O CRACK E O
GELO.
Agora que
alguns meses já nos separam das manifestações de junho de 2013, é possível
vermos os fatos com um pouco mais de clareza e observar que a única atitude
concreta do Governo Dilma Rousseff em resposta às reivindicações do povo foi o
programa Mais Médicos. E qual o balanço atual da iniciativa? O recente apelo
por asilo e a desistência de dezenas de médicos do programa, antes mesmo de
completar um ano de existência.
São
profissionais que podem ser chamados de médicos em Cuba, mas não no Brasil, já
que seus diplomas não foram reconhecidos, em mais uma artimanha promovida pelo
governo com a finalidade de viabilizar seu projeto.
Será que é
isso que a nação esperava quando centenas de milhares de pessoas ganharam as
ruas das maiores cidades do país? E a qualidade do atendimento nas cidades
“beneficiadas” pelo programa? O Mais Médicos é um bom exemplo da política de
saúde federal: um programa confuso, ineficiente, desastroso, em suma,
natimorto.
Enquanto as
autoridades importam médicos, uma verdadeira tragédia social se agiganta a cada
dia debaixo do nariz do Governo: o uso do crack cresce diariamente. O que antes
era restrito às grandes cidades, espalha-se para os municípios de médio e
pequeno portes. Pesquisa recente da Universidade Federal de São Paulo calcula
em 2,8 milhões de usuários de crack em todo o Brasil. Este número dobra a cada
dois anos.
O ministro
José Eduardo Cardozo afirmou que o programa foi o segundo em verbas destinadas
pelo Ministério da Justiça. No mínimo, esta declaração é constrangedora quando
sabe-se que, dos R$ 4 bilhões prometidos para a luta contra o crack,
insuficientes R$ 368 milhões foram de fato empregados.
O site do
ministério orgulha-se ao afirmar que cabe aos municípios apresentar um plano de
ação local, via internet, entre outras etapas burocráticas para contar com
apoio federal. Será que é isso que impedirá que novos três milhões de usuários
de crack ganhem as ruas brasileiras até 2016? Ainda que a autoridade municipal
ultrapasse estas barreiras, quem a orientará? Que formação têm os bem
intencionados funcionários municipais para sugerirem tais ações?
Preocupada
com o apagão de energia elétrica, a política míope da presidente não lhe permite
enxergar o grave apagão da saúde, especialmente a psiquiátrica. Não há sistema
ambulatorial que ofereça consultas, não há medicamentos, não há nada. Em vez de
fechar hospitais psiquiátricos, o governo deveria qualificá-los e readequá-los.
A Associação
Brasileira de Psiquiatria defende um sistema em rede, com atendimento primário,
secundário e terciário, como prevê, no papel, a atual política de saúde mental
do Ministério da Saúde. A associação já se prontificou a ajudar o governo
federal, oferecendo consultoria gratuita. Até agora, nada. As autoridades devem
saber o que estão fazendo. A única conclusão possível é que o Brasil continua
enxugando gelo quando o assunto é o combate ao crack e a assistência aos seus
dependentes.
Leia mais
sobre esse assunto em
http://oglobo.globo.com/opiniao/o-crack-o-gelo-12100055#ixzz2yFVhGDdz
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