Banir
o crack é utopia’.
Jefferson
Ribeiro critica falta de recursos e de policiais e diz que recuperação total de
usuário é ‘praticamente impossível’
Um
belo dia toca a campainha do secretário interino de Justiça de Brasília,
Jefferson Ribeiro. É o vizinho, pedindo que o Ribeiro prenda o filho viciado em
crack, de 17 anos, que roubara uma bicicleta para comprar a droga. “Vi o garoto
crescer”, conta o secretário. “Ele estava transtornado, em crise de
abstinência. Não tinha nada para pegar em casa, catou a bicicleta e a entregou
por uma pedra de crack na esquina”.
Em
vez de prender o rapaz, Ribeiro o convenceu a ser internar em uma clínica de
tratamento para dependentes químicos, onde está há seis meses. Casos de abuso
da droga como o do vizinho de Ribeiro são exemplares da disseminação do crack
na capital, desde que as primeiras pedras de foram apreendidas, há dez anos.
“Banir
(o crack) é impossível, é utopia”, crava Ribeiro. “Queremos ao menos minimizar,
frear, prender os traficantes e ter êxito em trazer os jovens para o
tratamento”. Segundo o secretário, o tráfico da droga já atinge 12 das 31
unidades administrativas do Distrito Federal.
Ele
atribui a dificuldade de se combater o crack, entre outros motivos, à falta de
recursos. Em 2011, a Secretaria de Justiça (Sejus) só teria investido R$ 1
milhão no combate à droga. “Foi uma decepção até porque não tínhamos um
orçamento elaborado pelo governo atual”.
“Este
ano adequamos o nosso orçamento e vamos poder investir tanto prevenção quanto
no tratamento e na repressão”, assinala. Ribeiro nega que haja tolerância por
parte da polícia no combate ao tráfico. Mas destaca que há um número
insuficiente de policiais atuando nas ruas, que deve ser parcialmente resolvido
com a formatura de 1.200 PMs este ano.
“A
polícia não tem sido suficiente para inibir totalmente”, diz. “A situação é crítica?
É. Não quero atenuar a situação. Mas não temos ainda uma situação como a de São
Paulo, a realidade não é essa. Mas é preocupante. Se não tomarmos ações
enérgicas podemos chegar a este estágio, tenho plena convicção disso”.
Ribeiro
conta que os primeiros registros do crack no Distrito Federal datam de 2002, na
cidade satélite de Ceilândia. Em 2006, a droga já havia se espalhado pelas
cidades de Taguatinga e Gama e, no ano passado, a região central de Brasília –
onde funciona sede do poder político e a principal área comercial da capital –
se firmou como a maior área de atuação do tráfico.
“Fomos
surpreendidos”, conta o secretário. “O governo do Distrito Federal (GDF) nunca
esperou que o crack fosse ter essa proporção de hoje. Imaginávamos que fosse uma
questão local, pontual. As pesquisas sempre apontaram a maconha como a droga
que é 'xodó' da turma. Não esperávamos que o crack fosse crescer tão
assustadoramente”.
Para
tentar conter o avanço da droga, o GDF lançou, há quatro meses, um plano de
combate ao crack, que está sob a coordenação da Sejus. Em 2012, o orçamento
previsto para o programa, que envolve 15 secretarias, é de R$ 46 milhões. As
ações envolvem prevenção, tratamento dos dependentes químicos e repressão
policial ao tráfico da droga.
“É
a primeira vez que se adota um plano desta magnitude no Distrito Federal. O
governo Agnelo Queiroz é pioneiro nisso”, sustenta Ribeiro. “Já visitamos 79
escolas, demos palestras para mais de 40 mil alunos, distribuímos cartilhas,
fizemos campanhas educativas, publicitárias, busdoor, outdoor”.
Mas
quantos viciados, neste período, foram totalmente recuperados? “Nenhum”, admite
o secretário. “Nós conseguimos mantê-los em tratamento, mas a recuperação total
de um dependente químico é praticamente impossível. Qualquer vacilo é porta
aberta para esse cidadão voltar ao mundo das drogas”.
Plano
bilionário
Segundo
o secretário, apenas 30% dos usuários da droga concordam em se submeter à
desintoxicação. “A cada dez usuários de crack, quatro não sobrevivem, três não
conseguem fazer o tratamento e só três são permanecem no tratamento. É um
percentual bem aquém do que pretendemos alcançar”, reconhece.
As
ações do GDF servem de complemento ao plano lançado em dezembro pelo governo
federal, que prevê gasto de R$ 4 bilhões no combate ao crack em todo o País.
Brasília foi escolhida como responsável por presidir a comissão que definirá as
ações que nortearão o programa.
“A
expectativa é muito boa. Pela primeira vez estou vendo a vontade do governo
federal em trabalhar de forma integrada com os estados. Mas entendemos que só
com o envolvimento de toda a sociedade, juntamente com o poder público, é que
vamos ter um efeito”, conclui Ribeiro.
Fred Raposo
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