quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


Jogada de marketing faz o crack virar oxi.

Para especialistas, status de novidade da “nova” droga não passa de estratégia dos traficantes para atrair mais usuários

Propagada como a mais nova droga do mercado, o oxi vem sendo encarado pelas forças de segurança brasileiras como apenas uma estratégia do narcotráfico para ampliar as vendas e seduzir novos consumidores. É o que comprovam estudos feitos por peritos criminais da Polícia Federal (PF). “O que percebemos é que o oxi é apenas uma derivação da cocaína, um estágio anterior ou posterior ao crack, que não passa de uma jogada de marketing dos traficantes”, ex plica o chefe da perícia da PF no Paraná, Silvino Schlickmann Júnior. O que se sabe, de fato, é que o oxi tem efeitos ainda mais destrutivos que o crack e é produzida principalmente no Peru e na Bolívia.

Uma análise criteriosa de 23 amostras de cocaína e de 20 amostras do suposto oxi apreendidas no Acre, feita no ano passado por peritos da PF, pôs em xeque a afirmação de que esta se trataria de uma nova droga. O estudo indica que formas de apresentação típicas da cocaína, como sal, crack e pasta base, vêm sendo erroneamente classificadas como oxi.
Os peritos federais Adriano Maldaner e Ronaldo Carneiro Júnior, principais autores do trabalho, destacaram que ficou claro não haver quantidades significativas de cal (óxido de cálcio) e de hidrocarbonetos (como querosene ou gasolina) nas amostras analisadas. “Os resultados não confirmam a informação de que quantidades significativas dessas substâncias teriam sido utilizadas na formulação de uma nova droga. Trata-se apenas de uma nova composição”, afirma Mal daner.
De acordo com as análises, portanto, os usuários estariam consumindo diretamente pasta base (sem refino) e cocaína base (refinada) com elevados teores de pureza, acima de 60%, o que pode contribuir para agravar os efeitos estimulantes e psicotrópicos e aumentar a possibilidade de overdose. Quanto ao preço, mais baixo que o da cocaína em pó e até mesmo do crack, seria uma forma de viciar os consumidores mais rapidamente e assim ganhar mercado.
Entre maio e julho do ano passado, pelos menos seis apreensões da “nova droga” foram feitas no Paraná, totalizando 13,7 quilos. A droga apreendida, no entanto, não passou por testes conclusivos para ser classificada como oxi. Para constar como prova no inquérito policial aberto contra acusados de tráfico de drogas – independentemente do entorpecente com que foram flagrados –, as amostras são encaminhadas para análise no Instituto de Criminalística do Paraná, em Curitiba. “O que fazemos é apenas verificar se a amostra contém a substância ativa, neste caso a cocaína, considerada ilícita, não a sua concentração, composição ou efeitos sobre os usuários”, explica a perita do Laboratório de Química Legal Luciane Rocio de Lara França.
Para os órgãos federais, saber se essa pretensa nova droga está chegando ao país deve ser uma preocupação relativa à segurança nacional. Por se tratar de um crime muitas vezes internacional, a comprovação da existência de uma nova droga aciona o setor de inteligência, responsável por rastrear fornecedores e desvendar a logística de distribuição, explica Schlickmann Júnior.

FABIULA WURMEISTER

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