quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A chaga do crack e a lambança dos governos


   
       
        O objetivo declarado dos higienistas radicais era espantar os traficantes para provocar "dor e sofrimento" na legião de deserdados, imaginando que assim eles trocariam gentilmente o crack por ajuda social.
        Resultado: 41 prisões em seis dias, nenhum drogado encaminhado para clínicas de tratamento, autoridades batendo cabeça e a chaga se espalhando por vários bairros vizinhos ao centro, assustando os moradores e obrigando o comércio a fechar as portas mais cedo.
        Trata-se de um problema social tão grave, e bem no coração de São Paulo, que exigiria a ação combinada dos governos municipal, estadual e federal, com médicos, assistentes sociais e agentes do Judiciário, mas nenhuma autoridade do primeiro escalão sabia que a Operação Cracolândia seria desencadeada na semana passada.
        Alckmin, governador do Estado pela terceira vez; Kassab, que está na Prefeitura desde 2004 (primeiro como vice), e o comandante geral da PM, Álvaro Camilo, não foram informados. Desde a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff vinha falando da necessidade de se unir esforços para enfrentar o problema do crack em São Paulo, mas o Ministério da Saúde ainda nem entrou na história.
        Não havia nenhum esquema preparado para encaminhar os drogados. Desde o final de outubro, sob o comando do governador e do prefeito, representantes das áreas de Segurança Pública, Assistência Social e Saúde nas áreas municipal e estadual vinham planejando uma ação para a Cracolândia, que deveria ser desencadeada somente em fevereiro, após a inauguração de um centro de atendimento com 1.200 vagas no Bom Retiro.
        Em maio, haverá troca no Comando-Geral da PM e, em outubro, teremos eleições municipais. Espera-se que estas duas disputas não estejam na origem da lambança da semana passada e que vidas humanas já destroçadas não sejam alvo da conquista de votos ou de poder.
        Ainda é tempo para que representantes dos três níveis de governo se entendam e se unam para montar uma força-tarefa capaz de salvar estas vidas e o que ainda resta de dignidade na selva de crack, concreto e hipocrisia paulistana.
        Se não formos capazes de tratar humanamente de 400 drogados, para que servem os governos que elegemos e os impostos que pagamos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário