“AÇÃO NA CRACOLÂNDIA É BALÃO DE ENSAIO SOCIAL DA PREFEITURA DE SP”.
Blog Jovem Pan
Por Izilda Alves
“ Sem
a desintoxicação no tratamento da dependência de drogas, estamos predispondo
estas pessoas a manterem o uso da droga com os respectivos agravos à sua saúde
física e mental”, alerta o psiquiatra Antonio Carlos Cabral,que tem 20 anos de
experiência no tratamento de dependentes e é diretor do Hospital Lacan,
referência na rede pública de saúde, ao avaliar o programa “De Braços Abertos “
da Prefeitura de São Paulo com 400 dependentes de crack da região da Luz, no
centro de São Paulo. Em artigo para a Campanha, escreve o Dr. Antonio Carlos
Cabral:
“Quando
estamos diante de casos graves, como os vistos na cracolândia, devemos iniciar
o tratamento com a interrupção do uso da droga. A isto se dá o nome de
desintoxicação que dura em torno de 21 dias. Neste período, o paciente será
submetido à avaliação clínica para tratar sua desnutrição, quadro de doenças
infecto-contagiosas como HIV, sífilis e tuberculose além de receber tratamento
para síndrome de abstinência e quadros psiquiátricos associados. Sem esta abordagem
inicial nesta população de dependentes químicos graves, estamos fadados a
manter o uso da droga e a perpetuação deste quadro.O programa da Prefeitura de
São Paulo não contempla esta abordagem o que considero uma deficiência no
tratamento destes pacientes. Opta por mecanismos de reinserção social no
início, o que a meu ver são necessários no seu tempo apropriado.
Trata-se
de uma iniciativa louvável como forma de reinserção social, melhora da
auto-estima, valorização social do dependente químico, mas estamos falando de
dependência química, que consiste numa doença neuro-psico-emocional . Alterando
o funcionamento cerebral, drogas como o crack levam a uma alteração de
comportamento com implicações médicas, sociais e econômicas. Para qualquer
doença faz-se necessário, em primeiro lugar o diagnóstico correto. Para tanto,
além dos sinais e sintomas característicos de uma classificação entre leve,
moderada e grave existe para gerenciar e oferecer as ferramentas corretas para
tratar cada caso. Aqui está a base da rede hierarquizada: casos leves
necessitam de uma atenção diferente dos casos graves.
Não
basta se inspirar em modelos de outros países. Temos que unir esforços
sabidamente reconhecidos como válidos tecnicamente em eficiência e eficácia no
tratamento da Dependência Química em prol dos pacientes. O modelo
integrado de tratamento necessita de desintoxicação em algum momento do
tratamento. Caso contrário, estaremos realizando um balão de ensaio social. O
preço a ser pago é a manutenção destas pessoas incapacitadas em dar um rumo
diferente a suas vidas. E nós profissionais de saúde assistimos a tudo isto com
desalento pois sabemos que podemos fazer mais e melhor. Só precisamos desatar
os nós da incompreensão ideológica e aplicar o conhecimento técnico-científico
que já possuímos nesta população.”
O
HOSPITAL LACAN É PARCEIRO DE JOVEM PAN PELA VIDA, CONTRA AS DROGAS
Izilda
Alves é jornalista e coordenadora da Campanha Jovem Pan pela vida contra as
drogas
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