sábado, 7 de julho de 2012


ABUSO DE DROGAS E ÁLCOOL: DOENÇA OU ESCOLHA?
Carlos Alberto Rocha Ferreira.
Um filósofo muito importante afirmou certa vez: "o homem está condenado a ser livre". Ele quis dizer que o homem é naturalmente livre, mas essa liberdade o condena a tomar decisões, fazer escolhas, opções pelo resto da vida. Quanto mais escolhas fazemos e nos responsabilizamos por elas, mais livres seremos. Quanto mais culpamos os outros por nossas escolhas erradas, menos autônomos e mais dependentes do outro ficamos.
Aqueles que decidem consumir uma droga estão fazendo uma opção, uma escolha. É claro que muitos fatores contribuíram para que tal escolha se desse (as angústias da vida, a simples curiosidade, a influência de amigos, a vontade de buscar um jeito novo de diversão...). Mas, a escolha, no final, foi da pessoa.
Continuar usando drogas também é uma escolha, mas cada vez menos... Isso porque o organismo vai se adaptando à presença da droga. Vai havendo modificações no cérebro. Quando o indivíduo fica sem a droga, passa a se sentir muito mal, desconfortável, irritado, deprimido, ansioso. O dependente acha que o único alívio possível é a continuidade do consumo. Conforme a dependência vai se instalando, a pessoa passa a abrir mão de coisas que antes eram muito importantes para ela. É o momento em que aparecem as brigas e discussões com a família, a piora no desempenho escolar, a venda de objetos para comprar drogas. Tudo passa a girar em torno do consumo de drogas.
A partir desse ponto, o indivíduo não consegue mais ficar sem usar drogas. Não há mais opção: o indivíduo não escolhe se vai usar drogas ou não. A doença lhe tirou essa liberdade. QUALQUER DOENÇA CONSISTE ACIMA DE TUDO NA PERDA DA LIBERDADE DE ESCOLHA. Portanto, a dependência não é uma ESCOLHA! É uma condição patológica (uma doença) que tira a liberdade do indivíduo de optar!
Perceber a presença da doença e se responsabilizar pelo tratamento é o primeiro passo em direção à recuperação. É preciso escolher a mudança e buscar ajuda para efetivá-la. Não resolve olhar o passado para achar um culpado. Deve-se pensar no futuro! Não existem culpados pela situação. Mas pode haver pessoas comprometidas com o processo de cura (o próprio dependente, sua família, os amigos, os profissionais da saúde). Afinal, se temos que estar condenados a alguma coisa nesse mundo, que seja apenas à liberdade!
Há duas sensações que pesam muito no critério de diagnóstico da doença: a perda do controle e o desejo ardente para consumir uma droga e/ou álcool. É o sentimento de estar nas garras de algo estranho, irracional e indesejado.
Exemplos:
• "Se eu tomar uma ou duas doses, não paro mais”;
• “Se eu passar por um bar, esqueço da promessa de parar";
• "Se eu passar pela biqueira, entro";
• "Se fumar uma vez, volto e fumo mais";
• "Passo o dia fissurado";
Quando se admite a derrota perante o álcool e/ou drogas é claro que se venceu a primeira resistência, mas quando se ingressa em uma internação e dizem que é uma doença logo vem à defesa! Claro quem gosta de ser portador de uma doença? Ainda mais, uma doença incurável que não tem nenhum exame laboratorial capaz de comprovar a sua existência? É engraçado, mas admitir tratamentos físicos, hospitalares, até cirúrgicos, se torna para o dependente químico muito mais fácil do que confiar em pessoas para fazer um tratamento que envolve entrega pessoal.
Isto acontece principalmente pelo fato do dependente químico não querer aceitar a realidade como já é de costume. Negar a existência da doença é ficar diminuindo a importância dos fatos, tentando encontrar respostas que não existem para justificar o não conseguir controlar o uso. Claro que pensando e agindo desta maneira a derrota será certa!
O princípio espiritual que com certeza está faltando para ao tratamento é ACEITAÇÃO! Sem este princípio não existe começo nem o fim do tratamento para se entrar em recuperação.
Aceitar é confundido com passividade, com paralisia, com falta de interesse ou com falta de ação; o conceito na realidade é exatamente o inverso, pois quando eu aceito as coisas como elas são, eu resgato minha força e poder de transformar.
Aceitar não quer dizer que eu possa fazer as coisas voltarem a ser como eram. Aceitar não significa estar feliz e contente com os acontecimentos. Aceitar não é aprovar o ocorrido. Mas aceitar significa ficar aberto às mudanças, a rever as formas de perceber e agir. Quando isto ocorre se sai do papel de vítimas das circunstâncias, para realizar com disposição as mudanças que precisam ocorrer.
Quando não aceito integralmente, com a mente e o coração, estou tentando muitas vezes é restaurar as situações anteriores. Aceitar significa abrir-se à mudança.
Ao encarar e aceitar a minha adicção estou tomando o primeiro e decisivo passo para fazer mudanças. Num tempo como o nosso, de rápidas e profundas mudanças, deixar de aceitar a realidade é abdicar do direito de fazer escolhas conscientes. Aceitar uma realidade é deixar o velho e ingressar no novo. A aceitação é um aviso que diz que agora é preciso mostrar fibra e coragem. É um presente que convida a agir. Trata-se da superação dessa mania de tudo poder!
Quando reconheço a verdade fica mais fácil aceitar a verdade dos outros. A partir daí estarei realmente mais livre para cooperar comigo e com os outros.
O hábito de sentir, pensar, e agir radicalmente achando que do meu jeito é a maneira “correta”, machuca e desrespeita toda realidade da minha adicção.
Quando aceito minha adicção eu aceito ter uma doença progressiva, incurável, que poderá me levar à morte. Se ela não tem cura a única solução possível é estagná-la para conseguir conviver com ela. No caso o sugerido é o programa dos 12 passos onde milhões de pessoas conseguiram e conseguem conviver com a doença e tem para si uma vida bem melhor do que a ilusão e confusão da ativa.
Só a partir desta consciência ser sentida é que posso começar a me render a tudo aquilo que possa me atrapalhar para progredir e caminhar em recuperação. Se render não é estar simplesmente rendido é sim se render diariamente as situações, pensamentos, sentimentos, vontades, atitudes e comportamentos que possam vir a atrapalhar minha recuperação. É aprender a ceder e deixar de fazer muitas coisas que julgava serem boas para poder ganhar a possibilidade de experimentar uma vida nova, com situações e descobertas nunca observadas e sentidas antes.
Para mim hoje ser adicto se tornou uma benção, porque normalmente as pessoas têm os mesmos medos, mágoas, inseguranças que eu tenho, mas pelo fato de não terem a doença escondem ou ignoram. Isso eu não posso e nem devo fazer. A doença me deu o grande prêmio de aprender a viver e ter uma vida melhor, simples e verdadeira.
Quando brigava com a vida ela se defendia de mim, mas a partir do momento que comecei a aceitá-la do jeito que ela é, recebi de presente a sua amizade e infinitas oportunidades de ser feliz!!!
Só por hoje!!!

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