O drama de cair na real e pedir ajuda.
Daniela
Penha
Vergonha em admitir alcoolismo e demora em procurar por um profissional agravam
problemas do álcool Daniela Penha
Aos
66 anos, Ana (nome fictício) foi convencida a procurar ajuda. Após mais de 20
bebendo todos os dias, ela perdeu as contas das vezes que foi encontrada pela
família em sarjetas ou porta de bares. “Eu ficava caída, cheguei a me machucar
várias vezes”. Ainda está pagando as contas que fez em botecos do seu bairro e
até mesmo do bairro vizinho. “Eu ia comprando. Não pensava em nada. Agora, pago
um pouco por mês.”
Ela
já era divorciada quando começou a beber. Quem tentava ajudá-la era uma irmã e
os filhos. Mas todos se cansaram e acabaram se afastando de Ana.
Há
seis meses, depois de muita conversa e tentativas frustradas, a irmã conseguiu
trazê-la para o Alcoólicos Anônimos. Por que demorou tanto a procurar ajuda?
Ana não demora em responder. “Eu tinha vergonha. Ser mulher alcoólatra é muito
triste.”
Um
dos coordenadores dos Alcoólicos Anônimos, que já está há 29 anos no grupo, diz
que essa vergonha é comum entre as mulheres. “Elas demoram mais para pedir
ajuda.”
O
psicólogo Cláudio Marcio Salviano e a psicóloga dos Caps AD Valéria Moron Perri
Gomenez também concordam com a opinião do coordenador.
Valéria
diz que há mulheres que continuam levando a vida, criam os filhos e só vão
cuidar de si quando já são idosas. Tanto ela quanto Cláudio atendem pacientes
com essas características. “Existe uma vergonha social muito grande e, além
disso, também há dificuldades em se encontrar centros de tratamento
especializados em mulheres, já que o aumento de mulheres alcoólatras é
recente.”
Eles
explicam que essa demora em procurar ajuda só tende a agravar a situação.
O
organismo da mulher recebe o excesso de álcool de maneira muito violenta e elas
ficam ainda mais suscetíveis do que os homens a desenvolver problemas de saúde.
“O metabolismo da mulher digere o álcool de maneira muito mais rápida do que o
dos homens. Além disso, a mulher convive com diversas questões hormonais, muito
mais complexas do que o homem”, diz Cláudio.
Assim,
ele explica que as mulheres que bebem abusivamente e por muito tempo, como é o
caso de Ana, têm mais probabilidade a desenvolver problemas no fígado
cardiovasculares, osteoporose, câncer e, até mesmo, distúrbios psíquicos.
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