ESPECIALISTAS SUGEREM MUDANÇAS NO COMBATE AO
CRACK.
Zero Hora - por Marcelo Gonzatto
Médicos pedem mais tempo de internação e ampliação da rede
de apoio aos usuários.
Especialistas sugerem mudanças no combate ao crack Léo
Cardoso/Agencia RBS
Solon está em seu quinto tratamento para a dependência
química desde 2010 Foto: Léo Cardoso / Agencia RBS
Médicos ligados à luta contra o crack afirmam que os
elevados índices de recaída e reinternação apontados por uma pesquisa gaúcha —
quase 90% dos jovens voltam a fumar a pedra três meses após receber alta —
reforçam a necessidade de aprimorar o método de tratamento no país.
Segundo especialistas, o sistema público ainda oferece
poucos leitos, períodos curtos de internação e não consegue acompanhar o usuário
após a alta para prevenir ou reverter eventuais recaídas. Um dos principais
problemas, para o psiquiatra e ex-diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro
Luiz Carlos Illafont Coronel são as "altas precoces" dos dependentes
— geralmente, o período de internação autorizado pelo SUS é inferior a um mês.
— Na Inglaterra, se preveem internações de 30 a 90 dias para
depressão grave, o que poderia servir como um parâmetro. Mas o ideal é que o
prazo dependesse apenas da condição do paciente. O que se faz hoje é absurdo —
afirma o psiquiatra.
Coronel afirma que, segundo levantamentos realizados no
país, ao redor de um terço das mortes de usuários de crack são motivadas por
altas antecipadas — por razões de saúde ou causas indiretas como envolvimento
com a criminalidade ou traficantes. Outra dificuldade é a falta de leitos
psiquiátricos — que já chegaram perto de 200 mil no país e hoje estão em 32
mil. Segundo um relatório elaborado por sete entidades médicas, o Estado perdeu
36,7% dos leitos de psiquiatria entre 1993 e 2013.
Em consequência, dependentes como o trabalhador autônomo
Solon Santos da Silva Filho, 37 anos, recorrem a sucessivas internações e lidam
com uma frequente falta de vagas. Ele está em seu quinto tratamento desde 2010:
já passou por três internações em clínicas pelo SUS e está na segunda temporada
em uma comunidade terapêutica — a Acolher, de Gravataí. Nas clínicas, conseguiu
ficar no máximo um mês, o que considera "muito pouco". Também
precisou superar obstáculos para garantir leito:
— Na minha segunda internação, tive de recorrer a uma ordem
judicial para conseguir vaga. Mesmo assim, não adiantou e recaí. Agora, já
estou há oito meses e 10 dias na comunidade terapêutica — conta.
O presidente da Associação de Psiquiatria do Estado e
conselheiro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas
(Abead), Carlos Salgado, afirma que é necessário investir em ações como
medicina comunitária, que permita acompanhar o dependente fora do hospital,
aumentar a oferta de leitos psiquiátricos e aprimorar o treinamento dos
profissionais de saúde para lidar melhor com a epidemia da droga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário