domingo, 19 de janeiro de 2014



CRATOD – RUMO À RECUPERAÇÃO.
Janeiro de 2013 foi bastante movimentado, foram inúmeras as discussões sobre a internação compulsória (contra a vontade do dependente, determinada pela justiça, sob orientação médica adequada, atestando que o usuário perdeu o domínio sobre sua saúde).
 A implantação do Plantão Judiciário no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), em São Paulo causou muita polêmica, a mídia, esse poderoso instrumento, divulgou centenas de notícias sobre o início das internações compulsórias e hoje após um ano dessa união com o judiciário podemos destacar o sucesso do programa.
A Justiça brasileira passou por um momento de mudança, com ação conjunta entre o Judiciário e Saúde.
Parabenizo todos os profissionais envolvidos na assistência Jurídica presentes ao Cratod, para o atendimento aos dependentes químicos, implantado pela Secretaria Estadual da Justiça e da Cidadania, em parceria com a OAB-SP.
Ao longo de 2013 muitas famílias e dependentes químicos foram ao Cratod em busca de ajuda na recuperação e/ ou internação, espontânea ou compulsória.
Por falta de informação, muitos imaginavam que o Cratod era um local apenas de internação, mas, a bem da verdade, o Cratod é um local de acolhimento, um acolhimento verdadeiro e a partir daí acontece os encaminhamentos ambulatorial e se necessário, internação.
Quando o nosso familiar entra para esse acolhimento a sensação que se sente é como se fosse o último dia do ano, como se estivéssemos aguardando a chegada do novo ciclo, com esperanças de que tudo vai mudar, “ANO NOVO, VIDA NOVA”, é exatamente isso que sentimos. Achamos que com a internação nossos problemas serão resolvidos, é um momento de angústia, desespero, porém com fé no recomeço, mas nem todos necessitam de uma internação, trazendo frustração para os familiares.
Estar ali pedindo ajuda é um dos momentos mais difíceis, porque sente-se vergonha, medo, entre eles de que o dependente não vai aguardar sequer seu atendimento, dado o grau de sua necessidade. Como psicóloga senti vontade de mudar os protocolos e também acolher, mas naquele instante eu também necessitava de atenção e acolhimento, talvez eu conheça um pouco melhor a maneira de como o crack destrói o usuário e seu familiar, mas o meu sofrimento era parecido com os demais ali presentes.
Por isso a atenção que recebemos naquele instante é especial, nos sentimos protegidos. 
Quando iniciei meus estudos na área da psicologia, jamais imaginei que poderia ter uma pessoa da família envolvida nesse sério problema, mas sempre há uma compensação, pois assim tive a oportunidade de conhecer a grande importância e validade desse Centro de Referência, em beneficio de uma grande parcela da população outrora esquecida pelos governantes.
O que vi no Cratod?
Lágrimas e mais lágrimas, sim, vi muitos familiares chorando copiosamente, por exemplo, mães abraçando seus filhos com emoção, a esperança renascendo, vi filhos pedindo perdão e o mais emocionante um ente querido reconhecer que precisa de ajuda e agradecer por sua família estar lhe fazendo companhia nesse momento delicado de sua vida.
A Secretária Dra. Eloisa Arruda disse em uma entrevista sobre o projeto no Cratod: “é um projeto de resgate de pessoas e é um projeto de apoio a família”. Sábias palavras, esse projeto resgatou meu ente querido e apoiou a minha família num momento de desespero e que mais necessitávamos de ajuda, de uma mão amiga.
Sou psicóloga especialista em dependência química, embora tenha me dedicado á especialização nessa área muito antes de tomar conhecimento da doença de um parente tão próximo, pois a intenção era colaborar de modo geral. O crack também entrou na minha família e como muitos eu também senti pavor, medo, mas, fui em busca de ajuda, pois tinha certeza que lá no Cratod, encontraria.
Preciso destacar que eu consegui uma internação para o meu familiar. Ele passou por um processo de desintoxicação por 25 dias e em seguida consegui interná-lo em uma Comunidade Terapêutica por 06 meses, para minha surpresa ele ficou 04 meses e conseguiu um emprego e está refazendo a sua vida na cidade da Comunidade Terapêutica, ele não deseja voltar para SP, é sincero e diz que aqui é muito mais difícil continuar sua recuperação.
Hoje ele faz planos, alguns simples, mas importantíssimos, o que aprendeu durante o tempo que ficou internado, é que é um portador de uma doença crônica, sem cura, ele entendeu que necessitava desse tratamento, hoje tem conhecimento de que pode conviver bem, sempre em constante recuperação.
Não posso deixar de citar, também, o Programa Recomeço que atua na recuperação do dependente, sob a responsabilidade do Dr. Ronaldo Laranjeira, profissional pelo qual tenho muita admiração e respeito.
São esses Programas que nos dão esperanças e forças para continuar, acreditando na saúde e na recuperação.
No caso do meu familiar não foi necessário à internação compulsória, porém vejo como medida de segurança esse tipo de internação, trazendo a possibilidade de tirar os dependentes químicos da situação de risco, acreditando ainda ser a alternativa mais correta e segura, a meu ver.
Sou grata ao Cratod esse importante Órgão que atualmente é dirigido pelo excelente profissional Dr. Marcelo Ribeiro médico psiquiatra, tive a oportunidade de conhecer o Dr. Marcelo em 2012 e sei de como ele é sério, competente e dedicado.
Adriana Moraes – Psicóloga Especialista em Dependência Química GREA/USP.

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