quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014


“AÇÃO NA CRACOLÂNDIA É BALÃO DE ENSAIO SOCIAL DA PREFEITURA DE SP”.
Blog Jovem Pan
Por Izilda Alves
“ Sem a desintoxicação no tratamento da dependência de drogas, estamos predispondo estas pessoas a manterem o uso da droga com os respectivos agravos à sua saúde física e mental”, alerta o psiquiatra Antonio Carlos Cabral,que tem 20 anos de experiência no tratamento de dependentes e é diretor do Hospital Lacan, referência na rede pública de saúde, ao avaliar o programa “De Braços Abertos “ da Prefeitura de São Paulo com 400 dependentes de crack da região da Luz, no centro de São Paulo. Em artigo para a Campanha, escreve o Dr. Antonio Carlos Cabral:
“Quando estamos diante de casos graves, como os vistos na cracolândia, devemos iniciar o tratamento com a interrupção do uso da droga. A isto se dá o nome de desintoxicação que dura em torno de 21 dias. Neste período, o paciente será submetido à avaliação clínica para tratar sua desnutrição, quadro de doenças infecto-contagiosas como HIV, sífilis e tuberculose além de receber tratamento para síndrome de abstinência e quadros psiquiátricos associados. Sem esta abordagem inicial nesta população de dependentes químicos graves, estamos fadados a manter o uso da droga e a perpetuação deste quadro.O programa da Prefeitura de São Paulo não contempla esta abordagem o que considero uma deficiência no tratamento destes pacientes. Opta por mecanismos de reinserção social no início, o que a meu ver são necessários no seu tempo apropriado.
Trata-se de uma iniciativa louvável como forma de reinserção social, melhora da auto-estima, valorização social do dependente químico, mas estamos falando de dependência química, que consiste numa doença neuro-psico-emocional . Alterando o funcionamento cerebral, drogas como o crack levam a uma alteração de comportamento com implicações médicas, sociais e econômicas. Para qualquer doença faz-se necessário, em primeiro lugar o diagnóstico correto. Para tanto, além dos sinais e sintomas característicos de uma classificação entre leve, moderada e grave existe para gerenciar e oferecer as ferramentas corretas para tratar cada caso. Aqui está a base da rede hierarquizada: casos leves necessitam de uma atenção diferente dos casos graves.
Não basta se inspirar em modelos de outros países. Temos que unir esforços sabidamente reconhecidos como válidos tecnicamente em eficiência e eficácia no tratamento da Dependência Química em prol dos pacientes. O modelo integrado de tratamento necessita de desintoxicação em algum momento do tratamento. Caso contrário, estaremos realizando um balão de ensaio social. O preço a ser pago é a manutenção destas pessoas incapacitadas em dar um rumo diferente a suas vidas. E nós profissionais de saúde assistimos a tudo isto com desalento pois sabemos que podemos fazer mais e melhor. Só precisamos desatar os nós da incompreensão ideológica e aplicar o conhecimento técnico-científico que já possuímos nesta população.”
O HOSPITAL LACAN É PARCEIRO DE JOVEM PAN PELA VIDA, CONTRA AS DROGAS
Izilda Alves é jornalista e coordenadora da Campanha Jovem Pan pela vida contra as drogas

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