droga a ser implantada como alternativa lícita.
A
glamourização e banalização do impacto da maconha na saúde individual e
coletiva têm sido objeto de fervorosa campanha midiática. Um mesclado de
ingenuidade, desinformação e ganância vai expondo a sociedade à presença cada
vez mais difundida da fumaça da maconha. Um dado fundamental e de domínio do
senso comum é o de que a média dos cidadãos recua diante do ilícito ou
interdito. Avança, por outro lado, diante da promessa de prazer benigno e
isento de punição.
Álcool
e tabaco nos ensinam que a teoria do sendo comum é cumprida pelos fatos
conhecidos relativos a consumo. Jovens começam a beber em nosso país antes de
13 anos. Fumam tabaco na mesma época e, claro, muito mais do que hoje em dia,
agregarão a seu hábito cada vez mais facilmente o uso da maconha.
Inábil
em reprimir, o Poder Público libera e entrega ao sistema de Saúde a
responsabilidade que as autoridades de Segurança não sabem abarcar. Lamentável,
mas teremos cada vez mais e mais cedo indivíduos modelando seu existir pela
ação duradoura e empobrecedora, senão incapacitante, da maconha, droga de ação
longa e demorado depósito nas gorduras do corpo humano. Dali ela recircula,
forjando a atitude de vida que cada vez mais vemos à nossa volta. São cidadãos
rendendo para si e para a sociedade maior muito menos do que seu potencial
anunciava. Vão sendo levados pela torrente suave da passividade letárgica, mas
muito sedutora da maconha. Isto sem, é claro, abdicar do tabaco e do álcool.
Os
números atuais de um dígito para uso frequente na grande comunidade, claro que
crescerão para patamares semelhantes aos 24% para o tabaco. Todos pagaremos a
conta, a exemplo do que fazem hoje os 48% de não usuários de álcool com relação
aos problemas produzidos pelos 52% de usuários de bebidas alcoólicas de nosso
Brasil. Apesar de tudo, viva a copa! Viva o Brasil!
Carlos
Salgado - Conselheiro da ABEAD e Psiquiatra da Unidade de Dependência Química
do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre
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