CRATOD – RUMO À RECUPERAÇÃO.
Janeiro de 2013 foi bastante
movimentado, foram inúmeras as discussões sobre a internação compulsória
(contra a vontade do dependente, determinada pela justiça, sob orientação
médica adequada, atestando que o usuário perdeu o domínio sobre sua saúde).
A
implantação do Plantão Judiciário no Cratod (Centro de Referência de
Álcool, Tabaco e Outras Drogas), em São Paulo causou muita polêmica, a
mídia, esse poderoso instrumento, divulgou centenas de notícias sobre o início
das internações compulsórias e hoje após um ano dessa união com o judiciário
podemos destacar o sucesso do programa.
A
Justiça brasileira passou por um momento de mudança, com ação conjunta
entre o Judiciário e Saúde.
Parabenizo
todos os profissionais envolvidos na assistência Jurídica presentes ao
Cratod, para o atendimento aos dependentes químicos, implantado pela Secretaria
Estadual da Justiça e da Cidadania, em parceria com a OAB-SP.
Ao
longo de 2013 muitas famílias e dependentes químicos foram ao Cratod em busca
de ajuda na recuperação e/ ou internação, espontânea ou compulsória.
Por
falta de informação, muitos imaginavam que o Cratod era um local apenas de
internação, mas, a bem da verdade, o Cratod é um local de acolhimento, um
acolhimento verdadeiro e a partir daí acontece os encaminhamentos ambulatorial
e se necessário, internação.
Quando
o nosso familiar entra para esse acolhimento a sensação que se sente é como se
fosse o último dia do ano, como se estivéssemos aguardando a chegada do
novo ciclo, com esperanças de que tudo vai mudar, “ANO NOVO, VIDA
NOVA”, é exatamente isso que sentimos. Achamos que com a internação nossos
problemas serão resolvidos, é um momento de angústia, desespero, porém
com fé no recomeço, mas nem todos necessitam de uma internação,
trazendo frustração para os familiares.
Estar
ali pedindo ajuda é um dos momentos mais difíceis, porque sente-se vergonha,
medo, entre eles de que o dependente não vai aguardar sequer seu
atendimento, dado o grau de sua necessidade. Como psicóloga senti vontade de
mudar os protocolos e também acolher, mas naquele instante eu também
necessitava de atenção e acolhimento, talvez eu conheça um pouco melhor a
maneira de como o crack destrói o usuário e seu familiar, mas o meu sofrimento
era parecido com os demais ali presentes.
Por
isso a atenção que recebemos naquele instante é especial, nos sentimos
protegidos.
Quando
iniciei meus estudos na área da psicologia, jamais imaginei que poderia ter uma
pessoa da família envolvida nesse sério problema, mas sempre há uma
compensação, pois assim tive a oportunidade de conhecer a grande importância e
validade desse Centro de Referência, em beneficio de uma grande parcela da
população outrora esquecida pelos governantes.
O que
vi no Cratod?
Lágrimas
e mais lágrimas, sim, vi muitos familiares chorando copiosamente, por exemplo,
mães abraçando seus filhos com emoção, a esperança renascendo, vi filhos
pedindo perdão e o mais emocionante um ente querido reconhecer que precisa de
ajuda e agradecer por sua família estar lhe fazendo companhia nesse momento delicado
de sua vida.
A
Secretária Dra. Eloisa Arruda disse em uma entrevista sobre o projeto no
Cratod: “é um projeto de resgate de pessoas e é um projeto de apoio a família”.
Sábias palavras, esse projeto resgatou meu ente querido e apoiou a minha
família num momento de desespero e que mais necessitávamos de ajuda, de uma mão
amiga.
Sou
psicóloga especialista em dependência química, embora tenha me dedicado á
especialização nessa área muito antes de tomar conhecimento da doença de um
parente tão próximo, pois a intenção era colaborar de modo geral. O crack
também entrou na minha família e como muitos eu também senti pavor, medo, mas,
fui em busca de ajuda, pois tinha certeza que lá no Cratod, encontraria.
Preciso
destacar que eu consegui uma internação para o meu familiar. Ele passou por um
processo de desintoxicação por 25 dias e em seguida consegui interná-lo em uma
Comunidade Terapêutica por 06 meses, para minha surpresa ele ficou 04 meses e
conseguiu um emprego e está refazendo a sua vida na cidade da Comunidade
Terapêutica, ele não deseja voltar para SP, é sincero e diz que aqui é muito
mais difícil continuar sua recuperação.
Hoje
ele faz planos, alguns simples, mas importantíssimos, o que aprendeu durante o
tempo que ficou internado, é que é um portador de uma doença crônica, sem
cura, ele entendeu que necessitava desse tratamento, hoje tem conhecimento
de que pode conviver bem, sempre em constante recuperação.
Não
posso deixar de citar, também, o Programa Recomeço que atua na recuperação do
dependente, sob a responsabilidade do Dr. Ronaldo Laranjeira, profissional pelo
qual tenho muita admiração e respeito.
São
esses Programas que nos dão esperanças e forças para continuar,
acreditando na saúde e na recuperação.
No caso
do meu familiar não foi necessário à internação compulsória, porém vejo
como medida de segurança esse tipo de internação, trazendo a possibilidade
de tirar os dependentes químicos da situação de risco, acreditando
ainda ser a alternativa mais correta e segura, a meu ver.
Sou
grata ao Cratod esse importante Órgão que atualmente é dirigido pelo excelente
profissional Dr. Marcelo Ribeiro médico psiquiatra, tive a oportunidade de
conhecer o Dr. Marcelo em 2012 e sei de como ele é sério, competente e
dedicado.
Adriana
Moraes – Psicóloga Especialista em Dependência Química GREA/USP.
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