domingo, 22 de abril de 2012


O drama de cair na real e pedir ajuda.

Daniela Penha

Vergonha em admitir alcoolismo e demora em procurar por um profissional agravam problemas do álcool Daniela Penha

Aos 66 anos, Ana (nome fictício) foi convencida a procurar ajuda. Após mais de 20 bebendo todos os dias, ela perdeu as contas das vezes que foi encontrada pela família em sarjetas ou porta de bares. “Eu ficava caída, cheguei a me machucar várias vezes”. Ainda está pagando as contas que fez em botecos do seu bairro e até mesmo do bairro vizinho. “Eu ia comprando. Não pensava em nada. Agora, pago um pouco por mês.”
Ela já era divorciada quando começou a beber. Quem tentava ajudá-la era uma irmã e os filhos. Mas todos se cansaram e acabaram se afastando de Ana.
Há seis meses, depois de muita conversa e tentativas frustradas, a irmã conseguiu trazê-la para o Alcoólicos Anônimos. Por que demorou tanto a procurar ajuda? Ana não demora em responder. “Eu tinha vergonha. Ser mulher alcoólatra é muito triste.”
Um dos coordenadores dos Alcoólicos Anônimos, que já está há 29 anos no grupo, diz que essa vergonha é comum entre as mulheres. “Elas demoram mais para pedir ajuda.”
O psicólogo Cláudio Marcio Salviano e a psicóloga dos Caps AD Valéria Moron Perri Gomenez também concordam com a opinião do coordenador.
Valéria diz que há mulheres que continuam levando a vida, criam os filhos e só vão cuidar de si quando já são idosas. Tanto ela quanto Cláudio atendem pacientes com essas características. “Existe uma vergonha social muito grande e, além disso, também há dificuldades em se encontrar centros de tratamento especializados em mulheres, já que o aumento de mulheres alcoólatras é recente.”
Eles explicam que essa demora em procurar ajuda só tende a agravar a situação.
O organismo da mulher recebe o excesso de álcool de maneira muito violenta e elas ficam ainda mais suscetíveis do que os homens a desenvolver problemas de saúde. “O metabolismo da mulher digere o álcool de maneira muito mais rápida do que o dos homens. Além disso, a mulher convive com diversas questões hormonais, muito mais complexas do que o homem”, diz Cláudio.
Assim, ele explica que as mulheres que bebem abusivamente e por muito tempo, como é o caso de Ana, têm mais probabilidade a desenvolver problemas no fígado cardiovasculares, osteoporose, câncer e, até mesmo, distúrbios psíquicos.

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