quarta-feira, 18 de julho de 2012


‘América Latina é mercado em alta para organizações criminosas’.

O Globo -  - Vitor Sorano


Especialista alerta para atratividade que crescimento gera para delinquência transnacional

RIO — O crescimento econômico experimentado pelos países latino-americanos os torna mais atraente para os negócios - legais e ilegais. “A América Latina é um mercado em ascensão para as organizações criminosas”, diz ao GLOBO o representante regional para o México, a América Central e o Caribe do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês), Antonio Mazzitelli. E, lamenta, a implementação de estratégias para combater a criminalidade transnacional é lenta.

O GLOBO: Qual é a importância da América Latina no crime transnacional global?
ANTONIO MAZZITELLI: As economias latino-americanas estão entre as que têm mais pujança. E, quanto mais poder de compra está disponível, mais interesse há das organizações criminosas em desenvolver a demanda para os bens e serviços que elas comercializam. Então a América Latina é um mercado em ascensão para as organizações criminosas
O crescimento do consumo de cocaína no Cone Sul é o principal fenômeno no que concerne ao tráfico de drogas na América Latina hoje?
MAZZITELLI: Certamente, com a economia mais rica, maior é a propensão para consumir drogas e, nesse sentido, nesse último ano, o mercado latino-americano, numa certa medida, absorveu o excedente de cocaína que ia para a América do Norte. E, no que toca ao Cone Sul, o crack, o óxi (no Brasil) são certamente novos fenômenos.
O documento cita a necessidade de romper os mercados ilegais, em vez de apenas combater organizações criminosas. Na América Latina, atualmente, há debates e mesmo iniciativas de legalização do consumo e mesmo da venda de droga, como no caso do Uruguai com a maconha. O senhor acredita que é algo positivo para o combate à criminalidade organizada?
MAZZITELLI: As convenções internacionais já regulam a produção e o uso de drogas narcóticas e psicotrópicas. A campanha que estamos lançando hoje (segunda-feira) almeja indicar claramente que as organizações criminais produzem violência independentemente daquilo que elas comercializam, então eliminar um mercado de um produto em particular não vai eliminar as organizações criminosas.
Que iniciativas positivas o senhor vê em discussão ou em implementação na América Latina para combater o crime organizado transnacional?
MAZZITELLI: Na Cúpula de Cartagena (na Colômbia, em abril de 2012), os chefes de Estado decidiram fortalecer a cooperação no sentido da criação de um mecanismo hemisférico que facilite a instauração de processos, a investigação, a produção de inteligência relacionada à criminalidade transnacional organizada. Há uma série de outras na área de tráfico de pessoas, de divisão de responsabilidades para instauração de processos de crime transnacional e de facilitação de apreensões de produtos ilícitos. Infelizmente, às vezes, é algo lento para se materializar.
Além do tráfico de drogas, quais outros tipos de crime transnacional organizado têm relevância na América Latina?
MAZZITELLI: Há dois que devem ser mencionados: um é a pirataria. É um crime em que os consumidores pensam que não estão fazendo mal, mas estão dando poder a organizações criminosas e que têm o poder real de prejudicar investimentos produtivos e geradores de empregos . É um tipo de crime que em alguns casos, como quando envolve produtos farmacêuticos, comida, bebida e peças de reposição, pode ter impactos devastadores. O outro é muito menor em termos econômicos, mas tem um impacto dramático no nosso futuro. É o tráfico de recursos naturais, madeira ou vida animal.

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