terça-feira, 18 de abril de 2017
MPE
investiga festas regadas a álcool feitas
por
alunos de escolas tradicionais.
SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual (MPE) montou uma
força-tarefa para investigar a organização de festas regadas a álcool feitas
por alunos do ensino médio de escolas tradicionais de São Paulo. Irregulares,
esses eventos não tinham alvará expedido pela Vara da Infância e Juventude,
obrigatório em situações que envolvem crianças e adolescentes sem
acompanhamento dos pais.
De acordo com o MPE, alunos participavam das comissões de
formatura do ensino médio ou vendiam ingressos nos colégios Marista Arquidiocesano,
Dante Alighieri, Santo Américo, Santa Marcelina, Santa Maria, Visconde de Porto
Seguro, Rio Branco, Vértice, Poliedro, Etapa, Bandeirantes, Móbile, Santa Cruz
e São Luís, que estão entre os mais caros da capital. As instituições – que não
são investigadas nos inquéritos – afirmam não ter conhecimento da realização
dos eventos.
O MPE quer ajuda das escolas para coibir esse tipo de festa
e identificar as empresas organizadoras. “É um trabalho de prevenção. Queremos
ouvir todos os alunos envolvidos, entender como essas festas são organizadas e
chegar às empresas responsáveis”, diz a promotora Luciana Bérgamo. “Sempre
abrimos inquéritos pontuais sobre festas, mas vamos aprofundar.”
Ao menos três festas que reuniriam estudantes de diferentes
escolas serão investigadas. A primeira, La Noche Fabriketa, teria ocorrido em
10 e 12 de setembro de 2016 na Fabriketa, no Brás, região central. O MPE
recebeu denúncia via Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada
ao Ministério da Justiça, que apontou que o evento, com mais de 500 pessoas,
não exigia a apresentação de documento e ofertava bebida alcoólica aos
estudantes. O promotor Eduardo Dias de Souza Ferreira instaurou um inquérito e
pediu que todos os colégios enviassem o nome dos alunos envolvidos nas
comissões. Nesta semana houve a primeira reunião conjunta de representantes das
unidades, alunos e promotores no MPE.
Mapeamento. Após La Noche Fabriketa, o MPE começou a mapear
outras festas organizadas pelos mesmos alunos e divulgadas nas redes sociais.
Uma delas, a Me Breja no Castelinho, de estudantes do Marista Arquidiocesano,
estava marcada para sábado, no Open Bar Club, em Pinheiros, zona oeste. Ao
saber do evento, Luciana acionou a Polícia Militar e, no mesmo dia, o evento
foi cancelado.
Outro evento, o Tropicália, organizado por alunos do Porto
Seguro, aconteceria no mesmo dia, na casa noturna Via Marquês, na Barra Funda,
zona oeste. Em ambos os casos, Luciana disse ter indícios de que haveria
participação de adolescentes e oferta de álcool. Não há informações se a festa
foi realizada.
O advogado da Fabriketa, Aldo Bonanitti, afirmou que o
espaço nunca foi sublocado para estudantes, apenas para outras empresas, que
ficam responsáveis pelas licenças. O proprietário do Open Bar Club, Renato
Martins, disse que a festa não estava confirmada e que uma empresa de eventos
apenas o procurou para pedir orçamento de locação. O Estado tentou falar com a
Via Marques, mas não obteve retorno ate as 23 horas. Em nota, o Centro de
Vigilância Sanitária do Estado informou que não tem conhecimento dos
inquéritos, mas que não viu irregularidades nos locais em inspeções anteriores.
Colégios afirmam desconhecer eventos citados em inquéritos
Procurados, os colégios afirmaram que não têm conhecimento
das festas que são alvo de inquéritos dos promotores.
O Marista Arquidiocesano disse que promove uma única
cerimônia com concluintes do ensino médio e que a conscientização sobre o
consumo de bebida alcoólica integra o currículo da escola. O Móbile reforçou
que “desaconselha os seus alunos a realizarem festas paralelas” e que realiza
os eventos de formatura em lugares apropriados.
O Vértice informou que só organiza cerimônias “com a
participação das famílias e convidados” e que “prima pela obediência da lei”. O
São Luís disse que “tem participado das reuniões do Ministério Público e apoia
iniciativas que reforçam a educação para o cumprimento da lei”. O Dante
Alighieri afirmou que os alunos e suas famílias “são informados, no início de
cada ano, de que o colégio não participa desse tipo de atividade, inclusive não
permitindo nenhuma reunião da comissão de formatura nas suas dependências”.
O Poliedro ressaltou que “oficialmente não existe comissão
de formatura” no colégio porque a escola “não apoia a organização de festas ou
bailes de formatura”. Disse também que “se disponibilizou a colaborar com o
MPE”. O Rio Branco destacou que o episódio “está fora da esfera da escola”, mas
que é “de extrema importância” a iniciativa do MPE, pois as festas são ilegais.
O Bandeirantes disse que “seus alunos não organizam festas
para arrecadar recursos para custear eventos de formatura”. O Santo Américo
destacou que não tinha conhecimento de festas que antecedem a formatura no
final do ano nem “nunca participou” de comissões organizadoras de festas.
O Etapa afirmou que apenas um aluno estaria apoiando a
comissão de formatura, mas de outro colégio. O Santa Maria disse que agendará
reunião com pais e alunos para prestar esclarecimentos “sobre as resoluções do
MP” e organizará debates sobre o uso de bebidas alcoólicas, “como medida
educativa”. O Santa Cruz e o Santa Marcelina não se posicionaram./ COLABORARAM
BRUNO RIBEIRO E PRISCILA MENGUE
www.simposioderecuperacao.com
Até
os 18 anos, qualquer substância psicotrópica pode comprometer a capacidade
cognitiva, segundo especialista.
Até o fim da adolescência, o ideal é não ter contato com
álcool
O uso de álcool pode atrapalhar o processo de formação do
sistema nervoso dos adolescentes, reduzindo sua capacidade cognitiva na vida
adulta, de acordo com a médica Zila Sanchez, pesquisadora do Centro Brasileiro
de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp).
“Até os 18 anos, todo o sistema nervoso central do
adolescente está em processo de formação e seu cérebro desenvolve novas
conexões entre os neurônios. Qualquer substância psicotrópica pode atrapalhar
essa formação, comprometendo a capacidade cognitiva da pessoa para o resto da
vida”, disse Zila ao Estado.
Segundo ela, até o fim da adolescência, o ideal é não ter
contato com álcool. “É um momento para evitar qualquer consumo. Para o
adolescente não existe o conceito de ‘beber um pouco’. Ele ainda não
desenvolveu tolerância e muitas vezes uma lata de cerveja já é suficiente para
a intoxicação alcoólica”, afirmou a médica.
Zila explica que, por questões cerebrais e hormonais, o
adolescente já tende a se expor a riscos. “Com o álcool, esse comportamento é
exacerbado e aumenta muito a chance de sexo inseguro, exposição ao abuso
sexual, agressão e violência.”
Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo
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